Torcidas de clubes de futebol da Alemanha iniciaram um movimento de protestos pedindo o boicote à Copa do Mundo do Catar, que começa no próximo domingo (20). Elas vêm realizando manifestações nos jogos da liga local nos últimos dias, denunciando violações de direitos humanos e corrupção contra o país árabe.
Esse movimento começou há semanas, com exibições de frases de protestos nos estádios, e é organizado pela campanha “Boicote Catar 2022”. Um de seus representantes é Bernd Beyer, que afirmou à Associated Press torcer para o Borússia Dortmund e o Colônia ─ isso mesmo, um “torcedor” que torce para dois times!
Mas essa não é uma demonstração de originalidade por parte dos torcedores alemães. Na verdade, não estão fazendo nada senão reproduzir a campanha montada pelo imperialismo desde que o Catar foi escolhido para sediar o mundial deste ano. Campanha, aliás, que sempre é feita contra os países oprimidos. Vimos situação muito parecida quando da realização da Copa do Mundo de 2018 na Rússia, com as mais grotescas invencionices sobre violações de direitos humanos e até dos animais (a imprensa britânica acusou Putin de mandar matar todos os cachorros de rua de Moscou) cometidas pelos russos.
Essa campanha revela que os europeus não perderam o hábito colonialista de se mostrar aos povos “selvagens” das suas antigas colônias como moralmente superiores. Exaltação moral que é expressa também pelos funcionários do imperialismo nessas colônias. O ex-presidente da Argentina, o coxinha neoliberal Maurício Macri, disse que a Alemanha é a favorita para vencer a Copa porque é uma “raça superior” ─ qualquer semelhança com os nazistas não é mera coincidência.
Não existe, no entanto, justificativa para essa exaltação moral. O Catar e a Rússia são, assim como todos os países atrasados, as grandes vítimas do imperialismo, inclusive o alemão. Os bancos alemães foram os responsáveis por escravizar os trabalhadores gregos após a crise de 2008, impondo uma feroz política neoliberal que submeteu a Grécia à ditadura do FMI, do Banco Mundial e do Banco Central Europeu. A Alemanha vende armas para a Arábia Saudita bombardear o Iêmen e exterminar o povo do país mais pobre do Oriente Médio, ali perto do Catar.
Os supostos 6.500 imigrantes que morreram no Catar nos últimos dez anos não são nada perto do que a Europa ─ liderada pela Alemanha ─ faz contra os imigrantes que tentam chegar ali. Aliás, por que fogem os imigrantes de seus países? No Oriente Médio e na África, geralmente fogem das guerras, invasões e golpes de Estado realizados exatamente pelo imperialismo europeu. O governo alemão foi um dos responsáveis pelos bombardeios da Líbia em 2011, que devastaram o país, derrubaram seu governo e geraram uma onda de refugiados no Norte da África e de imigrantes desesperados atravessando o Mar Mediterrâneo a nado para chegarem à Europa, morrendo no meio do caminho.
Talvez você já tenha visto, ouvido, lido ou reproduzido por aí a ideia de que "6.500 pessoas perderam a vida na construção de infraestrutura para a Copa no Catar" ou, pior, de que morreram "na construção dos estádios". Saiba então que essa 'informação' é totalmente enganosa
— José Antonio Lima (@zeantoniolima) November 12, 2022
Quando os imigrantes chegam à Alemanha, eles são “muito bem recebidos” pelos capitalistas alemães, que lhes dão um salário de fome e aproveitam essa mão de obra barata para rebaixar o valor de toda a mão de obra do país. Por outro lado, nas ruas os árabes e africanos que chegam à Alemanha são hostilizados por uma extrema-direita que cresce cada vez mais, inclusive no parlamento, precisamente por explorar o sentimento de superioridade.
O imperialismo, assim como o colonialismo, justifica suas mais bárbaras atrocidades pela suposta superioridade moral diante dos “selvagens”, dos “brutais”, dos “criminosos” que vivem e governam as colônias.