O período pós-eleitoral tem deixado bastante claro que não passava de ilusão a campanha de setores da esquerda de que a vitória de Lula resolveria de uma vez os problemas políticos do País. A vitória do “amor” contra o “ódio” pode ter soado bem aos ouvidos destreinados, mas as movimentações de diversos setores da direita contra o governo eleito são um dado concreto de que a vitória eleitoral foi apenas uma batalha vencida: a guerra está apenas começando.
Nos últimos dias, pelo menos dois propagandistas da extrema-direita lançaram a palavra de ordem “Fora Lula”. O primeiro foi Augusto Nunes, um velho serviçal da imprensa golpista que ficou famoso ao agredir o jornalista Glenn Greenwald ao vivo durante uma transmissão da rádio Jovem Pan. Em texto publicado no site Revista Oeste, Nunes apresenta a palavra de ordem já no título e apresenta uma mensagem bastante agressiva para o futuro governo:
“Como o janismo, o getulismo, o ademarismo, o brizolismo, o lulismo morrerá com a morte física do único deus da seita. (…) Sem Lula, o PT logo será apenas uma má lembrança.”
Outro que lançou a mesma palavra de ordem foi Rodrigo Constantino, que escreve para o mesmo sítio. Em sua conta no Twitter, Constantino anunciou um combate ao governo Lula no mesmo tom de Nunes. Enquanto grande parte da esquerda lida com a situação na base de piadas, Constantino associa Lula ao autoritarismo do Judiciário, não reconhece a derrota eleitoral de Bolsonaro e oferece um mote para aglutinar a militância da extrema-direita:
“Bom dia. Só para lembrar que não aceitaremos jamais normalizar Lula presidente e fingir que esse teatro chinfrim liderado pelo STF/TSE ocorreu num ambiente institucional republicano. Fora Lula!!!”
Ambos representam hoje a extrema-direita bolsonarista, mas vale lembrar que se destacaram na campanha da direita “civilizada” que levou ao golpe de Estado em 2016. Dependendo de como a crise política e econômica evoluir, a nova campanha golpista pode irradiar para toda a direita e sua gigantesca imprensa.
Enquanto a extrema-direita procura mobilizar contra Lula, a direita tradicional pressiona o presidente eleito por todos os lados. Primeiro, os banqueiros berraram contra a possibilidade de Haddad assumir o Ministério da Fazenda, agora fazem um drama cínico contra a PEC da Transição, que apenas viabiliza a continuidade do Bolsa Família. No governo Bolsonaro, a farra orçamentária foi tolerada. Agora que o alvo são os mais pobres, a burguesia procura apresentar Lula como um gastão irresponsável.
O amor, finalmente, não venceu o ódio. Nem vai vencer. O “ódio” só será vencido com muita mobilização para garantir que Lula governe e que seu governo beneficie os trabalhadores. Em 2018, o Partido da Causa Operária (PCO) antecipou e muito o movimento Fora Bolsonaro, avisando que o governo fruto da fraude eleitoral seria destruidor e deveria ser combatido. Tivessem as direções da esquerda acompanhado, talvez o governo tivesse sido até derrubado pela mobilização popular. Ao invés disso, Haddad desejou “boa sorte” para Bolsonaro e Boulos disse que a esquerda não poderia ser como Aécio e questionar o resultado das eleições.
Dessa vez, a direita mostra consistência ao já lançar uma campanha aberta pela deposição do futuro governo. Esse setor conta com o poder econômico da burguesia e pode fazer muito estrago se a situação se radicalizar. Não há espaço para vacilações, é preciso mobilizar a militância de esquerda e a população em geral para defender e influir no governo Lula.





