A morte de Fernando Duarte deixa a Arte Nacional entristecida. Aos 24 de janeiro de 2023, em Brasília, o meio artístico perdeu uma importante figura nascida em 1937 no Rio de Janeiro. Fernando foi o maior responsável pelas características visuais do “cinema novo”, e importante diretor de fotografia do novo cinema nacional, um artista ímpar e brasileiro.
Sua obra é marcada por preferência pela luz natural, fortes contrastes e diafragma aberto. Sua primeira participação no cinema foi como assistente de câmera no filme “Cinco Vezes Favela” em 1961. Dois anos depois deixou sua marca no primeiro longa-metragem “Ganga Zumba”, o rei dos Palmares de 1963, como diretor de fotografia, juntamente com o também estreante de direção Cacá Diegues, amigo de faculdade na PUC/RJ que o convidou para o cargo.
Foi fotógrafo da primeira tentativa de filmar “Um Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho, que só foi concluída em 1984 no final da ditadura, depois de sofrer perseguições por ela.
A partir de 1968 passou a lecionar cinema na Universidade de Brasília. Em 1975 volta ao Rio sendo professor nos cursos livres de cinema da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Estudou no Conservatório Nacional de Teatro, frequentou as reuniões na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) e na União Nacional dos Estudantes (UNE) entre as décadas de 1950 e 1960.
Trabalhou em importantes obras políticas como “Maranhão 66”, um curta-metragem de Glauber Rocha que retrata a posse de Sarney ao governo do Maranhão, revelando as mazelas do estado.
Seu modo particular de fotografar filmes, garantiu a originalidade da marca do cinema novo que foi amplamente reconhecida por todo o mundo. Sua participação em fotografias para jornais também foi marcante. Teve participação no documentário “Iluminados” de Cristina Leal em 2008 como uma das personagens.
Sua maneira original de fotografar influenciou muitas gerações a partir do cinema novo e até nossos dias. Nas palavras de Cacá Diegues “ ele inventou uma forma de fotografar nossos filmes que deu a eles uma originalidade que ajudou a criar no mundo inteiro a ideia do que era o cinema novo brasileiro. Sua morte é uma grande perda para o nosso cinema”.
Hernani Heffner, gerente da cinemateca do MAM, lembra que ao falar em cinema todos pensam primeiro no diretor, mas muito do que se inventou em termos de imagem se deve ao Fernando Duarte, mestre incontestável que influenciou toda uma geração de diretores de fotografia no Brasil.
“Nos deixou Fernando Duarte, sem dúvida alguma um dos maiores nomes da fotografia do cinema brasileiro. Tive a honra e o privilégio de trabalhar com ele em “Luz del Fuego” 1982, filme que lhe rendeu vários prêmios e onde criamos um laço de afeto “, diz a atriz Lucélia Santos nas redes sociais.
Sem dúvida uma grande perda para a arte nacional, num momento em que a cultura e toda a vida social e política encontra-se em completo desmonte, e precisamos agir para estabelecer uma nova ordem econômica, social, política e cultural onde a classe trabalhadora precisa estar à frente do processo.