A deputada eleita por São Paulo, Marina Silva (REDE) fez ontem sua primeira participação oficial na COP 27. O presidente eleito Lula chegará ao Egito na próxima segunda-feira. Além da equipe de Marina Silva, governadores e representantes do agronegócio do governo Bolsonaro também estão no evento. Será que os grupos do atual e do futuro governo brasileiro falarão na mesma língua e negociaram nas mesmas bases com os parceiros internacionais? O protagonismo esperado de Lula e sua equipe será maior que o do grupo de representantes bolsonaristas? Ou serão negociações paralelas, com destaque na imprensa para Lula, mas nos bastidores o agro, provavelmente, mantenha seus interesses protegidos e atuantes, enquanto nos discursos oficiais falam de colaboração “técnico-científica” para um desenvolvimento da bioeconomia sustentável, proposta por Marina Silva?
Em publicação no Twitter, a deputada brasileira publicou, orgulhosamente, que em conversa com John Kerry tratou de acordos técnico-científicos entre os dois países que seriam , em suas palavras, “muito vantajosos para o Brasil”. Ainda no Twitter, um vídeo com a fala de Marina Silva à Globonews revela mais alguns detalhes da conversa entre defensores da Amazônia.
Segundo ela, com a confirmação de que o presidente Lula se compromete com as questões ambientais e climáticas, “os investimentos virão”, pois os acordos em discussão e futuros financiamentos norte-americanos seriam uma forma de o presidente dos EUA, Joe Biden, celebrar a “possibilidade de uma agenda muito mais aprofundada com o presidente Lula na área de técnico- cientifica e em outros esforços.” Devemos estar alertas e questionar quais “outros esforços” seriam esses: manter a floresta amazônica e seus povos? ajudá-los a se desenvolver economicamente? Certamente, não.
E quais seriam os interesses do coração pulsante do imperialismo? Talvez sejam os mesmos de outros países “verdes” europeus que financiam o Fundo Amazônia, Noruega e França. Fornecem todo o equipamento para monitoramento da região e de seus recursos naturais e “equipamentos sociais”, através de ONGs e entidades humanitárias.
Mesmo considerando a gravidade deste tipo de entreguismo protagonizado na COP 27, a parte “cômica” fica por conta da própria Marina Silva, deslumbrada com sua interlocução com o “ídolo” estadunidense quando afirma que: “ Eu pedi a John Kerry que os Estados Unidos também possam participar do aporte financeiro para o Fundo Amazônia. Ele respondeu que já estava em negociações com Noruega e França, devido a outros projetos em comum” . A brasileira afirma que o Fundo Amazônia é de acesso muito bom para pesquisa e que “num caso de emergência, de desmatamento, esses fundos possam ser usados no combate às queimadas, e para a ajuda de famílias em situação de vulnerabilidade.” Será que os indígenas do Oeste da Bahia, do Pará, do Maranhão, de Roraima terão acesso às vantagens que os acordos com Kerry e o Fundo Amazônia trarão ao Brasil?
Marina frisou seu “choro” a Kerry, reforçando a importância dessa participação. Seus pedidos de ajuda ao presidente Biden, a quem ela parece reverenciar discretamente, são bem semelhantes aos de outra representante brasileira na COP27, Sônia Guajajara, quando ela pediu “ajuda” ( leia-se intervenção) a Washington para a resolução de problemas nacionais de competência exclusivamente brasileira. Abrem as portas para a “colaboração” (leia-se intervenção) dos imperialistas.
O entreguismo brasileiro tem várias faces. São amistosas e acolhedoras, colaborativas e ecológicas, tradicionais mas em dia com a tecnologia, às vezes usam cocares lindos, outras vezes, um simples coque e roupas cafonas. Elas entregam, de bom grado e com bom financiamento gringo, as riquezas nacionais. Assim como Sônia, Marina também cedeu aos encantos do imperialismo. Pedem elas aos maiores poluidores do mundo recursos para salvar o mundo da poluição e do desmatamento. Contraditório, com certeza. Mas é esse mesmo o espírito da agenda verde tão apreciada pelos ecologistas, como a própria Marina Silva.
O melhor jeito de resumir a ópera foi a resposta de Rui Costa Pimenta ao post de Marina: