O regime político no Peru, assim como em diversos países da América Latina, está em total e irremediável decomposição. O atual presidente do país, Pedro Castillo, tem sido alvo de uma perseguição implacável dos setores que representam a burguesia no parlamento peruano. Isto porque, apesar de Castillo adotar uma política bastante contraditória em relação ao próprio partido (Peru Livre), sua eleição contra a candidata de extrema-direita, Keiko Fujimori, representou uma vitória das massas populares diante do golpe de estado no país.
A crise atual se inicia em 2016, quando o então presidente do país, Pedro Pablo Kuczynski (PPK), se tornou alvo de um processo de impeachment, as acusações de recebimento de propina da empresa Odebrecht se tratava de um desdobramento da operação Lava-jato, a qual condenou o presidente Lula sem provas no Brasil. Apesar da votação favorável para PPK, o mesmo renunciou após abertura de novo processo, seu vice de chapa, Martín Vizcarra, assume a presidência e sofre impeachment sob as mesmas acusações. Diante de protestos contra o golpe denunciado por Vizcarra, o presidente do Congresso Nacional do Peru, Manuel Merino, não resistiu 5 dias na presidência e pediu renúncia. É importante destacar que todos os presidentes que sucederam o ditador sanguinário, Alberto Fujimori, foram enquadrados por corrupção no mesmo.
A disputa entre Castillo e a filha do fascista que perseguiu o movimento revolucionário Sendero Luminoso foi extremamente apertada assim como tem sido nos países onde há polarização entre a esquerda e a extrema-direita, o candidato do Peru Livre ganhou por uma diferença de apenas 0,4% dos votos válidos. Após a eleição, Keiko Fujimori começa articular um golpe de estado e denuncia fraude nas urnas, o pedido de anulação de 300 mil votos impulsionou a mobilização de militares reformados em Lima (capital) com objetivo de impedir a posse do novo presidente. Naquele momento, a radicalização dos amplos setores populares mobilizados nas ruas do país impediu que um golpe se consagrasse.
Diante da grande pressão exercida pela burguesia, o presidente eleito abandonou completamente o programa defendido na eleição, a prometida convocação de uma Assembleia Constituinte, para elaboração de uma nova Carta Magna e fechamento do Congresso golpista, deu lugar a ruptura com as lideranças do Peru Livre e a distribuição de cargos do governo para políticos direitistas. Mesmo entregando tudo o que podia para a direita numa tentativa desesperada para ser aceito pelo imperialismo, Pedro Castillo foi alvo de processo de impeachment sob acusação grosseira de “incapacidade moral”, o atual presidente não foi destituído justamente defesa de seu partido, apesar do racha que sua política promoveu, e do apoio da população que não aceita mais governos neoliberais no país.
O governo de Pedro Castillo não consegue se estabilizar, há um movimento dentro das Forças Armadas contra o atual presidente e sabotagens dentro do próprio governo. Por outro lado, também enfrentou protestos pela redução do preço dos combustíveis e pela denominada segunda reforma agrária ataques. Castillo, que já foi alvo de seis investigações fiscais por suposta corrupção, enfrenta o terceiro processo de impeachment, agora por violações constitucionais e “traição à pátria” por defender a facilitação de acesso ao mar para Bolívia. Em resposta a nova tentativa de golpe contra seu governo, o atual presidente do Peru disse que fará uma consulta popular e que o povo precisa se manifestar. Essa deveria ser a linha política de seu governo e se revela a única forma de sobreviver aos ataques do imperialismo.