Jorge Beltrão era filho de imigrantes portugueses, descrito como um homem culto, de rico vocabulário, que estudou nas melhores escolas e viveu boa parte da infância em Portugal. Beltrão se formou em Educação Física e trabalhava como professor de karatê em Olinda. Apesar da vida aparentemente confortável, ele era diagnosticado com esquizofrenia paranoica e teve diversas internações psiquiátricas, todas por um período curto demais para surtir efeito no tratamento. Ele se casou com Isabel Cristina da Silveira, uma mulher que não concluiu os estudos e trabalhava como doméstica e fazendo bicos para ajudar nas despesas da casa. Eles se conheceram na igreja, e Isabel viu em Jorge uma oportunidade de mudar de vida, mas logo no grande dia do casamento as coisas já não iam como o planejado: Jorge teve um surto e com uma faca ameaçou matar todos os convidados ali presentes. Apesar disso, a mulher perdoou o marido e o casamento seguiu. Daí em diante, ela passou a vender empadas e coxinhas para complementar a renda da casa.
Anos depois, uma nova personagem surge: Jessica Camila conheceu Jorge quando eles tinham respectivamente 16 e 42 anos em uma academia em que ele era seu professor de karatê. Os dois acabaram se aproximando e se apaixonando, mas o homem não queria se separar de sua esposa, então, convidou a menina para ser sua amante e ela aceitou. Com o tempo, Isabel acabou descobrindo, mas Jorge a convenceu a se conformar com esse relacionamento extraconjugal. Apesar da diferença de idade, eles namoraram por alguns anos, e quando Jorge e Isabel decidem se mudar de cidade, a adolescente foge de casa e passa a viver com eles, supostamente engravidando meses depois.
Com a união dos três surge uma seita chamada “O Cartel”, que tinha o objetivo de purificar a humanidade por meio do assassinato de mulheres que tinham filhos, mas eram incapazes de sustentá-los, pois segundo eles “elas deveriam ser exterminadas por trazerem ao mundo uma criança sabendo que ela iria sofrer, para que assim elas tivessem sua alma purificada antes que a passagem fosse feita” Jorge dizia que as entidades que ele conversava autorizavam os sacrifícios
Em fevereiro de 2012, Isabel abordou uma mulher chamada Giselly oferecendo uma vaga de emprego como babá, e ela aceitou. Dias depois ela foi para a casa da mulher, de onde nunca mais saiu. Três semanas depois a história se repetiu com outra vítima, chamada Alexandra.
A família da última vítima estava desesperada por informações e se assustou ao receber a fatura do cartão de Alexandra com movimentações feitas depois do dia do desaparecimento. A polícia foi notificada e através de imagens de câmeras de segurança de uma das lojas onde as compras foram feitas Jorge e Jéssica foram identificados e presos. Detidos, eles deram algumas desculpas para justificar estarem portando o cartão de crédito de uma desaparecida, dizendo que encontraram na rua, mas não foram soltos.
Foi o testemunho da filha do casal, que agora já tinha 5 anos que mudou o rumo do julgamento: “Meu pai enterra pessoas aqui no quintal”. Aa autoridades rapidamente conseguiram um mandato e começaram a escavar o quintal da casa, encontrando os corpos das duas vítimas. Isabel também foi presa e a criança mandada a um centro de assistência social.
Durante as buscas na casa foram encontrados diários, desenhos, fitas cassete e livros a respeito da religião que a seita cultuava. Um dos livros era de autoria de Jorge e era intitulado “Revelações de um Esquizofrênico”. A maior parte dos capítulos descreviam alucinações: “Estava vindo da casa de Bel, uma namorada [trata-se de Isabel, sua futura esposa]: como o bairro que ela morava era distante do meu, eu ia e vinha de bicicleta. Uma noite eu saí de lá mais tarde que de costume. No caminho de volta, as ruas estavam desertas, quando percebi eu não estava só, pois me acompanhando havia uma mulher, ela era linda, porém exótica, o que me deixou assustado foi o fato que ela estava completamente imóvel e pairando acima de mim. Quando eu cheguei na calçada que fica em frente da minha residência, ela simplesmente desapareceu. Em casa eu não parei de pensar nela, ainda tentei ver pela janela se ela estava lá, e não consegui vê-la. Tomei banho, fiz um lanche e me deitei um pouco para descansar, quando me levantei para escovar os dentes, vi os seus lindos e pequenos pés refletidos no vidro da janela. Ao me aproximar não consegui ver mais nada, só senti o seu perfume. Passei a noite inteira sem dormir, e o aroma suave do seu corpo só deixei de sentir nos primeiros raios do sol.” — CAPÍTULO V: A MULHER PAIRANDO
Jorge disse em julgamento que as vítimas passaram por um ritual de purificação que envolvia canibalismo e que ele era o “anjo julgador” que dava a elas a chance de se arrepender pelos seus pecados e o direito de entrar nos reinos dos céus. Isabel confessou que além de usar a carne das mulheres para consumo próprio, ela usou para rechear as empadas que fazia para vender.
Quando essas informações vieram à tona a população ficou perturbada com a possibilidade de ter consumido carne humana e a reação que isso poderia causar no organismo. Revoltados, alguns grupos de pessoas foram até a casa em que eles moravam para quebrar objetos e atear fogo.
Com as fotos circulando por toda a internet, uma família entrou em contato com a polícia afirmando ter reconhecido Jéssica e disseram que seu verdadeiro nome era Bruna Cristina Oliveira da Silva e estava desaparecida desde 2008. A verdadeira Jéssica era uma menina que em 2008 tinha 17 anos, uma filha de 2 anos e vendia doces nos sinais de Olinda, foi abordada por Isabel oferecendo um emprego e morta pelo trio, tendo seu corpo ocultado na estrutura de uma casa em construção, dentro de pisos e paredes. Assim foi descoberta a real primeira vítima da seita.
A filha da verdadeira Jéssica testemunhou tudo e acabou sendo adotada pela família, se tornando a criança que anos depois delatou os criminosos (na realidade, Bruna nunca havia engravidado, aquela era a filha da vítima). Bruna era fisicamente parecida com a mulher, então tomou para si os documentos dela e assumiu a identidade de mãe da criança. Ela também falsificou registros de nascimento da menina para que Jorge fosse registrado como pai e só depois disso eles se mudaram para Garanhuns.
Ao fim do julgamento eles foram condenados pelos crimes de sequestro, canibalismo, duplo homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, falsificação de documentos e falsidade ideológica, Jorge foi condenado a 23 anos de prisão e as mulheres a 20 anos. Em um novo julgamento anos depois, eles foram condenados a aproximadamente 70 anos de prisão, tendo que cumprir a pena máxima de 30 anos no Brasil.