O ex-ministro da fazenda Armínio Fraga foi à Folha de S. Paulo para colocar mais pressão sobre o governo Lula, no sentido da política oficial do imperialismo e dos grandes bancos. O economista começou por dizer que o PT deve mostrar que “aprendeu com os erros do passado” ainda que não admita isso publicamente e seguir uma política neoliberal. O ministro de Fernando Henrique Cardoso tem servido como garoto de recados dos especuladores para o governo Lula desde as eleições, quando se alinhou a alguns outros economistas liberais e chamou o voto em Lula.
O anti-bolsonarismo do “mercado”
Em certa altura da entrevista, Fraga é questionado sobre seu voto em Lula, um voto que ele disse ser um voto exclusivamente político, escondendo que do ponto de vista econômico, tem muito mais acordo com a gestão de Paulo Guedes e Bolsonaro. Disse ele que o voto se dava por conta das ameaças “golpistas e contra a democracia” por parte do então presidente Jair Bolsonaro. Ele argumenta que “ Me preocupava mais com o que aconteceria à democracia do Brasil com Bolsonaro do que o que Lula faria na economia, mesmo não tendo clareza quanto a isso. “
A declaração do banqueiro é cínica no sentido de que sua preocupação nada tem a ver com a chamada democracia, contudo, ele demonstra algo que já havia sido discutido amplamente nas páginas deste Diário: ainda que exista maior afinidade em matéria econômica com Bolsonaro, havia uma preocupação crescente de diversos setores capitalistas nacionais e internacionais com o poder que o bolsonarismo estava adquirindo, em momento algum se tratava de uma aprovação do programa de Lula ou da pessoa dele, era uma política para conter Bolsonaro.
O bolsonarismo realmente estava tirando território da direita tradicional num ritmo alarmante. Diversos estados onde, em condições normais, partidos como o PSDB e MDB teriam uma situação confortável, agora estão completamente tomados pela extrema-direita. É o caso de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, entre outros. Há também estados onde o bolsonarismo não venceu eleições governamentais mas teve um bom resultado, como o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso do Sul.
O que querem os especuladores diante do governo do PT
Em outra altura da sua entrevista, Armínio Fraga, critíca que Lula não tenha planejado realizar um mandato como o seu primeiro, onde teve uma política econômica bastante neoliberal e fiscalista, considerado por muitos na esquerda como o pior dos quatro mandatos petistas. Os banqueiros durante a campanha eleitoral fizeram diversas alusões ao mandato de 2002 em comparação com o novo mandato, de 2022. Contudo, as comparações se assemelhavam mais a um desejo do que uma realidade.
O que vemos no novo mandato, é a decisão de Lula de indicar um Ministro da Fazenda que, mesmo sendo mais à direita, tem uma tendência de fazer aquilo que Lula decidir e, portanto, serviria como um ministro postiço. A medida já é um avanço, se comparada com os momentos anteriores do PT, onde o governo chegou a aceitar uma “privatização” do Ministério da Fazenda, deixando-o na mão dos neoliberais e especuladores.
Fraga criticou também a política de usar as empresas estatais para induzir o crescimento, com o fornecimento de crédito, no caso dos bancos públicos, e com o fornecimento de combustível, energia e outras matérias primas à custos baixos para financiar o desenvolvimento da indústria, numa posição claramente pró-imperialista e inimiga do desenvolvimento nacional. Como vemos os grandes especuladores não aceitam nada que não seja o uso das estatais como meras empresas geradoras de lucro para os acionistas estrangeiros.
O especulador diz que o ideal seria uma política econômica que “tirasse a economia da primeira página dos jornais”, o que ele descreve como “sem grandes saltos”. Vemos aqui o interesse geral do imperialismo, uma estagnação, com crescimento econômico baixo, mudanças quase imperceptíveis. O que não pode ser ignorado é que o Brasil está em necessidade de uma política econômica que gere saltos, que gere um grande crescimento industrial e uma melhor expressiva do padrão de vida dos brasileiros, pequenas mudanças não bastarão para o tamanho da crise dos brasileiros.
O que fará o governo Lula na economia ?
O próprio Armínio Fraga foi cuidadoso ao dizer que “não sabe” o que Lula fará no terreno econômico, disse ainda que o governo precisa dar sinais do que vai fazer em matéria de política econômica. Ainda há uma expectativa dos grandes capitalistas diante do novo governo, consideram que ainda é uma possibilidade que Lula aceite fazer um novo mandato como foi aquele feito por ele em 2002.
Os trabalhadores não devem observar passivamente o cenário político, é clara a intenção de Lula de fazer uma política econômica mais à esquerda, contudo, não é garantido que isso é o que vai se materializar. É preciso que exista uma ampla mobilização da classe trabalhadora para garantir um novo governo realmente popular e transformador.