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Há 326 anos

Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”

Representante do barroco no Brasil e em Portugal era também advogado

Gregório de Matos Guerra foi um importante advogado e poeta baiano que viveu no século XVII. Nascido em 1636 e falecido aos 59 anos em 26/11/1696, Gregório ficou conhecido como “Boca do Inferno” e “Boca de Brasa”. Poeta satírico, é um dos grandes autores da língua portuguesa no período colonial e um dos maiores no estilo barroco no Brasil e em Portugal.

Nascido em família rica, estudou em um colégio de jesuítas em Salvador e depois ingressou na Universidade de Coimbra em Portugal. Após o falecimento da esposa em 1678, consegue retornar a Salvador em 1681, já como poeta satírico. Ocupando cargo de Procurador, viveu em meio à boemia e produzindo seus versos satíricos que não poupavam as figuras do poder do Estado e da igreja.

Nessa época, já havia ganhado o apelido de “Boca do Inferno”, pois além de satirizar a elite econômica também debochava do clero nos seus versos:

“O Clérigo julgador,
que as causas julga sem pejo,
não reparando que eu vejo
que erra a Lei, e erra o Doutor:
quando vêem de Monsenhor
a sentença revogada
por saber que foi comprada
pelo jimbo, ou pelo abraço,
responde o Juiz madraço,
minha honra é minha Lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.”

No álbum Transa, lançado em 1972, o também baiano Caetano Veloso cantou os dois primeiros versos do soneto Triste Bahia de Gregório de Matos em música homônima:

“Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.”

Em 1694, o acúmulo de acusações de difamação, em especial contra membros da igreja ou símbolos religiosos resultou em uma deportação para Angola. A posição social do poeta e suas relações com figuras do poder ajudaram com isso a evitar o assassinato ou penas mais duras do que a deportação.

Em Angola, Gregório ajudou o governo português a combater uma conspiração militar e com isso foi autorizado a voltar ao Brasil. No entanto, proibido de voltar à Bahia. Acabou morrendo em Recife por conta de doença contraída ainda em Angola aos 59 anos. Deixou uma vasta produção literária, onde conciliou rigor no estilo com um conteúdo livre das regras sociais da sua época. Mais um dos grandes escritores da língua portuguesa nascidos no Brasil.

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