Na última edição de seu programa no canal pago HBO, o humorista Gregório Duvivier, sem motivo algum aparente, resolveu dedicar uns minutos para falar unicamente sobre o Partido da Causa Operária (PCO). Em tom de deboche, Duvivier destaca que o PCO sempre esteve ao lado de Lula e que merecia um lugar em seu próximo governo. Mais adiante, afirma, seja por ignorância ou por maldade, que o Partido defende Stálin e ridiculariza Lourdes Melo, candidata da organização de esquerda que ficou famosa durante o primeiro turno das eleições deste ano.
“É um partido tão de esquerda, mas tão de esquerda, que toda a esquerda odeia porque faz a esquerda se sentir direita, fala assim ‘o que é isso aí, então o que é que eu sou?’”, afirmou o humorista.
O que mais chama atenção é o fato de que o humorista não se esforçou em estabelecer absolutamente nenhum gancho para falar sobre o PCO. O fez de maneira absolutamente gratuita, incluindo o Partido que não faz parte nem mesmo da coligação com o PT (por uma questão de princípios) na composição ministerial do próximo governo Lula. Pode-se afirmar, portanto, que escolheu, conscientemente, falar sobre o PCO, algo que não foi feito nem mesmo quando Lourdes Melo viralizou nas redes sociais.
Por que ele teria feito isso? A que serve esse tipo de quadro humorístico? Uma análise mais detalhada da imprensa burguesa parece fornecer a resposta.
Na última semana, a burguesia, enquanto classe, entrou em pane quando Lula, após eleito, demonstrou que manterá a política que prometeu ao longo de sua campanha eleitoral, ou seja, a de defesa dos interesses dos trabalhadores contra os patrões. Uma defesa até mais enfática que em vários momentos da campanha. Após declarar ser inimigo número um do teto de gastos e afirmar que não poupará capital para favorecer a classe operária, o “mercado” (os capitalistas) começou a chorar, com índices da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a principal do País, despencando. Além de um aumento singelo no valor do dólar.
Finalmente, a principal reivindicação da burguesia para o governo Lula era de que ele levasse uma política econômica, em última instância, neoliberal. Para tal, pressionou Lula e sua equipe a se aliarem a figuras reacionárias da política brasileira, indicando, por exemplo, Pérsio Arida, um banqueiro, para o Ministério da Economia.
Em outras palavras, no momento em que Lula, depois de ter vencido as eleições, demonstrou que rejeitará todas as expectativas da burguesia para o seu governo, o capital financeiro entrou em crise e intensificou ainda mais os seus ataques contra todo e qualquer elemento minimamente de esquerda perto de Lula. O jornal O Globo, por exemplo, publicou um editorial nessa terça-feira (15) criticando Janja, a esposa de Lula, ao afirmar que ela deve se afastar de um papel importante na nova administração.
Apesar de todas as críticas cabíveis à Janja que, de maneira geral, demonstrou adotar posições mais à direita em relação a Lula, o ataque que sofreu da imprensa burguesa é completamente infundado, demonstra ser uma mera campanha para pressioná-la a se afastar do governo. Logo, nem mesmo a mulher do presidente, alguém minimamente de esquerda é aceitável para a burguesia. O mesmo ocorre com Haddad: ao surgir um boato de que ele assumiria o Ministério da Economia, o “mercado” também reagiu negativamente, atacando o petista. Fica claro que a burguesia está desesperada para acabar com tudo e qualquer coisa que se pareça minimamente de esquerda. Ou que, mesmo que não pareça de esquerda, seja considerado de confiança do presidente eleito Lula.
O PCO, nos últimos anos, tem ocupado papel cada vez mais central na política nacional, demonstrando expor uma política de extrema-esquerda fundada na defesa dos interesses dos trabalhadores. O Partido tem crescido de maneira acelerada e, portanto, a burguesia também não pode ignorá-lo e, principalmente agora, durante o novo governo Lula, procura neutralizá-lo. O programa de Duvivier, levando isso em consideração, faz parte da operação que busca desmoralizar o agrupamento de esquerda, principalmente quando lembramos que na mesma semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou por continuar a censura contra as redes sociais do Partido.
No final, em sua busca por neutralizar Lula, a burguesia precisa necessariamente atacar o PCO para, então, atacar o PT. A sua recente mobilização no que diz respeito à difamação dos setores mais à esquerda do governo Lula, somada à campanha que está se estabelecendo contra o Partido, são tiros de aviso para o presidente eleito. A burguesia quer deixar claro que, se governar em prol dos trabalhadores e contra os capitalistas, sofrerá ataques venais que podem, inclusive, resultar em ainda mais um golpe.