Cabeças inocentes pensam que o gabinete da realeza se hospeda no próprio rei, no seu manto de veludo e em sua coroa, nos seus ossos e nas suas veias. Na verdade, o gabinete da realeza é uma inter-relação entre pessoas. O rei é rei apenas porque os interesses e prejuízos de milhões de pessoas são refratados através de sua pessoa. Quando a enchente do desenvolvimento varre estas inter-relações, então o rei aparece apenas como homem deslavado. Aquele que uma vez foi chamado de Alfonso XIII [Rei da Espanha, 1886-1931] poderia elaborar mais disso com experiências próprias.
O líder por opção do povo se difere do líder por opção de Deus por ter de abrir o caminho para si, ou ao menos ajudar na conjuntura de eventos que se abrem a ele. Mesmo assim, o líder é sempre uma relação entre pessoas, a oferta individual no encontro da demanda coletiva. A controvérsia sobre a personalidade de Hitler agudizou-se quanto mais se procurou o segredo de seu triunfo nele mesmo. Ao mesmo tempo, seria difícil encontrar outra figura política que fosse, na mesma medida, ponto de convergência de forças históricas anônimas. Nem todo pequeno burguês exacerbado poderia ter se tornado Hitler, mas uma partícula de Hitler é hospedada em toda exacerbação pequeno-burguesa.
O crescimento rápido do capitalismo alemão posterior à primeira guerra mundial de forma alguma significou a simples destruição das classes intermediárias. Apesar da ruína de algumas camadas da pequena-burguesia ela criou uma nova: no entorno das fabricas, artesões e lojistas; dentro das fábricas, técnicos e executivos. Mas enquanto preservando a si mesmas e até crescendo numericamente – velha e nova pequena burguesia compõe quase metade da nação alemã – as classes intermediárias perderam a última sombra de sua independência. Elas vivem na periferia da grande indústria e do sistema financeiro, e vivem das migalhas que caem das mesas dos monopólios e cartéis, e das sobras ideológicas de seus tradicionais teóricos e políticos.
A derrota de 1918 ergueu um muro no desenvolvimento do imperialismo alemão. Dinâmica externa transformou-se dinâmica interna. A guerra virou revolução. A social-democracia, que assistiu aos Hohenzollern trazerem a guerra a sua conclusão trágica, não permitiu ao proletariado trazer a revolução a sua própria conclusão. Ela gastou quatorze anos procurando desculpas intermináveis para existir servindo à democracia de Weimar. O Partido Comunista convocou os trabalhadores a uma nova revolução, mas provou-se incapaz de dirigi-la. O proletariado alemão passou pelo auge e colapso da guerra, revolução, parlamentarismo e pseudobolchevismo. Quando os velhos partidos da burguesia haviam se esgotado, a força dinâmica da classe trabalhadora provou-se deficiente.
O caos do pós-guerra atingiu o artesão, o ambulante, e o funcionário público de forma não menos cruel que os trabalhadores. A crise econômica na agricultura levou os camponeses à ruína. A decadência das camadas médias não significou que elas se tornaram proletárias enquanto o próprio proletariado estava expelindo um gigantesco exército de desempregados crônicos. A pauperização da pequena burguesia, mal dissimulada pela seda artificial de suas meias e gravatas, erodiu todas as crenças oficiais, e antes de mais nada, a doutrina do parlamentarismo democrático.
A multiplicidade de partidos, a febre de eleições, as intermináveis mudanças de ministérios agravavam a crise social criando um caleidoscópio de estéreis combinações políticas. Na atmosfera trazida pelo calor da guerra, derrota, reparações, inflação, ocupação do Ruhr, crise, necessidade, e desespero, a pequena burguesia se ergueu contra todos os velhos partidos que lhe haviam enganado. As graves reclamações dos pequenos proprietários, nunca distantes da bancarrota, com seus filhos universitários sem cargos e clientes, exigiam ordem e mão de ferro.
O estandarte do Nacional-Socialismo foi levantado por arrivistas dos cargos baixos e médios do velho exército. Decorados de medalhas por servir à nação, oficiais de alta ou baixa patente não conseguiam acreditar que seu heroísmo e sofrimento pela pátria não só não serviu a nada, mas também não lhes deu direito à gratidão especial que acreditavam merecer. Portanto, seu ódio à revolução e ao proletariado. Ao mesmo tempo, não queriam se reconciliar em ser mandados por banqueiros, industriais, e ministros e de volta aos seus cargos modestos de contadores, engenheiros, secretários e professores. Consequentemente seu “socialismo”. Em Iser e sob Verdun,(1) eles tiveram de aprender a arriscar-se por si e pelos outros, e a falar a linguagem de comando que poderosamente intimida a pequena burguesia a cerrar fileiras. Assim estas pessoas tornaram-se chefes.
Durante o início de sua carreira política, Hitler se destacou apenas talvez por um grande temperamento, gritar mais alto que os outros, e uma mediocridade intelectual muito mais autossuficiente. Ele não introduziu ao movimento um programa pré-elaborado, se ignorarmos a sede por vingança do soldado ofendido. Hitler começou com queixas e reclamações sobre os termos de Versalhes, a alta no custo de vida, a falta de respeito para meritosos soldados e o complô de banqueiros e jornalistas do credo de Moisés. Havia no país a quantidade suficiente de pessoas arruinadas e derrotadas com cicatrizes e machucados frescos. Todos queriam bater com seus punhos na mesa. Isto Hitler conseguia fazer melhor que os outros. Verdade, ele não sabia como curar o mal. Mas suas arengas soavam as vezes como comandos e as vezes como ordens voltadas à um destino inexorável. Classes condenadas, como pessoas fatalmente doentes, nunca cansam de fazer variações nas suas denúncias e escutar consolos. Os discursos de Hitler estavam afinados a este ritmo. Sentimentalismo banal, carência de pensamento disciplinado, ignorância em conjunto com erudição espalhafatosa – todos estes pontos negativos tornaram-se positivos.
Isso lhe proporcionou a possibilidade de unificar todas as formas de frustração no entorno do saco sem fundo do Nacional-Socialismo, e de dirigir a massa na direção na qual ela lhe empurrava. E na mente do agitador estavam preservadas, em suas primeiras improvisações pessoais, tudo aquilo no que havia encontrado aprovação. Seu pensamento político foi fruto de acústicas oratórias. Foi assim que adotou seus slogans. Foi assim que seu programa se consolidou. Foi assim que o líder ganhou corpo da matéria bruta.
Mussolini, logo de início, reagiu com maior consciência que Hitler frente à matéria social, cujo misticismo policial de um Metternich(2) lhe é mais próximo que a álgebra política de Machiavelli. Mussolini é mentalmente mais ousado e mais cínico. Pode se dizer que o ateu de Roma apenas utiliza a religião como o faz com a polícia e os tribunais, enquanto seu colega em Berlim realmente acredita na inefabilidade da Igreja de Roma.
Durante o período em que o futuro ditador italiano considerava Marx “nosso imortal professor em comum” ele defendia não de forma sem talento a teoria que vê na sociedade contemporânea, primeiro e acima de tudo, a ação reciproca entre duas classes, a burguesia e o proletariado. É verdade, escreveu Mussolini em 1914, há entre eles inúmeros intermediários, camadas que aparentemente formam uma “rede conjunta do coletivo humano”; mas “durante períodos de crise, as classes intermediárias, gravitam, dependendo dos seus interesses e suas ideias, para uma ou outra das classes básicas”. Que generalização importante! Assim como a ciência médica pode equipar não só na possibilidade de curar os doentes, mas mandar os saudáveis conhecer seus antepassados pela via mais rápida, também análise científica das relações de classe, desenhadas pelo autor para mobilizar o proletariado, permitiu a Mussolini, após ter pulado para o campo oposto, mobilizar as classes intermediárias contra o proletariado. Hitler conseguiu o mesmo feito, traduzindo a metodologia do fascismo para a linguagem do misticismo alemão.
As fogueiras que queimam a ímpia literatura marxista iluminam brilhantemente a natureza de classe do Nacional-Socialismo. Enquanto os nazistas atuavam como partido e não poder estatal, eles não possuíam uma abordagem clara para a classe trabalhadora. De outro lado, a grande burguesia, até aqueles que apoiavam Hitler com dinheiro, não consideravam o seu partido como deles. A “regeneração” nacional se baseava inteiramente nas classes intermediárias, a parte mais atrasada da nação, com pesado rastro histórico. A arte política se deu no fundir da pequena burguesia em um a partir de sua solida hostilidade ao proletariado. O que deve ser feito para melhorar as coisas? Primeiramente, estrangule os que estão debaixo. Impotentes diante do grande capital, a pequena burguesia deseja no futuro reconquistar sua dignidade social se sobrepondo aos trabalhadores.
Os nazistas chamam sua revirada pelo título usurpado de revolução. Na verdade, na Alemanha, assim como na Itália, os fascistas deixaram o sistema social intocado. Por si só, a revirada de Hitler não tem nem mesmo o direito de se chamar de contrarrevolução. Mas ela não pode ser vista como um evento isolado; é a conclusão de um ciclo de choques que se iniciou na Alemanha em 1918. A revolução de novembro, que deu o poder aos soviets de trabalhadores e camponeses, foi proletária nas suas tendências fundamentais. Mas o partido que encabeçava o proletariado devolveu o poder à burguesia. Neste sentido a social democracia abriu a era da contrarrevolução, antes que a revolução pudesse completar seu trabalho. Porém, durante o tempo em que a burguesia dependia da social democracia, e consequentemente nos trabalhadores, o regime manteve elementos de compromisso.
Atualmente a situação internacional e interna do capitalismo alemão não possui mais espaços para concessões. A social-democracia salvou a burguesia da revolução proletária; então veio o giro ao fascismo para libertar a burguesia da social-democracia. A revirada de Hitler foi apenas o último elo na cadeia de transformações contrarrevolucionárias.
Um pequeno burguês é hostil a ideia de desenvolvimento, porque o desenvolvimento caminha inevitavelmente contra ele; o progresso lhe trouxe apenas irredimíveis dividas. O Nacional-Socialismo rejeita não apenas o Marxismo, mas o Darwinismo. Os nazistas denunciam o materialismo porque as vitórias da tecnologia sobre a natureza significaram o triunfo do grande capital sob o pequeno. Os chefes do movimento estão liquidando o “intelectualismo” não tanto por eles próprios possuírem intelecto de segundo ou terceiro grau, mas principalmente porque seu papel histórico não lhes permite chegar a uma única conclusão no pensamento.
A pequena burguesia tira refúgio em seu último canto, em uma mitologia que se coloca acima da matéria e da história, protegida da competição, inflação, crise, e do leilão de bens. Para a evolução, o pensamento econômico, e o racionalismo – aquele do século XX, XIX e XVIII – se contrapõem em sua cabeça o idealismo nacional, fonte da origem heroica. A nação de Hitler é uma sombra mitológica da própria pequena burguesia, seu delírio patético de milênio na terra.
Para ser colocado acima da história, a nação é vista pela raça. A história se dá com a emanação da raça. As qualidades da raça são entendidas sem relação com mudanças na condição social. Ao rejeitar na base o “pensamento econômico” o Nacional-Socialismo cai de patamar – do materialismo econômico ele apela ao materialismo zoológico.
A teoria da raça, criada especialmente, pelo jeito, para pretensiosos indivíduos que se auto educaram buscando a chave universal de todos os segredos da vida, tem uma história particularmente lamentável à luz da história das ideias. Para criar uma religião de genuíno sangue alemão, Hitler foi obrigado a emprestar de segunda mão as ideias racistas de um francês, Count Joseph A. de Gobineau, um diplomata e diletante literário. Hitler achou a metodologia política já pronta na Itália. Mussolini utilizou emprestado amplamente a teoria marxista da luta de classes. O próprio marxismo é fruto da união entre a filosofia alemã, a história francesa e a economia inglesa. Investigar retrospectivamente a genealogia das ideias, até das mais reacionárias e confusas, é não deixar em pé nem um traço do racismo.
A imensa pobreza filosófica do Nacional-Socialismo, é claro, não atrapalhou Hitler ao entrar no campo das ciências acadêmicas, de vento em popa, uma vez que sua vitória estivesse suficientemente assegurada. Para bandos de professores, os anos do regime Weimar foram períodos de revolta e alarme. Historiadores, economistas, juristas e filósofos se perderam tentando adivinhar qual critério de verdade em disputa era real, isto é, quais dos campos ao final dominaria a situação. A ditadura fascista elimina as dúvidas dos Faustos e as vacilações dos Hamlets(3) de salão universitário. Saindo das sombras da relatividade parlamentar, o conhecimento novamente entrava no reino dos absolutos. Einstein se viu obrigado a refugiar-se do lado de fora das fronteiras da Alemanha.
No campo da política, o racismo é uma variedade insípida e bombástica do chauvinismo em aliança com a frenologia.(4) Assim como a nobreza arruinada busca consolo na aristocracia de seu próprio sangue, a pequena burguesia pauperizada se atordoa com contos de fada sobre as superioridades especiais da sua raça. Observa-se que os chefes do Nacional-Socialismo não são nativos da Alemanha, mas originalmente da Áustria, como o próprio Hitler, das antigas províncias bálticas do império russo, como Rosenberg, e de países coloniais, como Hess, que hoje é suplente de Hitler na direção partidária. Foi necessária uma escola de agitação nacionalista bárbara dos confundos da cultura para inspirar os “chefes” cujas ideias mais tarde encontraram eco no coração das classes mais bárbaras da Alemanha.
Indivíduo e classe – Liberalismo e marxismo – são do mal. A nação é do bem. Mas esta filosofia vira o seu contrário no limiar da propriedade privada. A salvação se encontra apenas na propriedade individual. A ideia da propriedade nacional é uma enganação do bolchevismo. O pequeno-burguês diviniza a nação, mas não quer lhe dar nada. Pelo contrário, espera que a nação lhe distribua propriedade e proteja do trabalhador e do oficial de justiça. Infelizmente, o terceiro Reich não dará nada à pequeno-burguesa, a exceção de novos impostos.
No domínio da economia contemporânea, internacional em seus laços, impessoal em seus métodos, o princípio racista parece saltar de um cemitério medieval. Os nazistas oferecem antes uma concessão: a pureza da raça, que tem de ser certificada com um passaporte para entrada no reino dos espíritos, deve se expressar no domínio econômico principalmente pela eficiência. Sob condições contemporâneas isto significa capacidade competitiva. Pela porta de trás o racismo retorna ao liberalismo econômico desatado de liberdades políticas.
Praticamente, o nacionalismo na economia se reduz a impotentes, mas selvagens explosões de antissemitismo. Os nazistas extraem a usura capitalista ou o capital bancário do moderno sistema econômico porque ele é o espirito do mal; e, como é bem conhecido, é precisamente nesta esfera que a burguesia judaica ocupa uma posição importante. Curvando-se ao capitalismo como um todo, a pequena burguesia declara guerra contra o malvado espírito do lucro, personificado no judeu polonês de roupas longas e normalmente sem um centavo no bolso. O pogrom se volta à evidência suprema da superioridade racial.
O programa pelo qual o Nacional-Socialismo chegou ao poder nos remete – finalmente – à mercearia de um judeu em alguma província obscura: “o que temos aqui você não achará em lugar algum – barato no preço e de qualidade ainda menor!” Recordações dos dias “felizes” da livre competição, e das lendas sobre a estabilidade da sociedade de classes; esperança na regeneração do império colonial, sonhos de uma economia fechada; frases sobre a reversão do direito romano ao germânico, apelos a uma moratória norte-americana; uma hostilidade invejosa a desigualdade, simbolizada na propriedade de automóveis, e um temor animal da igualdade na pessoa do operário de macacão; o alvoroço do nacionalismo, e o temor dos credores mundiais. Toda recusa do pensamento político internacional subiu para preencher o tesouro espiritual do novo messianismo germânico.
O fascismo tornou acessível a política as profundezas da sociedade. Na verdade, não só nas casas camponesas, mas também os arranha-céus das cidades habitam ao lado do século XX, o século X ou XII. Centenas de milhões de pessoas usam a eletricidade e ainda acreditam no poder mágico dos símbolos e do exorcismo. Que intermináveis reservas de ignorância, escuridão e selvageria possuem! O desespero os colocou de pé, o fascismo lhes deu uma bandeira. Tudo que o desenvolvimento sem obstáculos da sociedade deveria ter eliminado naturalmente do organismo, na forma de excrementos da cultura, agora é vomitado: a civilização capitalista está vomitando uma barbárie não digerida. Tal é a fisiologia do Nacional-Socialismo.
O fascismo alemão, assim como o italiano, se ergueu ao poder nas costas da pequena-burguesia, que foi tornada bode expiatório contra as organizações da classe trabalhadora e as instituições democráticas. Mas o fascismo no poder é tudo menos o governo da pequena burguesia. Pelo contrário, ele é a ditadura mais impositiva do capital monopolista. Mussolini tem razão: as classes médias são incapazes de políticas independentes. Durante os períodos de grande crise, são invocadas a seguir aos absurdos das políticas de uma das duas classes fundamentais. O fascismo conseguiu coloca-los a serviço do capital. Slogans como o controle estatal dos fundos financeiros e a supressão de lucros não oriundos do trabalho foram abandonados assim que se chegou ao poder. Pelo contrário, o particularismo da pequena burguesia deu lugar ao centralismo policial capitalista. Cada sucesso interno e externo das políticas do nazismo significará inevitavelmente o sufocamento do pequeno capital pelo grande.
O programa de ilusões pequeno-burguesas não está descartado; ele simplesmente está desajeitado da realidade e dissolvido em atos ritualísticos. A unificação de todas as classes reduz-se ao trabalho obrigatório semissimbólico e o confisco do feriado do 1º de maio “em benefício do povo”. A preservação da escritura gótica em oposição ao latim é revange simbólica da gema do mercado mundial. A dependência em banqueiros internacionais, inclusive banqueiros judeus, não se reduziu um milímetro, enquanto proibiu-se o sacrifício de animais segundo os rituais talmúdicos. Se a estrada para o inferno é pavimentada por boas intenções, então as aventuras do Terceiro Reich são pavimentadas por símbolos.
Reduzindo o programa das ilusões pequeno burguesas a pura mascarada burocrática, o Nacional-Socialismo se elevou acima da nação na forma mais horripilante de imperialismo. Absolutamente falsas são as esperanças de que o governo de Hitler cairá amanhã, se não hoje, vítima de sua incoerência interna. Os nazistas necessitavam de um programa para chegar ao poder; mas o poder serve a Hitler nem um pouco para aplicar seu programa. Suas tarefas são dadas pelo capital monopolista. A contradição compulsória de todas as forças e recursos nacionais nos interesses do imperialismo – a verdadeira missão histórica da ditadura fascista – significa a preparação para a guerra; isto sem tolerar qualquer resistência interna conduzindo a uma maior concentração mecânica de poder. O fascismo não pode ser nem reformado, nem ignorado. Ele pode apenas ser derrubado. A orbita política do regime não deixa nenhuma alternativa: guerra ou revolução.
O primeiro aniversário da ditadura nazi se aproxima. Todas as tendências do regime já tiveram tempo para tomar caráter claro e distinto. A revolução “socialista” imaginada pelas massas pequeno-burguesas como um suplemento necessário à revolução nacional foi condenada e liquidada oficialmente. A irmandade de todas as classes culminou-se em um dia, especialmente escolhido pelo governo, em que os ricos distribuem canapês e sobremesas aos pobres. A luta contra o desemprego resultou em dividir ao meio as bolsas para os famintos. O resto é estatística manipulada. A autarquia “planificada” é simplesmente um novo estágio na desintegração econômica.
Quanto mais impotente é o regime policial nazista na economia, mas ele é forçado a colocar seus esforços no campo da política externa. Isto corresponde inteiramente a dinâmica interna do capitalismo alemão, agressivo dos pés à cabeça. O repentino giro dos chefes nazistas para declarações de paz pode enganar apenas os inocentes. Qual outro método sobra a disposição de Hitler para jogar a responsabilidade dos desastres domésticos nos inimigos externos e acumular, sob a prensa da ditadura, a força explosiva do imperialismo?
Esta parte do programa, exposta claramente antes mesmo da chegada dos nazistas ao poder, está agora sendo preenchida com lógica de ferro diante dos olhos do mundo. A data da nova catástrofe europeia será determinada pelo tempo necessário para armar a Alemanha. Não é uma questão de meses, mas também não é uma questão de décadas. Haverá alguns anos até a Europa submergir novamente na guerra, a menos que Hitler seja contido a tempo pelas forças internas da Alemanha.