Quando terminou o jogo dessa segunda-feira contra a Suíça, eu comentei com alguns companheiros: “se retranca fosse ilegal, todas as seleções seriam desclassificadas contra o Brasil”.
Não estou propondo aqui nenhuma regra absurda, mas que essa retranca exagerada como a que jogaram a Suíça e a Sérvia – e sei que todas as outras vão jogar assim também – é feia, isso ninguém pode negar. Eu diria até mesmo, essa retranca é um anti-jogo.
Funciona assim: o cidadão sabe que não tem habilidade e sabe que o time oponente é superior. Aí, ele se fecha todinho lá atrás. Quem sabe, a sorte ajuda e uma bola sobra lá na frente e sai um gol. É feio, mas é legítimo.
O que não é legítimo é fazer o que fazem alguns elementos da nossa imprensa quando o Brasil perde nessa condições. Iam dizer que o Brasil não é mais o mesmo, que o futebol agora é retranca, isso é o bonito, isso é o moderno. Provavelmente até ressuscitariam o “ferrolho suíço”.
Ainda bem que Casemiro nos poupou desse espetáculo grotesco. Enfiou aquele chute certeiro, classudo, como se diz. Chute redentor. 220 milhões de brasileiros chutaram com ele aquela bola. Aquela bola encostou nos pés de cada um dos 220 milhões de brasileiros.
O Brasil cavocou, cavocou, cavocou, enfrentou o VAR, enfrentou o anti-jogo suíço, cavocou mais um pouco e encontrou o gol com Casemiro.
Com o gol, eu nem quis saber se o gol marcado por Vini Jr, anulado pelo VAR, estava ou não impedido. O que sei é que o VAR é uma coisa muita chata que inventaram no futebol. Antes, o juiz errava e você xingava “ladrão”, e mais uma meia dúzia de ofensas contra a senhora mãe do árbitro. O Juiz era parte do jogo, suas decisões certas ou erradas eram parte do espetáculo. Agora, substituíram isso por uns computadores que ficam em alguma salinha tenebrosa.
Companheiros, o VAR não anulou apenas o gol de Vinícius Jr. O VAR, provando ser o maior inimigo do futebol, da magia do futebol, ajudou a esconder a imagem de Vini Jr. comemorando em homenagem a Neymar, imitando aquela comemoração de Neymar fazendo careta de criança, “lero-lero, fiz o gol”. E a graça dessa comemoração foi essa ambiguidade: ao mesmo tempo que homenageou o 10 da Seleção, ele debochou dos abutres que atacaram Neymar.
Mas o VAR ajudou a imprensa abutre e aposto que ninguém vai falar disso. Inclusive eles querem mostrar que haveria alguma rixa no elenco da Seleção. Vini Jr desmontou qualquer coisa nesse sentido.
O jogo foi duro, tenso, torturante. Não porque o Brasil tenha jogado mal, mas porque o futebol é assim. A retranca não é proibida, o futebol é tão democrático que permite até mesmo que um suíço esteja na Copa. Se fosse na pelada do bairro, seriam os últimos a serem escolhidos.
Neymar, conforme dissemos, fez muita falta no jogo. Neymar é peça chave para penetrar na retranca inimiga, puxar a marcação, liberar os demais atacantes para o gol. Foi nítido que faltou essa peça. Mesmo assim, os jogadores brasileiros deram conta do recado. Que entrou depois, deu conta do recado. Todos ali foram verdadeiros guerreiros furando o bloqueio inimigo… cavocaram, cavocaram e derrotaram o adversário.
O gol desmontou a Suíça, que derreteu como chocolate no deserto (desculpem, foi inevitável o trocadilho). O empate em 0 a 0 seria a glória para a Suíça, mas o gol acabou com a estrutura do time suíço. Essa era a verdadeira Suíça. E pensar que essa seleção foi a que eliminou a Itália, o futebol europeu deve estar mesmo numa crise profunda.
Depois de tudo isso, o importante é que o Brasil está classificado.