Nessa quinta-feira (05), o Estadão, um dos maiores jornais da imprensa burguesa do País, publicou um editorial intitulado O monopólio lulopetista da verdade. No artigo, o veículo comenta a notícia de que o novo governo criará a “Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia”, órgão subordinado à Advocacia-Geral da União (AGU) destinado a “promover pronta resposta a medidas de desinformação e atentados à eficácia de políticas públicas”.
“Iniciativas do novo governo para punir ‘desinformação’ e para estabelecer a ‘verdade’ sobre o passado revestem-se de boas intenções, mas mal escondem a vocação autoritária”, afirma o olho da matéria.
Mais adiante, o veículo diz estar preocupado com o que pode ser considerado “desinformação”, declarando que uma definição vaga faz com que a lei possa ser utilizada conforme os interesses do governo Lula. “[…] nada impede, a não ser escrúpulos éticos, que o governo classifique como “desinformação” o que é mera opinião”, diz o editorial.
Antes de tudo, é preciso deixar claro que o projeto em questão não é, de fato, positivo. Trata-se de um aparato que pode ser utilizado para a censura, uma pressão por parte dos setores mais direitistas dentro do governo Lula que tentam desmoralizar o petista frente ao povo. Entretanto, a preocupação do Estadão não é com os trabalhadores, tampouco com a liberdade de expressão, mas sim, com os seus próprios interesses enquanto representantes da burguesia. Vejamos:
No dia 16 de Março de 2019, o Estadão publicou um artigo de opinião intitulado O sigilo do STF. Na época, o Inquérito das Fake News, uma das maiores arbitrariedades jurídicas da história recente do Brasil, tinha acabado de ser criado por Gilmar Mendes. Trata-se de um mecanismo que utiliza o combate às “fake news” como pretexto para atacar os direitos democráticos do povo.
Como não poderia ser diferente, o Estadão rasgou elogios à medida do Supremo Tribunal Federal (STF):
“O ministro Dias Toffoli fez bem ao determinar a abertura de inquérito policial a respeito de fake news e de ameaças envolvendo a Suprema Corte […] Só existe liberdade se há respeito à lei. Por isso, as ações criminosas de calúnia, difamação e injúria não podem ficar impunes. Crimes contra honra agridem importantes bens jurídicos”, afirmou o jornal no artigo citado.
Então, no dia oito de Novembro do ano passado, como em uma espécie de balanço, o Estadão publicou, também em editorial, artigo intitulado O dever do STF com a lei e a paz, defendendo o legado dos Inquéritos antidemocráticos, mas afirmando que devem ser encerrado, pois já teriam cumprido o seu papel.
“A defesa do Estado Democrático de Direito – por parte do Supremo ou de qualquer outro órgão público – deve ser motivo de orgulho e de paz, e não fonte de inquietação. E, se alguém ousar reiniciar os ataques, é só instaurar um novo inquérito”, disse o veículo.
Em suma, antes, o Estadão não via nenhum problema em usar o judiciário para combater a desinformação. Era, na realidade, um defensor dessa política que já destinou muitas de suas páginas para exaltar a atuação do STF que, nos últimos anos, consagrou-se como um tribunal de exceção ao estabelecer um regime autoritário no País.
O jornal golpista mostra, mais uma vez, que está disposto a abrir exceções sempre que o objetivo for perseguir os seus inimigos políticos. Não é, portanto, uma posição de princípios em prol da liberdade de expressão ou dos direitos democráticos, mas sim, uma política oportunista que visa outros interesses.
Mais especificamente, o problema do Estadão é com o passado. Veja:
“Não se sabe o que mais virá por aí, mas apenas esses exemplos bastam para concluir que o lulopetismo parece empenhado em reescrever a história, na qual se destacam os muitos crimes cometidos durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff, e em determinar como o novo governo petista será descrito agora e no futuro, criminalizando opiniões contrárias.”
Afinal, quem garante que a Procuradoria criada não seja utilizada para proibir que farsas como o Mensalão e a Lava Jato sejam utilizadas como forma de fomentar ainda mais um golpe contra Lula e o PT? Provavelmente, não será isso que vai acontecer, até porque Lula não possui força política necessária para perseguir a burguesia de maneira acabada. Todavia, o Estadão não pode correr esse risco.
Além disso, o editorial em questão serve simplesmente para atacar Lula e desmoralizar o seu governo, ressurgindo o infame “lulopetismo”, denominação utilizada de maneira crassa criada pela imprensa burguesa para atacar os governos do PT.