Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

A Nova lógica das Redes

A Nova Política das Redes

Tretas, espetáculos e arruaças - o Império dos influencers

As grosserias dos parlamentares da extrema-direita precisam ser entendidas diante do fenômeno das redes sociais, as quais mudaram a forma de fazer política nos últimos 10 anos. Os novos parlamentares que surgiram no cenário nacional, em sua maioria, não foram forjados nos partidos políticos, nos diretórios acadêmicos, nos órgãos de classe e muito menos nos sindicatos e centrais trabalhistas. Da mesma forma como os políticos de décadas passadas surgiram da exposição no rádio e na televisão, estes de agora são fruto da explosão midiática do YouTube, Instagram, TikTok e Twitter. Desta forma, eles não são políticos na acepção tradicional da palavra; são youtubers, “influencers” e lacradores profissionais surgidos da possibilidade que as redes sociais criaram de oferecer exposição e notoriedade instantânea.

ethos que orienta estes novos personagens da cena política é diferente daquele que se exigia tradicionalmente na política. Ao contrário dos políticos de formação, estes novatos estão no parlamento para fazer tretas, espetáculos e até arruaças; são especialistas em selfies, provocações e postagens escandalosas e disseminam suas informações como um espetáculo onde a verdade e a correção são meros detalhes – quando não claros entraves. O meio é muito mais relevante que a veracidade das informações. Não se importam de que sua exposição acabou gerando desinformação. O importante é ser visto, comentado, criar engajamento, ter sua imagem disseminada por milhares, quiçá milhões de seguidores.

Este grupo de novos representantes não está no parlamento para apresentar propostas, conduzir composições, propor acertos e estabelecer debates, nem mesmo para fazer oposição baseada em suas distintas perspectivas políticas. Sua intenção é outra, e pouco tem a ver com os partidos – meras fantasias que usam e jogam fora quando não mais lhes servem. Sua ação é gerar a exaltação de personalidades.

Espero que as pessoas com o tempo percebam que esta é uma ação contrária à política. Afinal, o personalismo é o oposto da ação política, na medida em que esta última se preocupa com a representatividade, onde um sujeito defende os anseios de um grande contingente de cidadãos. Para o pensador estagirita Aristóteles (384 – 322 a.C.) o homem é um sujeito social que, por sua própria natureza, necessita estar conectado a uma coletividade. Somos todos gregários, comunitários e solidários. Somos também seres políticos, capazes de trabalhar para além da nossa sobrevivência e do nosso grupo familiar, desejando o melhor para as ruas, cidades e nações. Minha esperança é que, com o tempo, as pessoas cansem desse tipo de personagem e os devolvam ao esquecimento. A política que eles propõem é a do circo, da galhofa, dos “likes“, mas a ação política pede mais que isso, pois ela é a mais elaborada ação humana, cuja essência é a fraternidade e o bem comum.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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