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O perigo continua

Uma reflexão sobre a crise no governo Lula

Análise dos últimos acontecimentos: o que está ocorrendo? Como Lula está lidando com a situação? Qual o papel do imperialismo? O que fazer?

Fica cada vez mais claro que um setor das Forças Armadas planejou a invasão bolsonarista do último domingo (08) em Brasília. Entretanto, se a decisão de desestabilizar o governo Lula, com apenas uma semana de mandato, não foi consensual entre o alto comando militar, ao menos houve o consentimento da ala não bolsonarista. Se alguém ficou contra a ação, foi um setor ínfimo e insignificante das Forças Armadas.

A turba bolsonarista agiu com total liberdade ao ocupar as sedes dos Três Poderes. É consenso, mesmo na imprensa burguesa, que o aparato de segurança não agiu e permitiu a invasão. Os sabotadores exploraram o ponto mais fraco do governo Lula. 

José Múcio tem culpa no cartório, não deveria sequer ter sido escolhido como ministro da Defesa. Ao invés de ser um interlocutor entre Lula e o Exército e sua ala bolsonarista, ele não passa de um embaixador das Forças Armadas dentro do governo, como bem escreveu Jeferson Miola no Brasil 247. Gonçalves Dias está totalmente alheio ao que ocorre no alto oficialato das Forças Armadas, e por isso não agiu, ou sabia e foi cúmplice da ação desestabilizadora. Ele esteve à frente do aparato que substituiu o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) após Lula dissolver o órgão já em seu primeiro mandato, e também no segundo mandato. Portanto, tem experiência no cargo. É muito difícil que tenha sido pego de surpresa.

Quem realmente foi pego de calças curtas foi o ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele seria o único homem de verdadeira confiança de Lula entre os três principais responsáveis dentro do governo. Por isso mesmo é o maior de todos os culpados pela falha catastrófica na segurança no dia 8. Mas Dino confiou cegamente na burguesia, na direita e nos militares. Por quê? Porque, apesar de ser de esquerda, sempre foi um político burguês, membro do aparato judicial do Estado, aliado do PSDB no Maranhão, um dos maiores entusiastas da frente ampla com toda a direita golpista. Portanto, ele tem as mais absolutas ilusões no “republicanismo”. Seu tapete foi facilmente puxado, foi como roubar o doce de uma criança. A Força Nacional de Segurança foi acionada e agiu somente quando o estrago já havia sido feito, quando o normal seria ela prevenir o ataque, cercar o perímetro da sede dos poderes e impedir que os manifestantes chegassem perto.

A total ineficiência do governo levou a uma desmoralização no meio da população e de seus próprios inimigos. Não adianta tapar o sol com a peneira: o governo entrou em crise.

Uma reação tardia e inútil

As chamadas instituições decidiram finalmente agir, quando já era tarde. Alexandre de Moraes promove neste momento uma perseguição política passando-se, pela enésima vez, por herói antifascista. Mas essa “caça aos terroristas” não passa de uma fachada. Segundo as informações, foram presos cerca de 1.400 bolsonaristas acusados de envolvimento no ato. Mas as imagens da invasão mostraram diversos militares no meio da turba. Praticamente nenhum foi preso. Ninguém importante foi preso.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, não passa de outro bode expiatório. Tem lá a sua culpa, pois não fez nada para deter a invasão, mas está longe de ser um dos grandes responsáveis pelo ataque ao governo Lula. Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública do DF e ex-ministro de Bolsonaro, no máximo agiu seguindo ordens. É outro bode expiatório. O único peixe mais graúdo que foi punido foi Fabio Augusto Vieira, então chefe da PM do DF. Ficaremos atentos ao que acontecerá com ele.

Isso significa que a grande “caça dos terroristas” de Alexandre de Moraes não passa de pura demagogia punitivista. Só atinge os peixes pequenos e os utiliza como bodes expiatórios. É provável que a maioria dos presos sequer seja condenada. Muitos, apesar de não serem pessoas importantes, têm as costas quentes. Tudo não passou, até agora, de mero jogo de cena.

O clima político continua tenso. O bolsonarismo tem uma grande base social e boa parte dela apoia a invasão de domingo. É ingenuidade acreditar que quase a totalidade da população brasileira condena a invasão. Os casos de sabotagem contra a rede elétrica em alguns estados e as manifestações bolsonaristas indicam que a situação continua pegando fogo. E quanto mais o governo passar a impressão de que está reprimindo os bolsonaristas, pior vai ficar. É visível que o governo está na defensiva. O país continua dividido.

A ficha começa a cair

Em café da manhã com jornalistas, realizado ontem (12) no Palácio do Planalto, o presidente Lula demonstrou que começa a entender a situação, após uma primeira reação absurdamente confusa.

“As Forças Armadas não são o poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. É isso o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição. É isso que quero que seja bem feito”, declarou Lula. E completou dizendo que tem “muita gente das Forças Armadas aqui de dentro coniventes”.

No entanto, o governo não age. Enquanto isso, tudo indica que os militares têm uma política de desestabilização sistemática do governo, que escalou precisamente por causa do escorregão inadmissível de Flávio Dino e da cumplicidade de Múcio e G. Dias. Isso não significa que a intenção dos militares seja dar um golpe de Estado imediatamente. Eles sabem que isso é difícil de executar. O que querem é colocar o governo Lula em uma situação cada vez mais delicada através de “aproximações sucessivas”, como disse uma vez o general Hamilton Mourão – que certamente está envolvido no caso.

Envolvimento do imperialismo?

É de conhecimento público, embora não seja um escândalo de interesse da imprensa, que o aparato de repressão e segurança do País está totalmente infiltrado pelos serviços de espionagem dos Estados Unidos, particularmente pela CIA. Já foi noticiado pela Folha de S.Paulo que ela e o FBI mantêm agentes operando por todo o território nacional dentro da Polícia Federal. Bob Fernandes revelou, há 20 anos na Carta Capital, que o FBI controla a PF. Poderíamos chamar a Polícia Federal de “polícia filial”, tamanha é sua dependência dos órgãos de inteligência norte-americanos. O mesmo vale para a Abin. O jornalista Pepe Escobar, um dos mais bem informados do mundo, afirmou que uma fonte de extrema confiança do “Deep State” norte-americano o revelou que a CIA teria participação na invasão em Brasília. Além disso, diversos agentes da companhia teriam chegado ao Brasil durante as últimas eleições.

Embora pareça que a ordem para a invasão e a desestabilização do governo Lula não tenha sido dada por Washington, é praticamente impossível que a CIA não soubesse. Se não houve uma participação ativa dela, ao menos deve ter havido uma conivência. Portanto, se o governo Lula e a esquerda estão esperando algum apoio do governo dos EUA contra um eventual golpe, podem esperar sentados. O imperialismo não defenderá o governo de um golpe. E, se estiver por trás dos eventos de domingo, isso significaria que buscará um golpe contra Lula nos próximos meses.

O que fazer?

Fato é que o governo começou com o pé esquerdo. Não no sentido de aplicar uma política de esquerda, mas de começar muito azarado. E não está sabendo lidar com a situação. A sanha persecutória não vai resolver nada. Os punidos serão os inofensivos. Os perigosos ficarão intocados. Deslocar-se à direita diante da ameaça desestabilizadora da direita é uma política suicida.

É preciso agir imediatamente, e agir corretamente. A grande força do governo Lula está em seu apoio nos trabalhadores. É preciso organizá-los para a luta contra a desestabilização. O Partido da Causa Operária (PCO) já iniciou a campanha para a convocação de uma Plenária Nacional do Bloco Vermelho, formado também pelos Comitês de Luta e outras organizações do movimento popular, como companheiros da FIST, FNL, MNLM, Apeoesp, etc. Ela ocorrerá nos dias 27 e 28 de maio em São Paulo. É preciso uma resposta política contra a extrema-direita e essa resposta só pode ser dada com o apoio do povo organizado.

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