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Teoria marxista

Trótski sobre a frente única do proletariado contra a burguesia

Um de seus textos mais importantes, Trótski escreveu o artigo em questão em Fevereiro de 1922

I —  Considerações gerais sobre a Frente Única

1. —  O objetivo do Partido Comunista é dirigir a revolução proletária. Com o fim de levar o proletariado rumo à conquista direta do poder e de obter essa conquista, o Partido Comunista deve se apoiar na imensa maioria da classe operária.

Enquanto não tenha essa maioria, deve lutar para obtê-la.

Não pode esperar obtê-la se não constitui uma organização independente, com um programa claro e uma severa disciplina interna. Por isso teve que se separar, além de pela via de ter sua própria organização, também ideologicamente, dos reformistas e dos centristas que não aspiram à revolução proletária, nem sabem e nem querem preparar as massas para esta revolução e se opõem a esse trabalho através de toda sua forma de atuar. Aqueles militantes do Partido Comunista que deploram essa separação em nome da unidade das forças e da unidade da frente operária mostram com isso que não compreendem nem o ABC do comunismo e que somente por circunstâncias fortuitas pertencem ao Partido Comunista.

2. —   O Partido Comunista, tendo assegurado para si uma independência completa graças à unidade ideológica de seus militantes, luta para ampliar sua influência sobre a maioria da classe operária. Esta luta pode ser mais ou menos lenta ou rápida de acordo com as circunstâncias e a coerência maior ou menor da tática com seu objetivo.

Mas é evidente que a luta de classe do proletariado não cessa com esse período de preparação da revolução.

Os conflitos entre a classe operária e os patrões, a burguesia ou o Estado surgem e se desenvolvem sem cessar em consequência da iniciativa de uma ou outra parte.
Nesses conflitos, independente de afetarem os interesses vitais de toda a classe operária ou os de sua maioria ou a apenas uma parte dessa classe, as massas trabalhadoras sentem a necessidade de unidade nas ações, da unidade tanto na defensiva contra o ataque do capital, como na ofensiva contra este. O partido que se opõe mecanicamente a essas aspirações da classe operária à unidade de ação será condenado, irremediavelmente, pela consciência operária.

Assim, portanto, a questão da frente única, tanto por sua origem como por sua essência, não é em absoluto uma questão sobre as relações entre as frações parlamentares comunista e socialista, entre os comitês centrais de um partido e outro, entre a Humanité e o Populaire [jornais do PCF e do PS, respectivamente]. O problema da frente única – apesar da divisão inevitável nessa época entre as diversas organizações políticas que se fundamentam na classe operária – surge da necessidade urgente de assegurar à classe operária a possibilidade de uma frente única na luta contra o capital.

Para aqueles que não compreendem isso, o partido é somente uma associação de propaganda, e não uma organização de ação de massas.

3. —   No caso em que o Partido Comunista represente apenas a uma minoria numericamente insignificante, a questão de sua atitude em relação à frente da luta de classes não tem uma importância decisiva. Sob essas condições, as ações de massas serão dirigidas pelas organizações antigas, que, em razão de suas tradições ainda fortes, seguem exercendo um papel decisivo. Por outro lado, o problema da frente única não se coloca nos países em que, como na Bulgária, o Partido Comunista aparece como a única organização que dirige a luta das massas trabalhadoras. Mas onde o Partido Comunista constitui uma grande força política sem haver alcançado ainda um valor decisivo, onde compreende um terço ou um quarto da vanguarda proletária, a questão da frente única se coloca com toda sua agudeza.

Se o partido abarca um terço ou a metade da vanguarda do proletariado, se deduz que a outra metade ou os outros dois terços fazem parte das organizações reformistas ou centristas. Mas é evidente que os operários que ainda apoiam os reformistas ou centristas estão, também, tão interessados quanto os comunistas na defesa de melhores condições de existência material e em melhores possibilidades de luta. É, então, necessário aplicar nossa tática de tal forma que o Partido Comunista, que é a encarnação do futuro de toda a classe operária, não apareça hoje em dia (e mais ainda que não o seja de fato) como um obstáculo à luta cotidiana do proletariado.

O Partido Comunista deve fazer ainda mais: deve tomar a iniciativa para assegurar a unidade dessa luta cotidiana. Apenas assim se aproximará desses dois terços que não marcham ainda com ele e que ainda não confiam nele porque não o compreendem. Somente dessa forma os conquistará.

4. —   Se o Partido Comunista não houvesse rompido radical e decisivamente com os socialdemocratas, nunca teria se convertido no partido da revolução proletária. Não poderia nem sequer dar o primeiro passo sério rumo à revolução. Haveria sido para sempre uma válvula de segurança parlamentar do Estado burguês.

Não compreender isso é ignorar a primeira letra do alfabeto do comunismo.

Se o Partido Comunista não buscasse as formas de organização que possibilitem a cada momento determinado as ações comuns acordadas entre as massas operárias comunistas e não comunistas (socialdemocratas inclusive) estaria provando, por si mesmo, sua incapacidade para conquistar a maioria da classe operária por meio de ações de massas. Degeneraria em uma sociedade de propaganda comunista e nunca se desenvolveria como partido para a conquista do poder.

Não é suficiente possuir um machado, é necessário afiá-lo. Não é suficiente afiá-lo, é preciso saber usá-lo.

Não é suficiente separar os comunistas dos reformistas e ligá-los por meio da disciplina da organização, a organização deve aprender a dirigir todas as ações coletivas do proletariado sob todas as circunstâncias de sua luta vital.

Essa é a segunda letra do alfabeto comunista.

5. —   A unidade da frente inclui apenas as massas operárias ou também inclui os chefes oportunistas?

Essa pergunta é fruto de um mal entendido.

Se houvéssemos podido reunir as massas operárias ao redor de nossa bandeira, ou de nossas consignas normais, encolhendo as organizações reformistas, partidos ou sindicatos, seria, certamente, a melhor coisa. Mas nesse caso a questão da frente não se colocaria sob sua forma atual.

A questão da frente única se coloca porque frações muito importantes da classe operária pertencem às organizações reformistas ou as apoiam. Sua experiência atual não é ainda suficiente para fazê-las abandoná-las e se organizar conosco.

É possível que após ações de massas que estejam na ordem do dia se produza uma grande mudança. É justamente o que queremos. Mas ainda não chegamos nesse ponto. Os trabalhadores organizados ainda se encontram divididos em três grupos. Um desses grupos, o comunista, tende à revolução social e, precisamente por esse motivo, apoia todo movimento (inclusive parcial) dos trabalhadores contra os exploradores e contra o Estado da burguesia.

Outro grupo, o grupo reformista, tende à paz com a burguesia. Mas, para não perder sua influência sobre os operários, se vê forçado, contra a firme vontade de seus chefes, a apoiar os movimentos parciais dos explorados contra os exploradores.

Por fim, o terceiro grupo, centrista, oscila entre os dois outros, não possuindo valor próprio. Desse modo, as circunstâncias tornam possíveis, em toda uma série de questões vitais, as ações comuns dos operários unidos nesses três tipos de organizações, como também das massas não organizadas que os apoiam.

Não apenas os comunistas não devem se opor a essas ações comuns, mas, ao contrário, devem tomar a iniciativa, justamente porque quanto maiores são as massas atraídas ao movimento, mais alta se torna a consciência de sua força, mais segura se torna de si mesma, e mais se tornam capazes de marchar adiante, por mais modestas que tenham sido as consignas iniciais da luta. Isso quer dizer também que a ampliação do movimento das massas aumenta seu caráter revolucionário e cria condições mais favoráveis para as consignas, para os métodos de luta e, em geral, para a direção do Partido Comunista.

Os reformistas temem o impulso revolucionário em potencial do movimento de massas; a tribuna parlamentar, as sedes sindicais, os tribunais, as antecâmaras dos ministérios são seus lugares favoritos.

Nós, pelo contrário, estamos interessados, acima de qualquer outra consideração, em obrigar os reformistas a sair de seus esconderijos e colocá-los a nosso lado, na frente das massas em luta. Com uma boa tática isso só pode ocorrer em nosso benefício.

O comunista médio que duvida ou que tem medo se parece com um nadador que tenha aprovado a tese sobre o melhor método de natação mas que não se arrisca a mergulhar na água.

6. —   A unidade da frente pressupõe, de nossa parte, portanto, a decisão de organizar na prática nossas ações, dentro de determinados limites e sobre questões determinadas, com as organizações reformistas, enquanto estas representam ainda hoje a vontade de frações importantes do proletariado em luta.

Mas não nos separamos das organizações reformistas? Sim, porque não estamos de acordo com elas nas questões fundamentais do movimento operário.

E, no entanto, buscaremos um acordo com elas?

Sim, cada vez que a massa que as segue esteja pronta a atuar em conjunto com a massa que nos segue e cada vez que os reformistas se vejam mais ou menos forçados a se converterem no instrumento dessa ação.

Mas não dirão que, após termos nos separado deles, temos necessidade deles?

Sim, seus oradores poderão dizer isso. E alguns dentre nós poderão se horrorizar por causa disso. Enquanto as grandes massas operárias, inclusive aquelas que não nos seguem e que não compreendem nossos objetivos, mas que veem a existência paralela de duas ou três organizações operárias, essas massas deduzirão de nossa conduta que, apesar de nossa divisão, procuramos com todas as nossas forças facilitar a unidade de ação.

7. —   A política de frente única, contudo, não traz em si mesma garantias para a unidade de fato em todas as ações. Pelo contrário, em numerosas ocasiões, pode ser que na maior parte delas, o acordo das diferentes organizações só chegará a ser cumprido pela metade ou em nada. Mas é necessário que as massas em luta possam se convencer em todas as ocasiões que a unidade de ação não fracassou por culpa de nossa intransigência formal, mas sim por culta da ausência de uma verdadeira vontade de luta dos reformistas.

Fazendo acordos com outras organizações nos impomos, sem lugar a dúvidas, determinada disciplina de ação. Mas essa disciplina não pode ter um caráter absoluto. Se os reformistas sabotam a luta, se opõem à disposição das massas, nos reservamos o direito de sustentar a ação até o fim, prescindindo de nossos aliados temporários, como uma organização independente.

Uma renovação encarniçada das lutas entre nós e os reformistas poderá ser o resultado disso. Mas isso não será uma simples repetição das mesmas ideias em um círculo fechado, isso significará (se nossa tática é boa) uma ampliação de nossa influência dentro de novos ambientes proletários.

8. —   Só o ponto de vista de um jornalista que acredita se afastar do reformismo quando o critica sem sair da redação, e que tem medo de se enfrentar com ele diante das massas operárias, medo de submeter a essas massas a possibilidade de comparar o comunista e o reformista sob condições de igualdade na ação de massas, pode ver nessa política uma aproximação do reformismo. De fato, sob esse temor (que pretende ser revolucionário) da “aproximação” se oculta um fundo de passividade política que tende a conservar o estado de coisas, no qual os comunistas, como os reformistas, têm cada qual seu círculo de influência, seu auditório, sua imprensa, e no qual tudo isso é suficiente para que tanto uns como os outros tenham a ilusão de que fazem uma luta política séria.

9. —   Rompemos com os reformistas e com os centristas para ter liberdade para criticar as traições, a indecisão do oportunismo no movimento operário. Tudo que limitasse nossa liberdade de crítica e de agitação seria, assim, inaceitável para nós. Participamos na frente única mas não podemos nos dissolver nela em nenhuma hipótese. Intervimos como uma divisão independente.

Justamente na ação é onde as grandes massas devem se convencer de que nós lutamos melhor do que os outros, que vemos com mais clareza, que somos mais valentes e decididos. Assim aproximamos a hora da frente única revolucionária, sob a direção indiscutível dos comunistas.

II —   Os reagrupamentos no movimento operário francês

10. —   Se queremos examinar a questão da frente única em relação à França tendo em conta as teses formuladas acima, teses que se deduzem de toda a política da Internacional Comunista, devemos nos perguntar se na França estamos diante de uma situação em que os comunistas representam, desde o ponto de vista das ações práticas, “uma quantidade insignificante” ou se, pelo contrário, agrupam a maioria dos operários organizados, ou ainda se estão em uma posição intermediária, ou seja: se são suficientemente fortes para que sua participação no movimento de massas tenha um grande valor, mas não o suficiente para concentrar em suas mãos a direção indiscutível. E é bastante certo que na França estamos na presença do terceiro caso.

11. —   No âmbito da organização política, a preponderância dos comunistas frente aos reformistas é indiscutível. A organização e a imprensa comunistas são incomparavelmente mais fortes, mais ricas e vivas que a organização e a imprensa dos chamados “socialistas”.

Mas essa preponderância indiscutível está longe de ser suficiente para assegurar ao Partido Comunista francês a direção completa e indiscutível do proletariado francês devido à força das tendências antipolíticas e dos preconceitos que pesam principalmente sobre os sindicatos operários.

12. —   A maior particularidade do movimento operário francês é que os sindicatos operários têm sido, há muito tempo, a cobertura sob a qual se oculta um partido antiparlamentar, de uma forma especial, conhecido pelo nome de sindicalismo.

Os sindicalistas revolucionários podem, de fato, separar-se tanto quanto queiram da política e do partido; nunca poderão negar que eles mesmos constituem um partido político, que aspira apoiar-se nas organizações econômicas da classe operária. Há boas tendências revolucionárias proletárias nesse partido. Mas também apresenta características negativas, falta-lhe um programa preciso e uma organização definida. 
A questão se complica devido ao fato de que os sindicalistas, como todos os outros reagrupamentos da classe operária, estão divididos após a guerra entre reformistas que apoiam a sociedade burguesa e outros que passaram, personificando os melhores elementos, para o lado do comunismo.

E a tendência à manutenção da unidade da frente inspirou, precisamente, não apenas os comunistas, mas também os sindicalistas revolucionários, a melhor tática na luta a favor da unidade da organização sindical do proletariado francês. Pelo contrário Jouhaux, Merrheim [Léon Jouhaux (1879-1954) foi secretário geral da central sindical francesa CGT (Confédération Générale du Travail) entre 1910 e 1947 tendo seus “bons serviços prestados” à conciliação entre trabalhadores e capitalistas reconhecida com o recebimento do Prêmio Nobel da Paz em 1951; Merrheim era um sindicalista pacifista e contrário a qualquer atuação dos operários em partidos. Na conferência de Zimmerwald foi um dos líderes da maioria, em oposição à política de Lenin de transformar a guerra imperialista em guerra civil revolucionária; foi ferrenho opositor à revolução russa. NdT] e e todos os de seu tipo entraram na via da cisão, impelidos pelo instinto dos que se encontram falidos, que sentem que não poderão sustentar diante da massa operária a competição contra os revolucionários na ação. A luta, de importância colossal, que se desenvolve hoje em dia em todo o movimento sindical francês entre os reformistas e os revolucionários, se apresenta a nós como uma luta a favor da unidade de organização sindical e, ao mesmo tempo, a favor da unidade da frente sindical.

III —   Movimento sindical e Frente Única

13. —   O comunismo francês se encontra, no que concerne a ideia da frente única, em uma situação excepcionalmente favorável. O comunismo francês conseguiu conquistar, no marco da organização política, a maioria do velho Partido Socialista; depois disso os oportunistas agregaram a todas as suas outras qualidades políticas a de liquidadores de organização. Nosso partido francês assinalou esse fato qualificando a organização socialista-reformista como dissidente; esse fato por si só evidencia o fato de que são os reformistas que destruíram a unidade de ação e organização política

14. —   No domínio sindical, os elementos revolucionários, e os comunistas em primeiro lugar, não devem ocultar de sua própria visão nem da de seus inimigos a magnitude da profundidade das diferenças de pontos de vista entre Moscou e Amsterdã [as cidades são, respectivamente, referências às sedes da Internacional Sindical Vermelha (Profintern), ligada à Internacional Comunista, e à Federação Sindical Internacional (FSI), ligada à Internacional Socialista. NdT], diferenças que não são de forma alguma o resultado de simples correntes de opinião nas fileiras do movimento operário, mas sim o reflexo do antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Mas os elementos revolucionários, ou seja, antes de tudo, os elementos comunistas conscientes, nunca defenderam a saída dos sindicatos ou a divisão da organização sindical. Esta consigna caracteriza os agrupamentos sectários e localistas do KAPD [sigla para Partido Comunista Operário Alemão, uma dissidência do Partido Comunista Alemão fundada em 1920 e que rechaçava a democracia soviética, o modelos leninista de partido, bem como a atuação nas eleições e nos sindicatos dirigidos pelos reformistas. NdT], determinados grupos “libertários” na França, que nunca exerceram influência entre as massas populares, que não tem a esperança e nem o desejo de conquistar essa influência, mas que se confinam a pequenas paróquias bem definidas. Os elementos verdadeiramente revolucionários do sindicalismo francês sentiram instintivamente que não se pode conquistar a classe operária no movimento sindical se não se opõe o ponto de vista revolucionário e os métodos revolucionários ao ponto de vista e métodos dos reformistas no domínio da ação de massas, defendendo ao mesmo tempo e com a maior energia a unidade de ação.

15. —   O sistema de núcleos na organização sindical, que foi adotado pelos revolucionários, representa a forma de luta mais natural para alcançar a influência ideológica e a favor da unidade da frente, aplicável sem que se destrua a unidade da organização.

16. —   Assemelhando-se aos reformistas do Partido Socialista, os reformistas do movimento sindical tomaram a iniciativa da ruptura. Mas precisamente a experiência do Partido Socialista sugeriu a eles que o tempo trabalha a favor do comunismo e que se pode combater a influência da experiência e do tempo apressando a ruptura. Vemos, por parte dos dirigentes da CGT [Confederação Geral do Trabalho, central sindical francesa cuja direção reformista expulsa os comunistas em 1921, que fundam a CGT-U (Unitária, explicitando seu desejo de manter a unidade sindical).NdT], todo um sistema de medidas tendentes a desorganizar a esquerda, privá-la dos direitos que lhes são conferidos pelos estatutos dos sindicatos e, por fim, excluí-la (contrariamente aos estatutos e costumes) de toda organização sindical.

Por outro lado, vemos a esquerda revolucionária defendendo seus direitos no âmbito das formas democráticas da organização operária, e se opondo à cisão decretada pelos dirigentes das confederações mediante o chamado às massas em favor da unidade sindical.

17. —   Todo operário consciente deve saber que quando os comunistas não eram mais do que um sexto ou um terço do Partido Socialista, não pensavam de forma alguma na divisão, firmemente convencidos de que a maioria do partido não tardaria em lhes seguir. Quando os reformistas foram reduzidos a um terço, levaram a cabo a ruptura, não tendo nenhuma esperança em conquistar a maioria na vanguarda proletária.

Todo operário consciente deve saber que quando os elementos revolucionários se enfrentaram com o problema sindical, decidiram, na época em que eram apenas uma ínfima minoria, no sentido do trabalho nas organizações comuns, convencidos de que a experiência da época revolucionária levaria rapidamente a maioria dos sindicatos à adoção do programa revolucionário. Quando os reformistas viram a oposição revolucionária crescer nos sindicatos, recorreram imediatamente às medidas de expulsão e à ruptura porque não tinham nenhuma esperança de reconquistar o terreno perdido.

Disso se podem fazer numerosas deduções de grande importância:

  1. As diferenças existentes entre nós e os reformistas refletem em sua essência o antagonismo entre a burguesia e o proletariado;
  2. A democracia mentirosa dos inimigos da ditadura proletária foi desmascarada completamente, posto que não estão dispostos a admitir os métodos da democracia operária, não apenas nos marcos do estado, mas também no da organização operária: quando essa democracia se volta contra eles, se separam, com os dissidentes do partido, ou expulsam seus adversários (como MM Jouhaux, Dumoulin e cia.). De fato, seria absurdo crer que a burguesia consinta em qualquer momento em levar a luta contra o proletariado no marco da democracia se os agentes da burguesia na organização sindical e política não conseguem resolver as questões do movimento operário no terreno da democracia operária, no qual teria aceitado, aparentemente, as regras.

18. —   A luta a favor da unidade de organização e ação sindicais é, de agora em diante, um dos problemas mais importantes dos que estão colocados para o Partido Comunista. Trata-se não apenas de reunir um número cada vez maior de operários sob o programa e a tática comunistas. Trata-se de mais do que isso; para o Partido Comunista, trata-se de buscar, por meio de sua ação e da dos comunistas sindicalizados, reduzir ao mínimo, em cada situação apropriada, os obstáculos que a divisão coloca para o movimento operário. Se a divisão da CGT se agrava em breve, apesar de todos os nossos esforços com vistas a refazer a unidade, isso não significaria de nenhuma maneira que a CGT Unitária, que reúne a metade ou mais da metade do total dos sindicalizados, deveria continuar seu trabalho ignorando a existência da CGT reformista. Uma atitude assim impediria consideravelmente (se não por completo) a possibilidade de uma ação comum do proletariado e facilitaria consideravelmente à CGT reformista exercer o papel de uma União Cívica burguesa durante as greves, manifestações, etc. Permitiria a ela levar a CGT Unitária a ações inoportunas das quais ela sofreria completamente as consequências. Sob todos os enfoques é evidente que, todas as vezes que as circunstâncias permitam, a CGT Unitária, considerando necessário levar adiante qualquer campanha, dirigirá abertamente à CGT reformista propostas concretas e lhe irá propor um plano de ações comuns. E a CGTU não deixará de exercer sobre a organização reformista a pressão da opinião operária e de desmascarar diante dessa opinião pública seus espantos e dúvidas.

Assim, inclusive no caso de que a divisão sindical se agravasse, os métodos de luta pela frente única conservariam todo seu valor.

19. —   Pode-se constatar que, no terreno mais importante do movimento operário (no terreno sindical) o programa de unidade das ações precisa de uma aplicação mais contínua, mais perseverante e mais firme das consignas sob as quais se levou adiante nossa luta contra Jouhaux e companhia.

IV — A luta política e a unidade da frente

20. —   No âmbito político uma diferença importante nos atinge, em primeiro lugar pelo fato de que a supremacia do Partido Comunista sobre o Partido Socialista, tanto em organização como em matéria de imprensa, é considerável. Pode-se supor que o Partido Comunista é capaz, por causa disso, de assegurar a unidade da frente política e que não tem motivos para dirigir à organização dissidente nenhuma proposta de ações concretas. A questão, colocada assim, baseando-se na apreciação da relação de forças, não tem nada em comum com a verborragia revolucionária e merece ser examinada.

21. —   Considerando que o Partido Comunista conta com cerca de 130.000 militantes, enquanto o Partido Socialista não tem mais de 30.000, o enorme triunfo da ideia comunista na França se torna evidente. Mas se essas cifras são comparadas com os efetivos totais da classe operária, se é levada em conta a existência de sindicatos operários reformistas, assim como a existência de tendências anticomunistas nos sindicatos revolucionários, a questão da hegemonia do Partido Comunista no movimento operário se apresenta a nós como um problema extremamente árduo que está longe de haver sido resolvido por nossa preponderância numérica sobre os dissidentes. Esses últimos podem, sob determinadas circunstâncias, ser um fator contrarrevolucionário no interior da classe operária muito mais importante do que aparenta à primeira vista se julgarmos apenas pela debilidade de sua organização, da tiragem e conteúdo ideológico do Populaire.

22. —   Para apreciar a situação convém entender, muito claramente, como ela se produz. A transformação da maioria do antigo Partido Socialista em Partido Comunista foi o resultado do descontentamento e da revolta que a guerra fez nascer em todos os países da Europa.

O exemplo da revolução russa e as consignas da Terceira Internacional pareciam indicar o caminho a seguir. No entanto, a burguesia se manteve durante os anos de 1919-1920 e reestabeleceu, por diversos meios, o equilíbrio minado, não obstante, por terríveis contradições, e que evolui rumo a uma grande catástrofe, ainda que conservando hoje em dia e para o futuro próximo uma certa estabilidade. A revolução russa somente conseguiu cumprir suas tarefas lentamente, por meio de um máximo esforço de todas as suas forças, superando as maiores dificuldades e os obstáculos colocados pelo imperialismo mundial. A consequência foi que o primeiro fluxo das tendências revolucionárias, sem formas precisas e sem espírito crítico, foi seguido por um inevitável refluxo. Sob a bandeira do comunismo está apenas a parte mais corajosa, a mais decidida e a mais jovem da classe operária.

Isso não significa, certamente, que as grandes massas da classe operária, desiludidas em suas esperanças na revolução imediata e nas mudanças radicais, tenham voltado às suas antigas posições de antes da guerra. Não. Seu descontentamento é mais profundo do que nunca, seu ódio aos exploradores é mais agudo ainda. Mas estão politicamente desorientadas, buscam sem encontrar o caminho, lidam passivamente com as oscilações bruscas de um lado para o outro de acordo com as circunstâncias. A grande reserva de elementos passivos, desorientados, poderia ser amplamente utilizada contra nós sob determinadas conjunturas.

23. —   Para apoiar o Partido Comunista é necessário atividade e dedicação. Para apoiar os dissidentes é necessário e suficiente ser passivo e estar desorientado. É completamente natural que a parte ativa revolucionária da classe operária forneça, guardadas as proporções, um número maior de militantes ao Partido Comunista do que a parte passiva, desorientada, fornece ao partido dos dissidentes.

O mesmo ocorre com a imprensa. Os elementos indiferentes leem pouco. A baixa tiragem e o conteúdo vazio do Populaire refletem igualmente a disposição de espírito de determinada parte da classe operária. A supremacia completa no partido dos dissidentes de intelectuais profissionais sobre os operários não entre em contradição com nosso diagnóstico e nosso prognóstico, dado que a fração pouco ativa da classe operária, em parte decepcionada e em parte desorientada, é, justamente e sobretudo na França, a que constitui uma reserva na qual se alimentam as camarilhas políticas formadas por advogados e jornalistas, de curandeiros reformistas e charlatães parlamentares.

24. —   Se a organização do partido é considerada como um exército ativo e a massa operária não organizada como suas reservas, e se admitimos que nosso exército ativo é três ou quatro vezes mais forte que o exército ativo dos dissidentes, poderia ocorrer que em determinadas circunstâncias as reservas se dividissem entre nós e os reformistas em uma proporção bem pouco vantajosa para nós.

25. —   A ideia de um bloco de esquerdas paira no ambiente político francês. Após o novo período de poincarismo [referência ao retorno de Raymond Poincaré, que havia sido presidente durante a Primeira Guerra Mundial, ao cargo de primeiro ministro francês em 1922 com uma retórica nacionalista e de impor à Alemanha as indenizações de guerra. No ano seguinte à escrita desse texto Poincaré comandou a ocupação do Ruhr para impor à Alemanha o pagamento das indenizações de guerra. NdT], que é o ensaio feito pela burguesia para apresentar ao povo o prato requentado das ilusões na vitória, uma reação pacifista nos círculos mais amplos da sociedade burguesa, ou seja, na pequena burguesia, é muito provável. A esperança de um apaziguamento geral em acordo com a Rússia soviética, a possibilidade de receber dela matérias primas em condições vantajosas, a possibilidade do pagamento das dívidas, o alívio dos custos militares, etc., em uma palavra, o programa ilusório do pacifismo democrático pode, durante um certo tempo, t0rnar-se o programa do bloco de esquerdas, que tomaria o lugar do bloco nacional. A partir do ponto de vista do desenvolvimento da revolução na França, uma tal mudança de regime será um passo adiante, com a condição expressa de que o proletariado caia o menos possível nas ilusões do pacifismo pequeno burguês

26. —   Os reformistas dissidentes serão os agentes do bloco de esquerdas na classe operária. Quanto maior seja seu sucesso, menos a classe operária será atingida pela ideia e a prática da frente única operária contra a burguesia. As camadas de operários desorientadas pela guerra e a lentidão da revolução podem depositar suas esperanças no bloco de esquerdas como mal menor, ao não ver outros caminhos e pensando em não arriscar nada.

27. —   Um dos meios mais seguros de combater as tendências e as ideias do bloco de esquerdas na classe operária – ou seja, do bloco dos operários com uma parte da burguesia contra outra parte desta – é defender com resolução e perseverança a ideia do bloco de todos os partidos da classe operária contra toda a burguesia.

28. —   Em relação aos dissidentes, isto quer dizer que não devemos permitir a eles manter sem perigo uma posição de expectativa vacilantes nas questões relacionadas com a luta do movimento operário, nem gozar da proteção dos opressores da classe operária expressando, ao mesmo tempo, sua simpatia platônica com a classe operária. Em outras palavras, podemos e devemos, em todas as ocasiões apropriadas, propor aos dissidentes ir em socorro aos grevistas, dos que estão submetidos a lockouts, dos paralisados, dos mutilados pela guerra, etc., e isso sob uma forma determinada, assinalando diante da classe operária suas respostas formais a nossas petições precisas e os desmascarando, assim, diante das diversas frações das massas politicamente indiferentes ou semi-indiferentes, massas sobre as quais eles esperam se apoiar em determinadas circunstâncias.

29. —   Essa tática aumenta sua importância na medida em que os dissidentes estão, indiscutivelmente, em estreita relação com a CGT reformista, representando junto com ela duas formas de ação da burguesia no movimento operário. Atacamos, assim, ao mesmo tempo no campo sindical e no campo político essa ação de duas caras, aplicando aqui e lá os mesmos métodos táticos.

30. —   A lógica irrefutável de nossa ação se expressa assim: “Reformistas do sindicalismo e do socialismo (dizemos diante das massas), realizais a divisão nos sindicatos e no partido em nome de ideias e métodos que nós consideramos errôneos e criminosos. Pedimos a vocês, ao menos quando se colocam problemas parciais, imediatos e concretos na ação da classe operária, que não coloquem mais obstáculos, que tornem possível a unidade de ação. Em tal caso concreto propomos a vocês tal programa de luta”.

31. —   Igualmente no domínio da ação parlamentar ou municipal, podemos aplicar com êxito o método indicado. Dizemos às massas: “os dissidentes dividiram o partido operário porque não querem a revolução. Seria uma loucura contar com sua colaboração para a obra da revolução operária. Mas estamos dispostos a fazer com eles determinados acordos no parlamento bem como fora do parlamento a cada vez que, tendo que escolher entre os interesses particulares da burguesia e os interesses do proletariado, nos garantam optar por esses últimos.” Os dissidentes somente podem fazê-lo renunciando à aliança com os partidos burgueses, renunciando ao bloco de esquerdas e entrando no bloco do proletariado. Se os dissidentes são capazes de aceitar essas condições, os elementos operários que os seguem prontamente serão absorvidos pelo Partido Comunista. Mas, precisamente por essa razão, os dissidentes não aceitarão essas condições. Em outras palavras, às questões colocadas de forma clara e transparente, à requisição de se pronunciar a favor do bloco com a burguesia ou a favor do bloco com a classe operária (sob condições concretas e muito claras da luta de classes) se veriam forçados a responder que preferem o bloco com a burguesia.

Tal resposta não deixará de ter más consequências para eles entre as massas com cujo apoio contam.

V —   As questões internas do Partido Comunista

32. —   A política que acabamos de esboçar supõe sem dúvida uma independência completa da organização, uma completa clareza ideológica e uma grande firmeza revolucionária por parte do Partido Comunista.

Assim, por exemplo, não se pode levar adiante com sucesso completo uma política que tenda a desacreditar a ideia do bloco de esquerdas na classe operária se nas fileiras de nosso próprio partido existam aqueles que ousem defender abertamente o programa atual da burguesia. A expulsão incondicional e inflexível de todos os que preconizam o bloco de esquerda se converte em um dos deveres elementares do Partido Comunista. Isso limpará nossa política de elementos duvidosos, chamará a atenção dos operários avançados sobre a agudeza da questão do bloco de esquerda e mostrará que o Partido Comunista leva a sério todas as questões que ameaçam a unidade revolucionárias das ações do proletariado contra a burguesia.

33. —   Aqueles que tentem se servir da ideia de frente única para refazer a unidade com os reformistas e os dissidentes devem ser excluídos inflexivelmente de nosso partido, pois são os agentes dos dissidentes em nosso interior e enganam os operários sobre os verdadeiros causadores da divisão e sobre suas causas. Estes, em lugar de colocar corretamente a questão da possibilidade de tais ou quais ações práticas a serem levadas a cabo em acordo com os dissidentes, apesar de seu caráter pequeno burguês, pedem a nosso partido que renuncie a seu programa prático e aos métodos revolucionários. A exclusão inflexível desses elementos mostrará, melhor do que qualquer outra coisa, que a tática da frente única não tem nada que se pareça com uma capitulação ou a paz com os reformistas. A tática da frente única dá ao partido uma completa liberdade de manobra, flexibilidade e decisão. E isso só é possível se o partido proclama em todas as ocasiões, de forma clara e transparente, tudo o que quer, o objetivo que possui e se realiza abertamente diante das massas suas próprias ações e propostas.

34. —   É, portanto, completamente inadmissível que determinados membros do partido publiquem por sua própria conta órgãos políticos nos quais opõem suas consignas e seus métodos às teses, os métodos de ação e as propostas do partido.

Estes membros propagam a cada dia, sob a égide do Partido Comunista, nos meios em que o partido tem autoridade, ou seja, em nosso próprio âmbito, as ideias que nos são hostis; ou, ainda pior, semeiam a confusão e o ceticismo, mais prejudicial que a ideologia claramente hostil. Os órgãos que levam adiante essa fraude, assim como seus editores, devem ser expulsos do partido de uma vez por todas e denunciados em toda a França operária a fim de que esta condene severamente os contrabandistas pequeno burgueses que operam sob a bandeira comunista.

35. —   É igualmente inadmissível que apareçam nos órgãos dirigentes do partido, junto a artigos defendendo as teses fundamentais do comunismo, artigos que discutem essas mesmas teses ou que as negam. É completamente inadmissível, e inclusive monstruoso, que se prolongue no partido um regime de imprensa que oferece à massa de leitores operários, por meio de artigos de fundo, nos órgãos submetidos a uma direção comunista, artigos nos quais se tenta nos fazer retornar às posições do mais lamentável pacifismo e que pregam aos operários, diante da triunfante violência da burguesia, o ódio pegajoso a toda violência. Sob o pretexto do antimilitarismo se luta contra as ideias da revolução e da insurreição. Se após a experiência da guerra e dos acontecimentos que lhe sucederam, sobretudo na Rússia e na Alemanha, ainda subsistem, no Partido Comunista, os preconceitos do pacifismo humanitário e se o Comitê Diretor considera útil, com o objetivo de liquidar definitivamente estes preconceitos, abrir uma discussão sobre essa questão, não é, contudo possível que os pacifistas possam aparecer nessa discussão com seus preconceitos como uma tendência admitida; devem ser, pelo contrário, severamente repreendidos pela voz autorizada do partido personificada pelo Comitê Diretor.

Quando o Comitê Diretos julgue esgotada a discussão, as tentativas de propagação das ideias pegajosas do tolstoismo [referência à doutrina pacifista de Leon Tolstoi, romancista russo do século XIX que influenciou Gandhi, por exemplo. NdT] ou de qualquer outra forma de pacifismo deverão supor a exclusão do partido.

36. —   Pode-se dizer, certamente, que enquanto a depuração do partido dos preconceitos do passado e sua consolidação interna não se vejam terminados, será perigoso colocar o partido em situações nas quais deva entrar em combate com os reformistas e os socialpatriotas. Semelhante afirmação seria errônea. Não se pode negar, na realidade, o fato de que a passagem de um simples trabalho de propaganda à participação direta no movimento de massas traz em si mesma novas dificuldades e, portanto, novos perigos para o Partido Comunista. Mas seria errôneo crer que o Partido pode se preparar para todas as provas sem essa participação direta na luta e sem entrar em contato com os inimigos. Pelo contrário, só por essa via se pode alcançar uma verdadeira limpeza interior e uma verdadeira consolidação do partido. Pode ocorrer que determinados elementos da burocracia do partido ou dos sindicatos se sintam mais próximos dos reformistas, dos quais se separaram acidentalmente, do que de nós. A perda de tais companheiros de estrada não será um mal, mas, pelo contrário, se verá compensada em cem vezes pela afluência ao partidos dos operários e operárias que ainda seguem os reformistas. O resultado será uma maior homogeneização do partido, que se converterá em mais enérgico e proletário.

VI —   As tarefas do partido no movimento sindical

37. —   Nos parece muito mais importantes que todas as outras tarefas do Partido Comunista a de jogar a maior luz possível sobre a questão sindical. Sem dúvidas, compete a nós destruir completamente e desmascarar a lenda propagada pelos reformistas sobre nossos pretensos planos de submeter os sindicados ao partido. Os sindicatos acolhem os operários de todas as colorações políticas, sem partido, livres pensadores, crentes, etc. enquanto o partido reúne aqueles que têm uma mesma crença política baseada em um determinado programa. O partido não tem, e não pode ter, nenhum meio para submeter a partir de fora os sindicatos.

O partido só pode organizar sua influência nos sindicatos na medida em que seus membros trabalhem nesses sindicatos e façam admitir dentro deles os pontos de vista do partido. Sua influência sobre os sindicatos depende, naturalmente, de seu número, assim como de sua maneira de aplicar, em uma justa medida, de uma forma consequente e apropriada, os princípios do partido às necessidades particulares do movimento sindical. O partido tem o direito e o dever de colocar a si como objetivo alcançar, nessa via, uma influência decisiva nas organizações sindicais. Chegará a isso quando o trabalho dos comunistas nos sindicatos se realize completamente e em todos os sentidos conforme os princípios do partido e sob seu controle permanente.

38. —   É necessário que em todas as partes a consciência dos comunistas seja libertada definitivamente dos preconceitos reformistas, que apenas veem no partido uma organização política parlamentar do proletariado. O Partido Comunista é a organização da vanguarda proletária para a direção do movimento operário em todos os seus terrenos e, em primeiro lugar, no terreno sindical. Se os sindicatos não estão sob a dependência do partido, mas sim são organizações completamente autônomas, os sindicalizados comunistas, por sua parte, não podem pretender nenhuma autonomia em sua atividade sindical e têm que defender o programa e a tática de seu partido. Deve-se condenar severamente a conduta de determinados comunistas que não apenas não lutam nos sindicatos a favor da influência do partido mas também se opõem a uma ação nesse sentido em nome de uma falsa interpretação da autonomia sindical. Com essa atitude facilitam aos indivíduos, grupos e camarilhas sem programa determinado e sem organização do partido e que utilizam a confusão dos agrupamentos ideológicos e das relações, a aquisição de uma influência decisiva nos sindicatos, onde esses elementos conquistam a organização com o fim de liberar a camarilha do controle eficaz da vanguarda operária.

Se o partido, em sua atividade no interior dos sindicatos deve dar provas de uma grande atenção e de uma grande paciência em relação às massas sem partido e seus representantes sinceros e conscienciosos; se o partido deve se aproximar, por meio do trabalho em comum, dos melhores elementos do sindicalismo, e especialmente dos anarquistas-revolucionários que lutam e aprendem, não pode, pelo contrário, sofrer por mais tempo os efeitos dos pretensos comunistas em seu meio, que se servem de sua qualidade de membros do partido para desenvolver com maior segurança nos sindicatos uma influência contrária ao partido.

39. —   O partido deve submeter a uma crítica contínua e sistemática, por meio da imprensa e de seus militantes sindicalizados, as carências do sindicalismo revolucionário frente à solução dos problemas fundamentais do proletariado. O partido deve criticar infatigavelmente e obstinadamente as debilidade da teoria e da prática do sindicalismo, demonstrando, ao mesmo tempo, aos seus melhores elementos que a única via justa para a orientação revolucionária dos sindicatos e do conjunto do movimento operário é a adesão dos sindicalistas revolucionários ao Partido Comunista, sua participação nas discussões e decisões de todas as questões fundamentais do movimento, sua participação no estudo dos novos problemas assim como a depuração do Partido Comunista no reforço de sua ligação com as massas operárias.

40. —   É, por fim, completamente necessário fazer um censo dos membros no Partido Comunista francês precisando sua condição social: operário, empregado, camponês, intelectual, etc., sua relação com o movimento sindical (se são membros de um sindicato, se assistem às reuniões dos comunistas, dos sindicalistas revolucionários, se fazem com que sejam aprovadas as decisões dos partidos relacionadas aos sindicatos, etc.) e sua relação com a imprensa do partido (que publicações do partido leem, etc.). Esse censo deveria ser feito de forma que seja possível ter os resultados no IV Congresso da Internacional Comunista.

* Os artigos aqui reproduzidos não expressam necessariamente a opinião deste Diário

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