Nas últimas semanas, na verdade desde o início da Copa do Mundo do Catar, fiquei na marcação do comentarista Walter Casagrande Jr., ex-Globo e atual funcionário do golpista portal Uol, do Grupo Folha. O ex-jogador se destacou nesse período recente por críticas desproporcionais, moralistas e infantis contra os jogadores e o técnico da seleção brasileira.
A Copa acabou, mas Casagrande não tirou o pé do acelerador. A cada evento do mundo político, econômico, cultural ou esportivo, Casagrande arruma um jeito de lançar um ataque contra os jogadores brasileiros. Pelo seu desempenho, os jogadores do Brasileirão, em pesquisa feita pelo Uol, elegeram-no como o pior comentarista do Brasil. Concordamos inteiramente com os jogadores.
Após a morte do Rei Pelé, o comentarista constatou em tom acusatório que os campeões da Copa de 1994 e 2002 não compareceram ao velório do Rei. E ainda apontou o suposto motivo: “a grande maioria tem mágoa do Rei”. Casagrande vocifera contra os últimos campeões do mundo como um Deus prestes a decretar o Dilúvio contra os homens que não seguiram a palavra do Senhor: “Nunca dedicaram nada ao Rei. Nenhuma fala, nenhuma homenagem, simplesmente ignoraram a existência do Rei Pelé. Não ter nenhum representante desses dois títulos no velório do Pelé foi vergonhoso para a história do futebol brasileiro.” Só faltou lançar o decreto determinando a extinção desses jogadores ingratos da face da Terra!
Casagrande é um moralista típico. Usa argumentos morais para atacar os seus alvos. Os argumentos morais, pela sua própria natureza, são ideais abstratos, vagos, algo no final das contas inexistente. Os jogadores comeram carne com ouro! Os jogadores são mimados e não aceitam críticas! Os ex-campeões pagam de dirigentes, enquanto os jogadores argentinos vibram com a torcida! Eles são bolsonaristas! Característica marcante dos moralistas, as críticas de Casagrande são sempre superficiais e se referem sempre a aspectos de quinta importância.
Mas eis o que acontece com o moralista. Ele é sempre um vigarista. Casagrande criticou os jogadores por não terem ido ao velório de Pelé, mas ele mesmo, ex-jogador e inclusive ex-jogador de seleção, participante da Copa do Mundo de 1986, também não compareceu. Sua justificativa para a ausência foi a de que, na condição de indivíduo com problemas de alcoolismo e depressão, haveria o risco de “recaídas emocionais”. O ex-goleiro Marcos, histórico jogador do Palmeiras e campeão do Mundo em 2002, também criticado por Casagrande pela ausência, comentou a justificativa: “Piada!”. Concordamos com o campeão de 2002.
Com o moralista é comum acontecer isso. Exige dos outros algo que ele mesmo não realiza. Em nome de um elevado ideal moral, lança raios e trovões contra os infratores. O moralista é como um religioso, digamos, laico. Está sempre à caça dos pecadores. Mas quando se analisa o comportamento e atuação do moralista, vemos que não resta mais do que hipocrisia. A vigarice é o seu modo de ser cotidiano.
À luz da luta de classes ― o único terreno real a partir do qual se pode analisar a realidade, da qual evidentemente o futebol não escapa ―, o moralista só pode cumprir uma função: é um joguete nas mãos da classe dominante. Apoiando-se sobre algo abstrato e esfumaçado, e não sobre os reais interesses da classe dominada, ele só consegue nadar a favor da correnteza, isto é, defender posições que vão ao encontro dos interesses da classe dominante, do imperialismo. O ataque sistemático e venal que desferiu e continua a desferir contra o futebol só pode ser explicado a partir dessa perspectiva. Lembremos: Casagrande foi funcionário fiel da Globo durante 24 anos e hoje é empregado dos Frias no direitista Grupo Folha. Casagrande tem moral com a imprensa golpista e pró-imperialista.