Defesa

A nomeação de José Múcio garantirá a fidelidade dos militares?

Futuro ministro da Defesa está sendo elogiado pela imprensa e propagandeado como próprio para reestabelecer diálogos com os militares

No dia 9 de dezembro, Lula anunciou os cinco ministros para os ministérios mais importantes de seu governo, entre eles estão Fazenda (Fernando Haddad, PT), Defesa (José Múcio, PTB), Justiça (Flávio Dino, PSB), Casa Civil (Rui Costa, PT) e Relações Exteriores (o diplomata Mauro Vieira).

Aqui, nos reservarmos a falar mais especificamente sobre quem é José Múcio. Será que Múcio de fato vai atender às expectativas de Lula? Ele foi coloca no cargo de ministro da Defesa sobretudo para melhorar as relações com os militares, tentando amenizar um pouco a crise com a perda de Bolsonaro.

É a primeira vez desde o golpe que o Ministério da Defesa será ocupado por um civil e, por esse motivo, um direitista que tenha boa ligação com os militares precisava ser escolhido para acalmar os ânimos. A imprensa tem feito muita propaganda que o futuro ministro tem uma ótima ligação com os militares, afirmando que os diálogos com as Forças Armadas precisam ser restituídos por alguém capaz.

Nascido em Pernambuco, o integrante do Partido Trabalhista Brasileiro já fez parte dos partidos ARENA (1966–1979), PDS (1980–1991), PFL (1991–2001) e PSDB (2001–2003), demonstrando ainda mais sua ligação com a direita. Não bastasse ter pertencido ao PSDB, notório representante da burguesia, Múcio também integrou o ARENA, o principal partido da ditadura militar.

Múcio começou a vida se preparando para ser um tradicional político burguês, sendo vice-prefeito e depois prefeito de sua cidade natal, trabalhando posteriormente na área administrativa da prefeitura de Recife. Se elegeu deputado federal e ocupou o cargo com cinco mandatos seguidos, como um bom político burguês.

Múcio acabou por abandonar o Congresso ao ser chamado para ser ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais de Lula. Em 2009, o político foi chamado para integrar o Tribunal de Contas da União, cargo que ocupou até 2020, quando se aposentou.

O TCU, por sua vez, teve um papel fundamental na pressão contra o governo:

“A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) tem 30 dias para explicar ao Tribunal de Contas da União (TCU) 23 indícios de irregularidades nas suas contas de 2015 – entre elas, as chamadas ‘pedaladas fiscais’, que motivaram a abertura do processo de impeachment a que ela responde no Senado. Relator das contas da petista, o ministro José Múcio disse que a unidade técnica da corte encontrou um conjunto de “achados” e distorções nos registros da contabilização que somam pelo menos R$ 260 bilhões.”, o trecho é de uma matéria do Estado de Minas (TCU aponta 23 novas irregularidades nas contas de Dilma, 16/06/2016).

José Múcio pode, de fato, ter uma ligação a mais com os militares, tendo inclusive sua simpatia. Mas estaria ele ao lado do governo Lula o suficiente? Como um político burguês, que foi um dos principais responsáveis pelo golpe, tem ligações fortes não só com as Forças Armadas, mas também com a burguesia, podendo muito bem se virar contra Lula a qualquer momento.

Múcio pode muito bem, inclusive, não manter uma ligação positiva com os militares. Diversos indícios já mostraram que a burguesia não quer Lula no poder, e podem muito bem articular com diversos outros setores, mesmo com brigas e desavenças, um ataque contra o futuro presidente, seja por meio de uma desestabilização forte no governo ou até por meio de um golpe.

O cargo, no fim das contas, vem com muita responsabilidade e deveria ser ocupado por alguém que tenha confiança não só dos militares, mas principalmente de Lula. Os ministros deveriam ser mais uma camada de proteção no governo, mas acabam sendo uma linha de ataque conforme se mostram mais e mais direitistas.

Fica evidente que Múcio não só tem um caráter direitista, mas também golpista. Suas ações datam desde a ditadura, com participação ativa na política, até sua aposentadoria. Agora, o ex-ministro volta para entrar no cargo de ministro da Defesa, sendo propagandeado como um conciliador e elogiado tanto por membros integrantes do governo Bolsonaro quanto por membros da direita tradicional.

Múcio recentemente afirmou que pretende “despolitizar” e “despartidarizar” as Forças Armadas, mesma coisa que falou Flávio Dino sobre a polícia. Isso seria por conta do apoio em peso dos integrantes do exército a Bolsonaro — ou seja, em vez de apresentar à política aos soldados, explicar sobre os governos e sobre a pátria brasileira, Múcio prefere alienar as Forças Armadas, prevenindo os soldados do conhecimento geral.

Sem contar que isso valeria só para as patentes mais baixas. As mais altas, em geral, são envolvidas diretamente com políticos e com a política brasileira em si, e não seriam privados do conhecimento pelo governo — e nem mesmo deveriam ser.

José Múcio foi um dos protagonistas do golpe de Estado, estando ao lado da burguesia quando a esquerda e o povo mais precisou de apoio. Mesmo que tenha trabalhado para Lula, todos esses fatores jogam contra o futuro ministro da Defesa, mostrando que ele não é uma pessoa de confiança e que tende mais a jogar contra o governo do que a favor.

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