“ A Praça Castro Alves é do povo,
como o céu é do avião.
Um frevo novo, eu peço um frevo novo.
Todo mundo na praça e muita gente sem graça no salão.”
Já passamos muitos carnavais ao som da canção do hoje identitaríssimo Caetano Veloso. Neste ano, o céu continua sendo do avião. Mas a praça é da AMBEV. O carnaval 2023, em São Paulo, poderá até ter muita gente na praça. Porém, os serviços oferecidos ao povo na praça não serão administrados por populares: até camelôs deveriam se cadastrar, até o dia 30/01, junto à “patrocinadora oficial” do carnaval paulistano, a AMBEV. Ao todo, foram oferecidas 15 mil vagas para ambulantes no período pré, durante e pós carnaval. Em seu comunicado oficial, curto e pouco esclarecedor, a prefeitura de São Paulo informa que a inscrição do interessado não lhe garante o direito de atuar como promotor de vendas no local, além de exigir documentação e comprovante de endereço entregues presencialmente, após inscrição online. Ou seja, a AMBEV (leia-se 3G Capital) sequestrou a festa mais popular do Brasil para lucrar muito e monopolizar o evento, desde o patrocínio oficial, organização, propagandas, apoio a blocos, até o que os cidadãos/ambulantes podem ou não podem fazer, comer ou beber durante a folia.
A empresa bilionária está no centro de um dos maiores escândalos financeiros no Brasil. Não faltam balanços feitos na base da “contabilidade criativa” e economês para desavisados. Tudo isso, é claro, pouco divulgado pela grande imprensa. A Ambev vai usar o Carnaval, o equipamento da cidade e também sua população para ganhar dinheiro. E não podemos nos esquecer do lixo produzido, seja nas bolsas de valores de SP e NY. Sujeira é o que não vai faltar.
Enquanto todo mundo na praça consome as bebidas da Ambev, come lanche no Burger King e, de alguma forma, comendo, bebendo, se vestindo, usando eletrônicos e comunicações, o povo da praça não percebe que está consumindo outros produtos das empresas do grupo 3G Capital, e seus controladores, abutres bilionários, sabem explorar isso de maneira magistral e tentam morder toda e qualquer fatia do mercado. Usando uma expressão popular, pode-se dizer que “está tudo dominado” por essa corporação sem pátria. Lembremos que a sede nº 1 da empresa é em Nova Iorque. A segunda sede é no Rio de Janeiro.
Após o rombo das Lojas Americanas, a esperada queda as ações da AMBEV vem se desenrolando, uma vez que os acionistas majoritários das Americanas são os mesmos da Ambev, atingindo desempenho negativo de 8% nos últimos dias. Ontem, 01/01, a CervBrasil, associação dos fabricantes de cervejas não vinculados à Ambev, publicou estudos apontando um rombo de 30 bilhões de reais do grupo de Lemann referentes a supostas manobras tributárias encontradas na Zona Franca de Manaus.
Analistas do mercado apressaram-se em dizer que esses números estão inflados e que a empresa não está tão ruim. Três grandes bancos estadunidenses aos quais o 3G Capital está ligado: JP Morgan, Goldman Sachs e Citi corroboram a saúde fiscal da empresa.
Mesmo assim, são os foliões que terão que ajudar a pagar os rombos que a AMBEV trouxe para a praça do povo. Mas, na folia do Lemann , deve ter muita gente sem graça no salão.