Nos primeiros dias da COP27, vários representantes de países africanos fizeram pronunciamentos. Congo, Gâmbia, Angola, entre outros, discursaram representando seus países. Os discursos foram breves e todos, sem exceção, comprometidos até a alma com a promessa de que, em 2050/2060, seus países estarão livres de emissões de gases nocivos e trabalhando na captação de carbono com todo o empenho que podem dizer ter – podem dizer, mas implementar, aí já é outra conversa.
Embora um dos slogans que se via em imagens do evento dissesse “Together for implementation” (Juntos pela implementação), o ponto comum à maioria dos oradores de países africanos foi o fato de que muitos deles não poluem nem um milésimo do que os países imperialistas poluem por dia, usando combustíveis fósseis, embalagens inúteis, lixo de toda a espécie, inclusive, lixo espacial. Porém, são eles os maiores atingidos pelas mudanças climáticas devido à pobreza em que se encontram depois de serem sugados em suas riquezas naturais.
Finalmente, são países independentes institucionalmente, mas as condições de vida de seus cidadãos não correspondem à independência social e econômica na devida proporção. Afinal, economicamente, tais países são bastante dependentes dos favores e investimentos do “ex”-colonizador, agora investidor e benfeitor. Seria a fome, as doenças e as guerras de ricos contra pobres ”sustentável”, “verde” ou “humano”?
Países insulares, como Ilhas Seychelles e outras ilhas, também manifestaram sua preocupação, pois além do aumento do nível das águas, que engole as ilhas aos poucos, o aumento da poluição por plásticos e dejetos em suas lindas praias, fonte de renda das ilhas, não é produzida pelos moradores: vêm do outro lado do mundo. Estão na superfície e no fundo das águas, e por aí vai. Resumindo: palavras e ações não convergem, pelo contrário.
A Alemanha anunciou, durante o evento, a volta de seu financiamento para o Fundo Amazônia, assim como a Noruega já tinha feito assim que Lula venceu as eleições. Alguns delegados da comitiva brasileira, ligados ao agronegócio, querem levar a imagem do Brasil como um país de energia verde. Vê-se uma mobilização em torno de nosso País para que, no final, o imperialismo roube nossos recursos naturais.
Outra novidade que talvez se discuta na Cúpula é uma questão de nome, de rótulo: passar a usar o rótulo “green” em investimentos na energia nuclear e no gás. Será que vai “colar”? Dependendo da intensidade do inverno no hemisfério norte, e da falta de energia em países industrializados e ricos, é bem provável que o monstro nuclear de ontem vire o anjo salvador de amanhã, como já ocorre com o uso de carvão, na forma de pallets, por países da Europa.
Reportagem do New York Times revelou, meses atrás, o engodo das empresas que vendem energia verde: desmatam florestas na Romênia e transformam árvores centenárias em energia para fogões e aquecimento. Porém, querem ajudar outros países a se livrar do carvão poluidor.
Depois das mulheres, negros, LGBTQIA+, agora, a onda verde e ambientalista é a marca identitária da vez. O movimento Just Stop Oil e outros semelhantes certamente marcarão presença.