Poucos dias após o segundo turno das eleições deste ano, as quais consagraram Lula como o novo presidente do Brasil após a votação mais acirrada de toda a história da República brasileira, o Movimento Sem Terra (MST) publicou, em seu canal no YouTube, um vídeo de João Pedro Stédile, principal liderança da organização, analisando o resultado do pleito.
Na ocasião, é preciso destacar a política defendida por Stédile no que diz respeito à perspectiva da luta popular nos próximos meses e, depois disso, durante o governo Lula. “A natureza das mudanças do governo Lula vai depender da capacidade que nós tivermos como forças populares de seguir organizando o povo para lutar pelas mudanças”, afirmou o coordenador.
Mais adiante, ele deixa claro, de maneira acertada, que a principal maneira que o povo terá de influir nos rumos que o governo Lula irá tomar é por meio dos Comitês Populares, organizações compostas pela base dos movimentos sociais que serve para organizar a atuação da militância em âmbito local.
“Temos pela frente, então, uma missão imediata dos próximos dois meses: fazer com que todos os comitês populares tenham vida própria, autônoma e que sigam se reunindo”, continuou Stédile antes de recomendar que os comitês já formados fortaleçam a sua organização por meio de plenárias municipais, estaduais e, então, uma plenária nacional.
É preciso dizer que, de maneira geral, sua proposta é acertada e deve ser defendida. Entretanto, é preciso pô-la em prática de maneira mais clara e concreta. Em primeiro lugar, é imprescindível que as direções da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Partido dos Trabalhadores (PT) e do MST orientem a sua militância a formar comitês em todos os lugares do País. É o primeiro passo que deve ser tomado para garantir um apoio popular sólido ao novo governo Lula.
Para tal, as plenárias mencionadas devem ser convocadas da maneira mais ampla e aberta possível. Assim, será garantido que a base participe como protagonista do debate que vai formar o exército dos trabalhadores, fortalecendo ainda mais a mobilização da classe operária. Nesse sentido, é preciso rejeitar um esquema puramente burocrático e dar vida ao movimento popular, que utilizará a sua própria organização como principal arma em sua luta contra a burguesia.
Além disso, as reuniões devem ser organizadas de modo que os militantes de base tenham uma influência e uma participação decisiva no processo, pois é assim que garante-se vida de toda a mobilização. Não deve ser algo em que os burocratas falam e os demais participantes apenas escutam.
Em meio à sua exposição, Stédile afirma que a plenária nacional convocada pelos movimentos sociais será, provavelmente, virtual. Mas isso teria de ser evitado, a plenária nacional precisa ser presencial. Assim como um ato de rua, a mobilização dos trabalhadores deve ser algo primordialmente presencial, deve mostrar força e fortalecer os ânimos da população por meio de sua própria luta. Algo que, virtualmente, é muito difícil.
Por fim, é de extrema importância que a CUT convoque a sua própria plenária nacional e que, da mesma maneira, seja feita com ampla participação de sua base. Neste momento, é preciso discutir um plano de ação contra a ofensiva da burguesia que, ao que tudo indica, tentará sabotar de todas as formas possíveis o próximo governo Lula.
Os trabalhadores têm todas as condições materiais que precisam para derrotar, de uma vez por todas, a ofensiva golpista no Brasil. Os capitalistas já demonstraram, principalmente por meio da imprensa burguesa, que não houve casamento entre a burguesia e Lula e, frente a isso, é preciso impulsionar ao máximo a organização da classe operária e garantir que o presidente eleito governe conforme as reivindicações e as necessidades reais do povo.