Demagogia identitária

Holanda se desculpa por escravidão antiga, mas mantém a moderna

Um dos países mais escravocratas do condomínio imperialista “paga dívida histórica” com pedido de desculpas, mas continuará escravizando trabalhadores

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, se desculpou, em nome do governo, pelo papel do Estado durante o período da escravidão, de 1621 a 1873 [1].

Rutte, foi além e afirmou que a “escravidão foi um crime de lesa-humanidade”, em discurso no Arquivo Nacional, em Haia, segunda-feira (19). O chefe do executivo falou em “sofrimentos indescritíveis”, e o Estado “fomentou, manteve pessoas que se beneficiaram da escravidão. Pessoas se tornaram mercadorias, exploradas e abusadas”, lamentou o Rutte. “Hoje, em nome do governo holandês, peço desculpas pela ação do Estado holandês no passado”, completou.

Não há dúvidas que a escravidão empreendida pelos holandeses tenha sido uma coisa horrenda. Mas a questão que fica é: a quem vem esse pedido de perdão?

C&A e a escravidão

A empresa de C&A, com sede na Holanda, é uma das marcas consideradas “sustentáveis”, pioneira no “capitalismo sustentável”, é na verdade uma das maiores representantes da demagogia identitária. Além de promover o identitarismo, a empresa praticamente escraviza milhares de trabalhadores. Na região de Xinjiang, na China, os uigures produzem algodão em esquema de trabalho compulsivo. Em um lobby com ONGs costumam escravizar uigures e atribuir à China a responsabilidade por “campos de concentração”, enquanto, na verdade, camponeses são cooptados para uma parceria onde entram com a lavra até pagar todos pelos instrumentos de trabalho e por uma alimentação básica e não nutritiva.

Amstel e Heineken

A dupla de cervejarias dos Países Baixos também possui um sem-número de denúncias de trabalho escravo de Jacarta ao Suriname, passando pelo Brasil, onde são subsidiárias da Ambev. As cervejarias Ambev e Heineken foram multadas pesadamente no Brasil pelo emprego ilegal em condições análogas à escravidão de imigrantes venezuelanos, que agora receberão cerca de R$ 657.270,00 em indenização. Um total de 22 imigrantes venezuelanos e um haitiano foram libertados em março de 2021 em uma operação do Programa de Erradicação do Trabalho Escravo no estado de São Paulo após descobrirem que estavam trabalhando em condições subumanas para a empresa Sider, subcontratada de transporte da Ambev e Heineiken, que agora têm que pagar indenização às vítimas. Os imigrantes viveram por meses (cerca de mais de um ano) na cabine dos caminhões estacionados na sede da Sider em Limeira e Jacareí, cidades do interior de São Paulo. Eles trabalhavam longas horas e sem dias de folga. Além disso, eles não tinham acesso à água potável. Os trabalhadores também tiveram que pagar pelo uniforme de trabalho, pela nacionalização de sua carteira de motorista e pelos imprevistos sofridos pelo veículo que lhes foi atribuído.

Colonizadores até ontem, mas exploradores sempre

O setor de mineração é o mais representativo do imperialismo neerlandês, o petróleo é o setor dominante do imperialismo. Atualmente, o setor de mineração do país não para de crescer. Antea Group, Arenal, Trisoplast, Rohr-Idreco, InTech, Royal Eijkelkamp e Van Sonsbeek Hulst são empresas que dominam o setor de mineração no Brasil [3], por exemplo, e as condições precárias de exploração do trabalho, para dizer o mínimo, supervisionada pelo governo holandês. A Royal tem 111 anos e está explorando recursos estratégicos de 90 países atrasados, dentre eles o Brasil e 30 países africanos.

Além da demagogia identitária para evitar falar da exploração real dos dias de hoje, os Países Baixos têm massacrado imigrantes, tratando-os do pior modo possível, análogo ao tratamento aos escravos. Recentemente, o país tem recebido um número grande de imigrantes africanos, na realidade refugiados. Muitos deles, em agosto, foram forçados a dormir do lado de fora de um centro de recepção de refugiados devido à superlotação. Mais de 700 pessoas acamparam por várias noites perto da instalação na aldeia oriental de Ter Apel, perto da fronteira com a Alemanha. “É terrível o que está acontecendo em Ter Apel”, disse Rutte, expressando vergonha pelo fato de o grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras (MSF) ter lançado sua primeira operação na Holanda para apoiar os imigrantes. [4]

O identitarismo tem sido a arma para amansar os movimentos sociais, sindicatos e partidos. Contudo, cada vez mais as contradições se colocam como pedra na demagogia dos governos imperialistas, que notoriamente estão explorando a classe trabalhadora como sempre. O caso do primeiro-ministro Rutte coloca para a esquerda a ruptura completa com esse movimento identitário, e observar o nível de exploração das forças produtivas no mundo, onde a Holanda tem expertise em um setor extremamente espoliador, como a indústria da mineração e até mesmo na velha indústria têxtil como C&A e alimentícia. Não há identitarismo que se sobreporá ao trabalhador consciente das armadilhas do imperialismo.

Referências

[1] O ESTADO DE SÃO PAULO. Holanda pede desculpas por 250 anos de escravidão; descendentes de escravos pedem reparação. Disponível em https://www.estadao.com.br/internacional/holanda-pede-desculpas-por-mais-de-250-anos-de-escravidao/

[2] MERCOPRESS. Brazil: Breweries fined heabily for employing undocumented Venezuelan migrants whom they deprived of basic rights. Disponível em https://en.mercopress.com/2021/05/20/brazil-breweries-fined-heavily-for-employing-undocumented-venezuelan-migrants-whom-they-deprived-of-basic-rights

[3] BEM MINAS. Empresas holandesas movimentam setor de mineração no Brasil. Disponível em https://www.bemminas.com.br/noticias/economia/empresas-holandesas-movimentam-setor-de-mineracao-no-brasil/14808

[4] DW. Netherlands to restrict number of migrants amid overcrowdings. Disponível em https://www.dw.com/en/netherlands-to-restrict-number-of-migrants-amid-inhumane-conditions/a-62936282

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