Durante a Copa do Mundo, foi evidente na imprensa burguesa internacional uma campanha intensa de calúnias contra o país sede do evento, o Catar. A campanha, promovida pelo imperialismo, fazia uma denúncia de que o governo do país seria homofóbico, machista e outros atributos que o imperialismo sempre procura levantar quando quer atingir algum país atrasado.
Ainda que a campanha não tenha conseguido impedir que a Copa do Mundo ocorresse sem grandes incidentes, um setor da classe média bem pensante sempre acaba se deixando levar por essa suposta cruzada promovida pelo imperialismo contra uma opressão, imaginária ou real, mas que nada se compara à própria opressão imperialista.
É preciso, portanto, procurar a fundo e compreender por que o Catar é um país que está na mira do imperialismo. Os ataques contra o emirado não são de agora. Entre 2017 e 2021, o Catar foi vítima de um bloqueio econômico e político feito por seus vizinhos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Barém, e impulsionado pelo imperialismo.
A justificativa para a medida foi o apoio do governo catariano contra “grupos islâmicos”, principalmente a Irmandade Muçulmana, organização nacionalista islâmica baseada no Egito, fundada em 1928. A Irmandade Muçulmana se enfrentou diversas vezes com governos egípcios pró-imperialistas por defender uma política nacionalista. Chegou a ser colocada na ilegalidade diversas vezes ao longo de sua história. Em 2005, participaram de forma clandestina das eleições egípcias, elegendo um quinto do parlamento do país. Em 2012, elegem o presidente do Egito, Mohamed Morsi.
Logo no ano seguinte, Morsi é derrubado por um golpe militar organizado pelo imperialismo. Ele é preso, vários outros membros da Irmandade são perseguidos, alguns são presos e outros executados.
Além de manter relações e apoiar a Irmandade Muçulmana, o governo catariano também sempre foi apoiador da Palestina (da mesma forma que a própria Irmandade), e do Irã, outro país que tem sido uma pedra no sapato do imperialismo no Oriente Médio devido à sua luta pela soberania nacional.
Em 6 de junho de 2017, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Barém, impuseram um bloqueio ao Catar, cortando relações econômicas, políticas e diplomáticas com o Emirado. Eles deram 15 dias para que os cidadãos catarianos que estivessem em seus territórios deixassem seus países. Outros países sob pressão do imperialismo também aderiram ao bloqueio, como Líbia, Iêmen e as Maldivas. Na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos e Barém, inclusive, fecharam o espaço aéreo para quaisquer aeronaves vindas do Catar.
Os impactos desse bloqueio sobre a população catariana foram muito profundos. O Catar é um país pequeno, que depende de importações para as necessidades básicas de sua população e a maior parte dos suprimentos chegavam por sua única fronteira terrestre, que era com a Arábia Saudita. Em Doha, capital do país, as estantes de supermercados logo se esvaziaram. A situação só se normalizou quando Irã e Turquia enviaram suprimentos de avião e navios. A economia também foi impactada, com a bolsa caindo e o mercado se desvalorizando.
O bloqueio veio após a recusa do Catar a cumprir com uma lista de 13 exigências colocadas pelos países arábes. Segundo o governo do Catar, as exigências tinham a finalidade de acabar com a soberania do país e isso fica claro ao observar algumas delas.
Entre as exigências, estava a de que o Catar deveria fechar o seu grupo de notícias Al Jazeera, uma das mais importantes do mundo para tratar de assuntos do Oriente Médio. Além disso, também queriam que eles cortassem os laços com o que eram consideradas “organizações terroristas”, entre elas são citadas a Irmandade Muçulmana, o Estado Islâmico (com o qual o Catar afirmou não ter relações), Al Qaeda e outros.
Também foi exigida que encerrassem operações militares conjuntas com a Turquia, que eles fechassem outros meios de comunicação financiados pelo Catar, que entregassem pessoas procuradas pelos governos saudita, dos Emirados, Egito e Barém, entre outros.
O bloqueio se encerrou em janeiro de 2021, após um acordo entre os países envolvidos. No entanto, o bloqueio é mais um demonstrativo de que há uma indisposição do imperialismo com relação ao Catar. O pequeno país árabe é castigado por suas relações políticas com outros governos e grupos políticos nacionalistas.
A demagogia do imperialismo, que fala em perseguição às mulheres, aos LGBT e outras falsas questões morais, sempre procura esconder uma questão política mais profunda. É importante sempre ter em mente que o imperialismo é o maior dos opressores do planeta e suspeitar de toda campanha contra algum país atrasado se utilizando de demagogia identitária.