Hoje, 8 de fevereiro, faz exatamente um mês da manifestação bolsonarista, onde ocorreu também a invasão dos prédios da praça dos Três Poderes e diversos atos de vandalismo, como a destruição do relógio de Balthazar Martinot trazida para o Brasil por Dom João VI. A manifestação, motivada por um descontentamento dos eleitores de Bolsonaro, foi taxada como golpista, e a esquerda pequeno-burguesa desde então se empenha numa grande campanha pela prisão dos manifestantes envolvidos no ato.
De lá para cá, muita gente sem importância foi presa. Evidentemente, apenas “lambaris” e bodes expiatórios, nenhum organizador nem ninguém com peso real, e a direita aproveita a onda para ampliar o caráter repressivo do Estado.
O que pudemos observar de marcante, que permitiu com que o ato tomasse a proporção que tomou, foi um completo despreparo do ministro da Justiça, Flávio Dino. Dino, que confiando em seus amigos e conhecidos da direita que o informaram que o ato não seria nada de mais, não mobilizou nenhum tipo de segurança especial para os prédios públicos da Praça dos Três Poderes.
Aliado a isso, a conivência da polícia militar e do Exército fez com que os manifestantes tivessem passagem livre pelas portas dos prédios públicos e vandalizassem como quisessem. Os manifestantes foram chamados de golpistas por toda a imprensa, tanto a de esquerda, quanto a corporativa. Golpistas desarmados, o que é estranho. Não tentaram tomar o poder e não tentaram instaurar um novo governo. Qual seria, então, o golpe?
Verdadeiros golpistas poderiam até estar presentes naquele dia entre os manifestantes bolsonaristas, mas, definitivamente, não era o motivo central da manifestação. Aqueles controlaram a manifestação ficaram todos impunes, conforme já havíamos previsto.
Os distúrbios, na verdade, foram um ato de sabotagem e desmoralização. Os generais, a burguesia e a direita da terceira-via foram extremamente beneficiados por tamanha desmoralização que a crise deflagrou no governo Lula logo no primeiro mês de governo.
Militares de alta patente, oficiais do Exército e afins, foram os articuladores do acontecido. Vimos filmagens do Exército dando guarida para os manifestantes, um destacamento impediu a polícia militar (que também é bolsonarista) de prender manifestantes para que os mesmos tivessem tempo de se dispersar.
Desde 8 de janeiro, ao menos 1.420 pessoas foram presas em flagrante ou durante operações deflagradas pela Polícia Federal. Dos presos em flagrante, 942 tiveram a prisão convertida em preventiva (sem prazo determinado) e 464 obtiveram liberdade provisória, mediante medidas cautelares.
Apesar dos gritos histéricos e palavras de ordem vazias como “sem anistia” e afins, a única coisa que podemos verificar sem dúvidas é que não tem militares entre os investigados ou denunciados pelo Ministério Público.
Parte das investigações em andamento vê a manutenção do acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército de Brasília como um dos pontos que facilitaram os ataques do dia 8 de janeiro. Em dezembro, o Exército suspendeu ao menos duas operações conjuntas com o Governo do Distrito Federal para retirar tendas e instalações do acampamento bolsonarista.
A tensão entre militares e governo causada pela falta de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na forma de atuação das Forças Armadas durante os ataques resultou na queda, em 21 de janeiro, do comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda.
Ronaldo Ribeiro Travassos, general da Marinha, chegou a gravar vídeos e postar áudios em um grupo afirmando que Lula não tomaria posse em 1º de janeiro e defendendo o assassinato de eleitores do petista.
Mesmo com essas situações sendo de conhecimento público, nenhum militar, até o momento, está entre os 653 denunciados pela Procuradoria-Geral da República ou na lista dos 20 presos ou alvos dos 37 mandados de busca e apreensão cumpridos nas cinco fases da operação Lesa-pátria, criada pela Polícia Federal para investigar todos os envolvidos nos ataques antidemocráticos.
Desde então, Lula subiu o tom contra a politização das Forças e disse que carreiras de Estado não podem se transformar em “partido político”. Ele também viu motivos para responsabilizar Bolsonaro diretamente pelos ‘movimentos inconstitucionais’, acusando o rival político de insuflar os golpistas.
“Esse cidadão preparou o golpe”, disse o Presidente Lula em entrevista na semana passada. “Eu tenho certeza que o Bolsonaro participou ativamente disso e ainda está tentando participar”, encerrou.
Fato é que, como já sinalizamos, a única força que pode parar o golpismo, que já começa a dar as caras, é a mobilização popular nas ruas. O Ministério Público e a Procuradoria-Geral da República nunca irão denunciar os verdadeiros golpistas, pois eles mesmos fazem parte do problema. As instituições são recrudescidas pelo bolsonarismo e a última coisa que querem ver é um governo do Lula. Por isso, Lula precisa mobilizar a base petista para dar legitimidade ao seu governo e mudar a correlação de forças da política nacional atualmente posta na mesa.