Na contramão

PSTU se junta à direita, novamente, contra um governo de esquerda

O PSTU faz todo um jogo de cena para, no final das contas, ficar ao lado da burguesia contra um governo de esquerda.

quinta coluna

O governo Lula nem começou e já está jurado. Não apenas pela direita, ou ‘mercado’, mas também por uma esquerda que se especializou em fazer oposição sistemática ao PT. Uma das manias, ou truques, desses grupos é se referir à próxima gestão como “Lula-Alckmin”, como se o vice governasse. É o caso do PSTU, que, em editorial no seu sítio entitulado “É importante debater o governo Lula-Alckmin”, publicado no dia 14 de dezembro, atira pedras antes mesmo de Lula subir a rampa do Planalto.

Logo no início, no quarto parágrafo, o texto faz a pergunta: “Será que um governo que, desde o início, promove a pactuação de continuidade desse modelo capitalista, cada vez mais selvagem, vai solucionar nossos problemas?”. Alguém precisa explicar para o PSTU que o PT não é um partido revolucionário, portanto, o modelo capitalista, pelo menos por enquanto, está garantido. Além do mais, seria muita ingenuidade acreditar que um governo eleito tenha mandato para revogar o capitalismo e instaurar o socialismo.

No parágrafo seguinte, chama a atenção o seguinte trecho: “Em Brasília, algumas dezenas de bolsonaristas promoveram uma baderna golpista, diante do olhar omisso das polícias e sem que ninguém fosse preso”. Parece que o PSTU está querendo gerenciar a repressão da polícia. O que mais falta, chamar o ‘Xandão’ para botar todo mundo na cadeia? No final das contas, esse partido revela sua fé nas instituições burguesas.

O primeiro intertítulo da matéria começa “bem”: “Um governo a serviço do capital”, se bem que o governo ainda não foi empossado e, como já dissemos, e como qualquer criança sabe, não é socialista – todo governo eleito em um regime burguês naturalmente estará, em alguma medida, como diz o PSTU, “a serviço do capital”. Vale a pena citar todo o parágrafo que segue porque o grupo já tira todas as conclusões partindo não se sabe de onde: “O novo governo parte de uma aliança com setores do imperialismo, como Biden (EUA), Macron (França) e a maioria dos governos da União Europeia; assim como com as multinacionais e com a autocracia chinesa, o mercado financeiro e setores do agronegócio. Todos esses se beneficiam com a miséria da classe trabalhadora.”,

Quais alianças terão sido feitas com ‘Biden, Macron e a maioria dos governos da União Europeia’? Como sempre, o PSTU atira para todos os lados e junta no mesmo balaio o imperialismo e a China, país que está sendo assediado justamente pelas potências imperialistas. Até agora, o que temos visto é o desejo de Lula retomar os Brics, fortalecer as relações diplomáticas na América Latina, fazer acordos com a Rússia. Toda essa movimentação com telefonemas, promessas de visita aos EUA não significam nada além daquilo que se faz em todos países, especialmente os governos recém-eleitos – e o nacionalismo burguês tem exatamente essa característica conciliadora com todas as partes, principalmente no discurso.

Do parágrafo citado anteriormente, partindo de uma suposição o texto conclui que o governo Lula “Propõe-se apenas a administrar esta decadência de maneira diferente de Bolsonaro-Guedes, mas sem romper com esse sistema capitalista, gerador desse caos social e econômico”. Como em um passe de mágica, ou em um lance premonitório, já estão dizendo que o governo será uma continuação do governo Bolsonaro. Se isso for verdade, tudo bem para Lula, pois uma coisa que o PSTU fez foi deixar Bolsonaro em paz. Esse grupo esteve nas ruas para tirar Dilma da presidência. Depois da posse de Temer, nunca mais foi visto.

É curioso que, apenas quando interessa, o texto grafa ‘Lula-Alckmin’, ‘Bolsonaro-Guedes’. O correto não seria opor ‘Bolsonaro-Guedes’ a ‘Lula-Haddad’? Por que o PSTU não faz isso? Porque sua falácia e oportunismo seriam desmascarados. O mesmo esforço que fez para pinçar um Gabriel Galípolo, usa para esconder Haddad na Fazenda e Mercadante no BNDES.

O nome de Fernando Haddad, mesmo que muito mais moderado que Lula, desde quando apareceu como candidato a ocupar a Economia, gerou um enorme ruído junto ao ‘mercado’ e repercutiu muito na imprensa burguesa, um sinal de que o governo Lula não está assim tão alinhado, como estão tentando nos convencer. Por qual razão, mais uma vez, estão usando a queda das bolsas e alta do dólar? Existe uma clara contradição entre o futuro governo Lula e a burguesia. Um perigo é que setores da esquerda acabem se alinhando com a direita para derrubar o governo, como fizeram em 2016.

O PSTU diz que é preciso “buscar construir toda unidade de nossa classe para lutar contra os ataques dos capitalistas e do novo governo Lula, contra as demissões e a retirada de direitos, buscando reverter todos os ataques de Bolsonaro, como a Reforma da Previdência, além da Reforma Trabalhista de Temer e as privatizações, tanto as já feitas como as que estão em curso”. Esse beira à desonestidade. O que o governo Lula, que ainda não começou, tem a ver com Bolsonaro e Temer? O PSTU tem muito mais responsabilidade com isso, pois apoiou o golpe, do que o próprio PT. O que vão fazer é o mesmo que já fizeram durante o golpe: tiraram Dilma e foram para casa; vão lutar contra Lula e não contra as consequências dos ataques de Bolsonaro e Temer, contra os quais, diga-se, nunca fizeram nada.

Apesar de não fazer nada de efetivo contra a direita, o PSTU recorre ao seu velho discurso vazio: “A segunda e mais importante de todas as nossas tarefas é a construção de uma alternativa política revolucionária e independente da burguesia para nossa classe. É preciso avançar na construção de uma alternativa revolucionária e socialista para os trabalhadores terem um projeto seu.”. Bonito, pena que na vida real esse partido tenha apoiado o golpe militar no Egito, o governo nazista na Ucrânia; tenha atacado o governo cubano em meio a uma investida do imperialismo e da grande imprensa.

O PSTU não entendeu ainda o que significou a vitória de Lula e também não compreendeu que o papel dos revolucionários é pressionar um governo de frente popular em conflito com a burguesia (como é o de Lula) para que ele atenda às reivindicações dos trabalhadores. Conforme a luta for avançando, a classe trabalhadora poderá fazer uma experiência, poderá ver com maior clareza como age a burguesia para impedir que mesmo migalhas sejam direcionadas aos mais pobres, e que poucos lucram cada vez mais com a miséria de muitos.

De nada adianta um discurso pregando uma política independente para a classe trabalhadora, se ao mesmo tempo sabotam um governo eleito com o apoio dessa classe trabalhadora em um dos momentos de maior polarização da política brasileira, que opôs os trabalhadores contra os golpistas.

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