Enquanto a esquerda identitária grita e esbraveja chamando de apropriação cultural quando um branco usa um turbante ou resolve fazer um penteado rastafari, a burguesia promove com pompa e tranquilidade a verdadeira apropriação cultural.
Herdeiro da família Safra, sobrinho de Joseph Safra, Jacqui Safra é o atual proprietário da Bíblia mais antiga do mundo, um inquestionável patrimônio da humanidade enclausurado em mãos particulares. O documento histórico foi escrito há mais de 1100 anos, na Palestina, por um escriba que copiou à mão em 400 grandes folhas de um pergaminho o texto da Bíblia Hebraica. O livro, que desde 1929 pertence a colecionadores particulares, chegou a ficar perdido por mais de 600 anos e foi reencontrado por volta dos séculos XIII e XIV em uma sinagoga na Síria.
O documento, agora, foi colocado pelo proprietário para ser leiolado em uma casa de leilões em Nova York e terá um valor de lance estimado em mais de 50 milhões de dólares. Ao se deparar com o objeto, a consultora sênior de itens judaicos, Sharon Lieberman Mintz, declarou “Isso representa a primeira vez que o texto aparece de forma em que podemos realmente lê-lo e entendê-lo.”
A Bíblia, que também é conhecida como Codex Sasson, é o exemplo mais antigo de um código hebraico quase completo, incluindo quase todos os 24 livros da Bíblia Hebraica. Além do documento de propriedade do sobrinho de Safra, existem no mundo apenas duas bíblias tão completas como aquela , o Aleppo Codex datado por volta de 930 e localizado no Museu de Israel, menos completo que o encontrado nas mãos de Safra, com perda de perto de dois quintos de suas páginas; e o Códice de Leningrado, localizado na Biblioteca Nacional da Rússia, em São Petersburgo, datado de 1108, esse sim totalmente completo.
A apropriação de documentos históricos e obras de artes nas mãos de colecionadores particulares é bastante comum. Obras como ” Medusa”, de Caravaggio, e “O filho do homem”, do pintor francês René Magritte, são alguns exemplos de obras que atualmente se encontram em acervos de particulares.
Executivos, grandes empresários, pessoas como o próprio Safra, ou até mesmo os irmãos Marinho, donos da Rede Globo, e que possuem em sua coleção obras de arte de Portinari, Tarsila do Amaral, dentre outros grandes artistas, esses “apreciadores” da arte e da história são os verdadeiros apropriadores culturais que