Os recentes acontecimentos em Brasília, nos quais manifestantes da direita, com a total liberação das forças de segurança do Distrito Federal, entraram no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF), dominam os principais assuntos dos meios de comunicação. No entanto, além do fato, que por si só já chama bastante a atenção, há também que se destacar alguns aspectos específicos da cobertura da imprensa, tanto da capitalista como da dita progressista.
Os meios de comunicação voltados aos interesses da burguesia, como já era esperado, iriam aproveitar a situação para condenar as manifestações e recorrer ao aparato de repressão do Estado para conter tais atrocidades. Vale a pena citar que, por mais contrária aos atos praticados pela direita em Brasília, a esquerda não pode ser a favor de que as forças de segurança avancem, mesmo porque também, neste ocorrido, elas permitiram que os grupos bolsonaristas entrassem nos órgãos públicos.
Até por isso, chama a atenção a cobertura da imprensa progressista que, seguindo os moldes dos grandes jornais da época da Ditadura Militar no Brasil, refere-se aos manifestantes como terroristas e baderneiros, como se a ação de protestar, de se revoltar contra o Estado, fosse errada.
Portais como o Brasil 247, Fórum, Carta Capital e Diário do Centro do Mundo são alguns dos meios de comunicação que se classificam como progressistas que estão caindo na armadilha de condenar os atos e deixando de lado a crítica aos objetivos das manifestações, que são destinados a desestabilizar o novo governo assumido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu a Presidência da República há pouco mais de uma semana.
Termos como terroristas, bárbaros, extremistas e criminosos são os que mais aparecem nesses portais. Inclusive até a expressão “guerra ao terror” foi empregada para se referir à necessidade de união para impedir o avanço dos grupos bolsonaristas. Essa expressão tem origem na campanha desencadeada pelo governo norte-americano logo após os atentados de 11 de setembro, que deu início às invasões no Iraque e no Afeganistão.
No corpo das matérias é destacada a importância de ação das Forças do Estado e dos poderes, os mesmos que apoiaram o golpe de Estado de 2016, de agirem e imporem a sua autoridade diante desses acontecimentos, como se isso fosse a solução mais adequada para o cenário político que foi desenhado.
Um discurso muito semelhante a esse foi disseminado pela grande imprensa durante os anos de chumbo no Brasil, quando as pessoas contrárias ao regime militar eram classificadas com os mesmos termos e, da mesma forma que acontece nos dias de hoje, o aparato de repressão era visto como a melhor saída para conter as pessoas que queriam lutar contra a censura e a tortura que predominavam naquele período.
Os meios de comunicação que apoiaram o golpe de 1964 e sustentaram a Ditadura Militar, como O Globo, Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo, só para citar alguns, abusaram desses termos para atacar os manifestantes de esquerda e proteger o regime que imperava no País.
É interessante destacar também como a morte de Carlos Mariguella, um dos principais líderes da luta armada contra o governo na época, chegando a ser considerado inimigo número 1 da ditadura, foi noticiada. A Folha da Tarde deu a seguinte manchete: “Metralhado Mariguella, chefe geral do terror”. Outra manchete da Folha de S. Paulo destaca o seguinte: “Morre no Rio militar baleado por terroristas”. Os estudantes que atuavam contra o regime, de uma forma menos agressiva, mas não menos depreciativa, também eram caracterizados como perturbadores da ordem. O jornal O Globo chegou a publicar o seguinte título para se referir a eles: “Agitadores estudantis começam a depor hoje”.
Não deveria haver semelhanças entre essas coberturas. A esquerda, que tanto foi atacada pela grande imprensa, não pode dar espaço para a própria repressão da qual foi alvo tempos atrás. Além disso, não pode cair no conto de que as instituições irão ajudar, dando ainda mais poder para aqueles que deram a base para o golpe de 2016, que levou aos quatro anos de governo de Jair Bolsonaro.
Tratar os bolsonaristas a partir dos mesmos termos pejorativos pelos quais a esquerda era referida não contribui para a luta contra o fascismo. Apelar para as forças do Estado e para as instituições também não é a saída, pois são justamente eles quem vão direcionar a repressão, quando for conveniente para eles, contra a população. A única forma de derrotar a extrema-direita é saindo às ruas, mostrando que o povo está atento, mobilizado e pronto para defender o governo dos trabalhadores de qualquer ofensiva.