O portal de jornalismo investigativo Mint Press News divulgou no final de Outubro um estudo onde rastreou a participação de centenas de ex-agentes da Unit 8200 nas grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook, Microsoft e Amazon. Criada em 1952, a Unit 8200 é uma espécie de NSA do governo de Israel, que conta com milhares de soldados atuando na área de tecnologia da informação. Além de espionar ricos e famosos, esse setor das Forças de Defesa de Israel promove uma ostensiva varredura na vida da população palestina.
A reportagem assinada por Alan MacLeod dá conta de que pelo menos 99 veteranos da Unit 8200 tinham como empregadora atual no site LinkedIn a empresa Google. Vale destacar que o número real de ex-agentes trabalhando no Google deve ser bem superior, dado que eles são expressamente proibidos de publicitar sua afiliação à Unit 8200.
No entanto, a procura das empresas monopolistas do setor de tecnologia da inteligência por egressos desta unidade de espionagem é tão elevada que alguns acabam expondo essa parte dos seus currículos que deveria ser secreta. MacLeod mostra exemplos de perfis, que inclusive mostram que atuar na Unit 8200 funciona como um trampolim para ser recrutado pelas “big techs“.
A espionagem realizada por essa unidade militar israelense, como não poderia deixar de ser, viola especialmente os direitos democráticos dos palestinos. A coleta massiva de dados atinge fichas médicas, vida sexual e histórico de buscas na Internet, por exemplo. Tudo o que possa ser utilizado para extorsão e aliciamento de palestinos para uso das forças de ocupação da região.
A partir de informações sensíveis, como a necessidade de determinados tratamentos de saúde ou o engajamento em relações extraconjugais, os agentes da Unit 8200 mapeiam alvos para serem ameaçados e manipulados para garantir a manutenção do estado de apartheid imposto.
Um ponto interessante para contrastar com a propaganda pró-LGBT realizada por Israel é que os homossexuais árabes constituem parte dos alvos rastreados pela inteligência militar. Enquanto anunciam ao mundo o quão modernos são em relação aos costumes, impõem um sistema de chantagens aos homossexuais árabes.
O fato de que muitos de seus ex-agentes ocupem posições importantes nas “big techs“, que lidam com informações pessoais de um número gigantesco de pessoas, é muito preocupante e expõe como essas empresas funcionam. Ao contratar espiões profissionais para gerir a privacidade virtual das pessoas, fica claro que a segurança das nossas informações não figura verdadeiramente como uma preocupação para elas. O caráter monopolista adquirido pelas redes sociais ainda facilita as operações de vigilância em massa, algo que não figura entre os objetivos declarados das “big techs“, mas que já está mais do que claro que se tornou um ponto central do seu funcionamento.
A reportagem cita o caso de Ariel Koren, uma judia que trabalhava no Google e denunciou em carta assinada junto a colegas o projeto Nimbus. Através dele, Google e Amazon forneceriam ferramentas de inteligência artificial para o governo e forças militares de Israel. O contrato foi estimado em 1,2 bilhão de dólares e prevê explicitamente que o Google não poderia interromper os serviços nem diante de flagrantes violações dos direitos humanos. Koren denunciou ainda a coação sofrida por colegas palestinos ou que apoiam a causa palestina na empresa, através de advertências do RH, cortes de pagamento e avaliações de performance negativas.
São vários escândalos recentes que expõem esse intercâmbio entre Israel e as empresas imperialistas de tecnologia da informação. Não se tratam de meros casos isolados, mas de um padrão de colaboração, que ataca de maneira muito abrangente os direitos democráticos das populações do mundo inteiro. Os tais “direitos humanos”, tão evocados pelo imperialismo para encurralar governos desobedientes em países atrasados, não valem absolutamente nada para os donos do mundo.