Muitas figuras dentro do governo Lula têm um caráter duvidoso, mas não porque o presidente planeje algo “maligno”, ou seja, de direita, mas sim por conta de suas perigosas conciliações com figuras direitistas e o que essas figuras podem fazer com o governo.
Lula é um cara conciliador e tenta manter uma boa relação com todos, mesmo com aqueles que já se colocaram como seus inimigos direitos no passado. Alckmin é um dos maiores exemplos disso — o vice-presidente faz uma cara de “boa gente”, de esquerda, nos dias atuais, sendo até considerado por alguns setores mais iludidos da esquerda como um “socialista” por sua entrada no PSB.
Essas figuras, no fim das contas, acabam sendo um prejuízo para o governo Lula, não só por seu caráter e políticas direitistas, mas também por serem um poço de podridão e terem o passado assombrado pelas piores ações possíveis.
Isso, evidentemente, nada tem a ver com o caráter geral do governo. Lula concilia e negocia com todos se isso se colocar e, como ele mesmo diz, não quer briga com ninguém, apenas fazer o bem do povo. O problema é que qualquer brecha encontrada irá ser usada contra seu governo, mesmo que isso nada tenha a ver com Lula.
O principal exemplo disso no momento é a campanha contra a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. A campanha, advinda sobretudo da Folha de São Paulo, iniciou-se quando foram desenterradas algumas ligações de Carneiro com um policial presente na CPI das milícias de Marcelo Freixo. O miliciano em questão, assim como sua família, haviam feito campanha para a então deputada Daniela Carneiro, assim como haviam participado do governo de seu marido na cidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro.
Esses fatores já foram prontamente utilizados para atacar o governo Lula. Apesar dos ataques supostamente se dirigem a Carneiro, ela, na verdade, é mais uma isca do que um alvo. Manchar o já sujo currículo da ministra não é de interesse da burguesia, o que querem mesmo é manchar o governo de Lula.
A tal ligação, portanto, é tachada como um “escândalo” do governo. Não interessa que as já mínimas ligações da ministra com o miliciano se devam mais a seu partido, o União Brasil, do que ela mesma, mas sim que isso aconteceu com um ministro de Lula.
Tudo isso, finalmente, é pura propaganda enganosa. O caso de Carneiro é algo que poderia ser levantado pela esquerda, que de maneira geral deveria se colocar contra direitistas no governo, sem que isso se confunda com um ataque ao governo Lula em si — agora, a imprensa burguesa iniciar esses ataques é de uma hipocrisia enorme.
Como os maiores apoiadores das milícias, da polícia assassina e de figuras direitistas que trabalham contra o povo, os grandes meios de comunicação fazem o governo de saco de pancadas como se fossem todos grandes guardiões da moralidade. Além de não serem, praticam de maneira contínua a hipocrisia para atacar a tudo e a todos que firam seus interesses.
O fato é que a imprensa apoia as milícias e todas as atrocidades cometidas por elas, assim como apoia os latifundiários e jagunços de Simone Tebet, a polícia de Alckmin e as demagogias de Marina Silva. Diferentemente de Lula, a imprensa concilia com essas figuras, concorda com todas as suas políticas e faz questão de exaltá-las — porém, caso convenha, a imprensa e a burguesia estarão prontas para utilizar essas pessoas como desculpa para atacar o governo Lula, assim como vem fazendo com Carneiro.
Tanto isso é fato que a ala efetivamente de esquerda do governo recebe um ataque ainda maior. Um exemplo disso foi o ataque recebido pelo ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social. O portal Folha de São Paulo foi atrás de desenterrar uma declaração sua que questionou a veracidade da facada sofrida por Bolsonaro em 2018, colocando isso em contradição com sua luta contra as fake news — ou seja, recorrendo a setores bolsonaristas ideológicos que ainda defendem Bolsonaro mesmo quando a própria imprensa já os atacou até não poder mais.
Fica evidente que a defesa ou ataque da burguesia a determinadas figuras ou acontecimentos depende puramente de quem ela quer atacar. Ela modifica os acontecimentos a seu favor para jogar contra seus adversários, propagandeando ou ocultando determinados fatores para conseguir o que quer — e com o governo Lula não é diferente.