Quando o Flamengo foi eliminado pelo saudita Al Hilal nas semifinais do Mundial de Clubes da FIFA na terça-feira, 7, não faltaram comentaristas “entendidos” proclamando a “decadência” do futebol brasileiro. Na edição de quarta, publicamos um artigo neste Diário desmentido essa campanha (pura propaganda política).
Um dos argumentos apresentados é que os clubes brasileiros continuam no topo do futebol mundial mesmo com a evasão de seus melhores jogadores para os ricos clubes europeus. Aliás, destacando que o Brasil (seus jogadores) é o país que mais marcou na principal competição europeia, a Liga dos Campeões (Champions League). A conclusão óbvia é que os ricos clubes europeus não seriam nada não fosse o poder econômico de contratar os melhores jogadores do mundo — uma condição imposta pelo imperialismo e piorada no futebol a partir do neoliberalismo, na década de 1980.
É com base nisso que devemos analisar o jogo de Real Madrid x Al Ahly, do Egito. O Real Madrid, em grande medida, não pratica um futebol “europeu”. É apenas um clube europeu rico e, por isso, consegue espoliar os países do mundo de seus melhores jogadores. E o Al Ahly, clube de um país oprimido, também não conta com os melhores jogadores do Egito — como Mohamed Salah, do Liverpool.
O time da Espanha venceu a partida por 4 × 1. Quem não viu o jogo acredita que foi um “baile” do clube merengue sobre os egípcios. Mas não foi bem assim. O Real, mesmo com todo o poder econômico, muito acima do Al Ahly, poderia muito bem ter perdido o jogo. O clube egípcio, em muitas partes da partida, jogou melhor. A diferença é que, pelas limitações de seus jogadores, não conseguiu marcar gols “feitos”.
Os destaques do Real Madrid foram dos brasileiros Vinícius Júnior e Rodrygo, que comeram a bola. Vini marcou o primeiro gol. Rodrygo foi fundamental para o segundo gol, do uruguaio Valverde, que pegou rebote de seu chute. E, depois, marcou, no final do segundo tempo, depois do sufoco tomado pelo Real, o terceiro gol. Valverde, autor do segundo gol, também se destacou. Outro sul-americano, um uruguaio. O único europeu que merece destaque foi Luka Modric, craque da Seleção Croata. Apesar de ter perdido um pênalti, foi fundamental na construção das jogadas.
O gol de Rodrygo, na prorrogação, “matou” o Al Ahly e só depois surgiu o quarto gol, quando o time egípcio já não tinha nenhuma esperança.
Mas, enfim, diante da campanha sobre a “decadência” do futebol brasileiro, é interessante que os dois melhores jogadores do clube espanhol são dois jogadores brasileiros. Aliás, dois brasileiros, com características tipicamente brasileiras: habilidade, dribles, etc.
O futebol brasileiro é tão “decadente” que classificou um clube “espanhol” (onde quase não se vê espanhóis) para a final do Mundial de Clubes…