Eu não vi a disputa de pênaltis da última tragédia porque meu pai não viu em 1994 entre Brasil e Itália. Desde então eu não gosto de ver as penalidades máximas. Em 1994 ele saiu e foi fumar, e eu fiquei, com outros parentes, vendo as penalidades que resultaram no tetracampeonato mundial do Brasil. Aquele título me marcou mais que o de 2002 pois, ainda jovem, pude ver pela primeira vez um bairro inteiro em comoção generalizada, algo incrível, fenomenal, e que fez valer a passagem pela Terra.
Era a geração que sofria desde 1970 sem a Copa do Mundo. 24 anos, tendo passado pelos geniais jogadores dos anos 1980 e as derrotas doloridas e inesperadas, como sempre. A geração do tri. E, por sinal, agora é a minha geração que vai amargar 24 anos de hiato mundial, porque em 2026, o hexa é nosso, não tem como, não tem para onde correr. A minha geração é a do penta.
De toda sorte, nos últimos dias, um sentimento horrível se apodera da carcaça deste colunista como se tivesse perdido um ente querido, e vou velando o cadáver todos os dias, às noite, ao final do expediente. Contando histórias com amigos e companheiros de partido: “e se fosse assim, assado, e se, e se, e se…”, “lembra daquilo, daquilo outro, daquele”? Você vai dormir pensando que seria espetacular o Brasil campeão, a festa que faríamos. Acorda e, em fração de segundos, tem o sentimento de que algo horrível aconteceu, e esse algo horrível foi a derrota da seleção, não só a derrota, a derrota DAQUELE jeito, sofrida, roubada, a mais pura tortura, e, por outro lado, a obrigação de encarar mais um dia que nasceu e que não haverá jogo da seleção.
Joguei futebol de maneira amadora como zagueiro, e jamais jogaria culpa em nenhum dos rapazes da seleção, nem do técnico, que fez tudo certo, em minha opinião. Estar ali é ou foi o sonho de mais de 100 milhões de pessoas aqui no Brasil, o meu, inclusive, e de outros amigos de infância, que rasgaram os pés descalços no quadradão e hoje cada um faz uma coisa, ninguém se tornou profissional, nem um conhecido distante, é muito difícil.
Assim, eu sei que você pode ser orientado para quebrar alguém. Sei que quando um atacante é muito habilidoso, o zagueirão do time adversário abre a caixa de ferramentas. Sei que a pressão num pênalti é gigantesca, e aquilo que você acertou 50 vezes em 50 chances, você pode errar. E sei que aquele gol do Neymar, nesta situação toda, é algo completamente de outro mundo. A Copa é dele.
O próprio futebol é o pai de termos para o momento: segue o jogo, bola pra frente, etc. Mas não é o seu time que joga no começo do ano que vem. É a seleção, que só vai disputar esse campeonato somente em 2026 novamente, e sabe lá meu Deus o que pode acontecer daqui até lá. E o mais incrível são os que ficaram felizes com a derrota da seleção. Acho que esse povo não tem um mínimo de solidariedade humana com ninguém.
Essa é a razão da existência de filmes de ficção científica.
Existem vários sobre a criogenia, por exemplo. O meu preferido é O Demolidor, com Wesley Snipes e Sylvester Stallone, de 1993. Se tivesse esse serviço à disposição hoje em dia eu, sem dúvida, me congelaria até 2026, sem problema algum. Cometeria facilmente um crime para ser congelado, como no filme, por quatro anos. Pelo menos é o que penso neste momento. Se os cinco minutos finais daquele jogo demoraram uma eternidade, os próximos quatro anos, então, vão demorar o próprio tempo de existência da Terra.
O alento são as análises do PCO sobre a situação, sobre o ocorrido. Que seria de nós, que gostamos de futebol, sem as análises do PCO sobre o esporte? Além da revista publicada (Zona do Agrião), que será mensal, o partido publicou ainda o Dossiê Causa Operária, que em seu segundo número trata do imperialismo e o futebol! Eu destaco, ainda, a Análise Política da Semana deste sábado, onde o presidente da agremiação explica no detalhe como se dá o processo de derrota da seleção em copas do mundo, e o que precisamos para vencer a copa. Somos os melhores, o melhor futebol do mundo, o futebol pentacampeão e seremos Hexa em 2026.
Até lá, camaradas.