No dia 17 de janeiro de 2023, a pintora, desenhista e tradutora Tarsila do Amaral, um dos grandes nomes do modernismo brasileiro, fará cinquenta anos de morta. Natural de Capivari(SP), Tarsila do Amaral exerceu grande influência no movimento da arte moderna no Brasil ao lado de outros grandes artistas como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia. Um dos seus principais quadros, Abaporu(1928), que em tupi significa “homem que come gente”, influenciou o manifesto antropófago de Oswald de Andrade.
Em homenagem ao cinquentenário de morte da pintora, o programa Arte e Revolução, da COTV Canal reserva no YouTube, fez um interessante debate com a presença de Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Henrique Áreas, dirigente nacional do partido, coordenador do programa e Antônio Vicente Pietroforte, professor da Universidade de São Paulo (USP) e também militante do partido.
O programa vai ao ar toda quinta-feira, às 19h, analisando os principais temas da arte numa perspectiva revolucionária e marxista.
No programa dessa quinta, antes de mergulhar na arte da Tarsila do Amaral, Rui Costa Pimenta afirmou que era preciso definir o que seria arte moderna e sobre Tarsila do Amaral disse que ela “é a expressão do Brasil dessa arte de vanguarda que vai surgir na Europa no começo do século XX”.
“O momento marcante de transformação das artes plásticas é o cubismo, com Picasso e outras pessoas”. Refletindo sobre a arte e o modernismo brasileiro, segundo Rui Pimenta, “de um modo geral a história da arte é uma história de um aperfeiçoamento ou de mudanças técnicas e formais que correspondiam às diferentes tentativas dos pintores, escultores, etc, de expressar um determinado conteúdo, como melhor expressar o conteúdo. Uma boa parte da arte até o século XX ela é muito mais o conteúdo do que a forma. A forma ela está ligada ao conteúdo”. Não existe até determinado momento uma ruptura com o conteúdo.
Com esses parâmetros, Rui reflete sobre o impacto que a fotografia causou na pintura no início do século XIX.
“A arte da representação plástica entra numa espécie de crise. A tentativa de fazer com que a fotografia se manifestasse nessa inovação técnica é o impressionismo. Os impressionistas elaboraram toda a teoria deles com base nas modificações que a fotografia introduz na pintura, mas a partir daí o que nós vamos ver é que o artista se ver numa situação inusitada. Não adianta você pintar uma pessoa, vamos supor, não adianta você tentar fazer que sua pintura seja a mais realista possível, que é uma tentativa dos impressionistas, porque ninguém vai fazer isso daí da mesma forma que uma fotografia(…).
A partir daí Rui afirma que existirá um divórcio entre o assunto e a forma. O conteúdo se tornará irrelevante na maioria dos quadros do cubismo. “O que será relevante vai ser a maneira com a qual determinadas situações são retratadas”, diz Rui.
“O modernismo brasileiro é uma inovação formal, mas ele é também um movimento artístico que está muito vinculado ao conteúdo, quer dizer se trata de representar o Brasil, não é o cubismo parisiense(…)”.
“A Tarsila do Amaral vai ser, de todos os pintores daquela época, a pessoa que vai enfrentar essa questão de uma maneira mais direta, por isso que ela tem diversas fases na pintura dela”.
Rui aborda telas da primeira fase modernista da pintora, a fase Pau Brasil, com suas técnicas europeias, mas adaptadas ao conteúdo de caráter nacional, acompanhando a tendência adotada por seu companheiro na época, Oswald de Andrade.
O professor Antônio Vicente fez uma aprofundada análise de uma das obras de Tarsila, o quadro Primavera(1946). Segundo o professor, “ele não é tão famoso quanto os outros, mas ele sempre o chamou a atenção porque ele tem umas características de cor e de forma que o deixa muito bonito e permite que a gente pegue essa organização do conteúdo do quadro e a forma que ela colocou o conteúdo do quadro com cores, formas e como organizou na tela”
Antônio Vicente destrincha com muita propriedade o plano de fuga, o beijo retratado na obra e os diversos focos de análise da pintura, analisando como a primavera aparece no quadro. Para Vicente, “ela não pintou nesse quadro só a primavera. Ela pintou as quatro estações, independente de como você olha. É o engenhoso, essas linhas de fuga do beijo elas podem tanto convergir quanto divergir dele. Esse beijo ele apontaria mais para o verão. E o que está aí em torno do quadro para o inverno. Ela coloca esses dois valores, vida e morte das estações do ano”. É o ciclo da vida analisado com muita sensibilidade.
O companheiro Henrique Áreas fez uma abordagem referente às técnicas modernas da Europa com o conteúdo nacionalista. E refletiu sobre a importância de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti para o modernismo brasileiro, citando a abordagem de Mario Pedrosa sobre o movimento, que considerou a pintura como a arte dianteira do modernismo.
Assista e reflita sobre mais detalhes da obra da grande Pintora Tarsila do Amaral e do modernismo brasileiro em mais um importante programa da COTV Canal reserva.