Quem já não ouviu a expressão “o crime compensa”? Comumente falada pela burguesia nacional e pela própria direita como forma de incentivar as campanhas de segurança pública, campanhas anti-corrupção, entre outras manobras que, na prática, sempre serviram para perseguir o povo e os inimigos políticos da burguesia no País. No entanto, o que os recentes dados divulgados pelo Banco Central brasileiro, como também os relatórios a respeito da dívida pública nacional vem demonstrando, é que, de fato, há um certo tipo crime que compensa no Brasil.
Esse crime não consiste em roubar artigos pessoais, não se trata de dar pequenos golpes ou organizar um grupo armado para controlar o tráfico em uma comunidade, mas sim de promover o verdadeiro assalto aberto a toda economia nacional e a todos os trabalhadores brasileiros. Segundo divulgado pelo Banco Central, a dívida pública brasileira obteve níveis históricos durante os últimos dois anos, ainda mais altos se comparados ao período pré-golpe de 2016, onde no mês de outubro a marca de R$ 7,297 trilhões, o que hoje representa 76,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Em fevereiro de 2021, a dívida brasileira chegou a atingir quase 90% do PIB nacional, cerca de 40 pontos percentuais a mais se comparado a situação encontrada no governo de Dilma Rousseff no início da campanha golpista.
E sabe para onde está indo todo este dinheiro? A respeito deste problema, os dados divulgados pela Auditoria Cidadã da Dívida sobre o Orçamento Federal de 2021, serviram para demonstrar que mais de 50% dos recursos federais são destinados aos pagamentos de juros aos bancos privados e acionistas. No Brasil, são R$ 1,96 trilhões pagos em juros e amortizações da dívida para banqueiros e acionistas, todos estes em grande parte dos países imperialistas. Para o povo, restam míseros 4,18% para a área da saúde, 2,49% para educação, e o grande “crime” da previdência social, que os golpistas tanto querem cortar, representa apenas 19,58% dos gastos públicos. Ou seja, mesmo o que é praticamente nada dado à previdência social, os banqueiros querem para si.
Além disso, outros dados são ainda mais alarmantes. Como demonstrado pela auditoria da dívida, hoje os estados se endividam de maneira crescente, tanto a nível nacional quanto municipal, onde o que é arrecadado, na realidade sequer serve para cumprir a parte destinada ao financiamento dos bancos e ao pagamento de juros criminosos. Em São Paulo, por exemplo, principal estado da federação, a dívida pública dobrou entre os anos 90 para os dias atuais, em grande parte, com base na especulação dos bancos e na política de privatizações do PSDB. Ou seja, grande parte desta dívida sequer é real. Como não bastasse tudo isso, o Senado brasileiro definiu que a partir do final de 2023 o Estado irá cobrir ao menos 50% das dívidas contraídas por empréstimos com bancos. Dessa maneira, se a empresa não conseguir pagar em sete meses o valor combinado com o banco privado, o Estado brasileiro irá pagar 50% da dívida para evitar que estes sanguessugas possam correr risco de falência.
O caso foi tão absurdo que rendeu de senadores o comentário que, no País, compensa mais ser banqueiro do que traficante. A medida foi tomada em uma ação desesperada antes do novo governo Lula começar. Os banqueiros temem que, com o fim do teto de gastos, os seus lucros possam vir a diminuir e percam uma parte, mesmo que pequena, desta fatia do orçamento nacional. Por isso, querem garantir a todo custo seus lucros.
São trilhões de reais que são roubados da economia nacional mensalmente apenas para sustentar os banqueiros em meio a crise. Para o povo, resta o desemprego, a fome e a miséria, para os bancos imperialistas, todo o orçamento nacional, que em última instância é o dinheiro do povo brasileiro.