Cultura nunca foi um tema de afeição da direita brasileira. Ao longo de janeiro, o prefeito Ricardo Nunes, que assumiu após o falecimento de Bruno Covas, prosseguiu com a agenda privatista do PMDB e PSDB em São Paulo. Os alvos da vez, entretanto, são as casas de cultura.
Tais espaços, por sua vez, são fundamentais para o fomento da cultura local, dando voz à artistas e bandas que não obteriam espaço em um sistema onde os espaços fossem controlados pelos capitalistas – já que, visando apenas o lucro, não há porque investir na arte e na cultura, sendo o resultado financeiro imediato a única finalidade.
Um dia antes da audiência pública sobre a privatização de tais espaços, que ocorreu no dia 13 de janeiro, diversos artistas se uniram e divulgaram uma campanha pela presença maciça no local. Mesmo assim, a direita segue em frente com sua locomotiva entreguista em direção aos grupos e artistas.
“A privatização é uma afronta que ameaça um direito que é nosso”, defende Rica Silvera, vocalista e guitarrista da banda DeCore. “As casas de cultura de São Paulo são do povo e para o povo”, completa, reiterando como é e como deve continuar sendo a gestão desses espaços. Privatizar, agora, significa acabar com as pequenas e médias bandas, grupos musicais e demais coletivos artísticos, que não possuam grandes empresários por trás ou financiamento de capitalistas que desejem transformá-los em mercadorias valiosas. No ditado popular, “quem contrata a banda escolhe a música”, mas, além da música, o contratante tem direito a muito mais, sobretudo ao lucro, a escolher os termos das bandas que tocam e escolher o público que frequenta.
Se, por um lado, a privatização acabará com diversos grupos e pessoas que vivem e promovem a arte, acabará, também, com a possibilidade de que trabalhadores que não possuam condições sociais possam assistir aos shows e eventos que desejem. A cultura, dentre o meio burguês, é algo caro e de alta lucratividade, como podemos observar no futebol. Quando os capitalistas, com apoio da imprensa e principalmente da Globo, reforçaram seu ataque contra o esporte popular, os estádios foram cedidos à iniciativa privada e os clubes entraram na onda de serem financiados e, posteriormente, comprados, aumentando os preços dos ingressos, os produtos vendidos e alterando por completo o público que frequenta. Se o trabalhador poderia sair de seu trabalho, seja no hospital ou no semáforo, e ir assistir ao jogo do Flamengo no Maracanã por 5 reais, hoje precisaria gastar cerca de 10% dos seus ganhos, desembolsando 100 reais em um ingresso somados aos 450 da camisa do seu time e aos 15 reais de algum refrigerante por lá. Um verdadeiro ataque ao trabalhador e a toda a classe operária.
A privatização das casas de cultura não segue outro caminho, sendo o roteiro o mesmo. Sob pretexto de melhor administração, o operário deixará de tocar e de assistir, dando espaço aos artistas pequeno-burgueses e ao público que possui condições de pagar mais caro para assistir aos shows. Uma casa de cultura não pode se transformar em casa de comércio, onde os artistas sejam produtos dos capitalistas que os controlam.