A palavra mestre, quando usada para descrever uma personalidade artística, conota alto valor à obra e ao seu idealizador, posicionando este último no topo em relação aos demais da sua área. Esse é o caso de Alfredo da Rocha Vianna Filho, que nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, e se consagrou na música brasileira como Pixinguinha.
Ainda pequeno, sob o incentivo dos pais e dos treze irmãos, Pixinguinha teve a experiência de participar de festas em sua residência que contavam com a presença de personalidades como Vila Lobos e Bonfiglio de Oliveira, este último eleito o melhor trompetista do mundo pela crítica europeia. Forjado em um ambiente festivo, musical e acolhedor, Pixinguinha cresceu compartilhando experiências musicais com seus irmãos e moradores da “pensão Vianna”, como era conhecida sua casa. Um dos hóspedes, o flautista Irineu de Almeida passou seus conhecimentos para o ainda jovem Pixinguinha. O flautista não imaginava que estava ajudando a construir uma das grandes referências da nossa música.
Em sua trajetória, tocou em bares, cabarés, navios e cassinos e fez seu nome nas noites da Lapa. Comandou o grupo os Oito Batutas, do qual eram integrantes nomes como Donga, Nelson Alves e China, seu irmão e melhor amigo. Foi regente de orquestras de 1925 a 1937, musicou filmes e peças teatrais e foi intitulado o primeiro orquestrador da Música Popular Brasileira. Vale destacar que só em 1933 Pixinguinha foi diplomado em um curso de música.
A genialidade de Pixinguinha aparecia nas suas músicas extremamente elaboradas, na simplicidade com que cantava o amor, a vida e nas características que atribuiu ao primeiro gênero musical brasileiro: o choro. Os questionamentos e polêmicas que surgiam no Brasil a cada incursão de sucesso na Europa fundavam-se em preconceito de cor e origem do maestro e dos demais componentes do grupo Os Oito Batutas. Mas, em nada abatia a reconhecida capacidade que ele tinha de brincar e embelezar combinações de notas musicais para fazer verdadeiros hinos nacionais, como Carinhoso e Rosa.
Cantor, compositor, músico e regente, a importância de Pixinguinha na Música Popular Brasileira é essencial. Ele extraiu dela cotidianos, lições de vida e fatos corriqueiros, como as 20 composições que fez quando estava hospitalizado devido a um infarto. Preto, pobre e marcado no rosto pela varíola, Pixinguinha representa o não limite da genialidade que habita esse país e da fonte inesgotável de obras musicais que temos e continuamos a produzir. Sua morte em 1974 o lançou na eterna galeria dos grandes músicos brasileiros. Sua obra continua “chorando” no Brasil e no mundo.