Durante a corrida eleitoral, a imprensa da esquerda manteve uma corrente excessivamente otimista que, apesar de poder ser poética, não se sustentava na realidade. Entraram, antes do primeiro turno, na política do “já ganhou”, acreditando que Lula venceria o pleito presidencial com mais de 15 pontos percentuais à frente de Bolsonaro ─ acreditando nas pesquisas eleitorais, que se mostraram mentirosas.
Essas vozes da esquerda se baseiam nos jornais burgueses, como se fossem fontes confiáveis, que aparentavam ter opiniões favoráveis a Lula. Tais opiniões não eram mais do que mera chantagem, como quando falavam que a “elite” o apoiaria ou que o “mercado”, capitalista e extremamente neoliberal, já havia o escolhido como candidato nessas eleições.
As intenções burguesas por trás dessas alegações são de colocar rédeas em Lula, defendendo que ele se torne mais um político neoliberal em contraponto do que sempre foi. O ex e futuro presidente petista representa a classe trabalhadora, o povo pobre e oprimido, e acreditar que o imperialismo escolheria uma pessoa capaz de unir os operários em torno de uma causa como candidato ideal é um ato de ingenuidade.
Agora, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a imprensa da esquerda segue exaltando notícias reproduzidas pelos capitalistas dos mais tradicionais e direitistas meios de comunicação. Reproduzem discursos de colunistas da Folha de São Paulo ou Estadão, enquanto reverberam falas da Globo a respeito das posições do “mercado”. Se tal imprensa golpista afirma que o “mercado” está feliz com Lula, não deve ser visto como uma notícia boa, mas sim analisado o interesse nefasto que teriam com essa tentativa de aproximação com o líder mais popular brasileiro. Porém, o que as vozes da esquerda interpretam é que Lula, em sua onipotência, trará os direitistas do centrão do Congresso para o seu lado, os convertendo, inclusive, em base do seu governo. Um paraíso, para eles!
Esquecem, porém, que tais setores são as maiores cobras do jogo político, que já usurparam o governo do PT uma vez e que agiram, diversas outras horas, para fazer com que Lula estivesse fora do jogo. Deve-se governar, sim, com uma ou outra estratégia prática, mas a base do governo deve sempre estar na população, na classe trabalhadora que se mobilizou para a eleição de Lula e que está disponível para, assim que convocada, encher as ruas em defesa de seu governo.
Defender, enquanto imprensa declarada de esquerda, a união com setores nefastos da burguesia em nome de um falso combate ao fascismo não é uma política correta. Lula, apesar de extremamente hábil e de ser o único capaz de levar multidões de trabalhadores às ruas por pautas populares, não deve ser visto como imbatível. Quando golpearam Dilma e tiraram-na da presidência, houve um setor petista que acreditou que o golpe não se consolidaria, pois Lula negociaria com este mesmo centrão que segue no Congresso. Mais tarde, em sua prisão, acreditaram que Lula não seria preso e, caso fosse, não passaria de 10 dias na cadeira, pois sua habilidade faria com que fosse solto imediatamente. Além do mais, defenderam que Haddad ganharia em 2018 no primeiro turno, postergando alguns dias seus sonhos após os resultados e passando a acreditar que, no segundo turno de 2018, Bolsonaro seria derrotado pelas “forças democráticas” unidas em torno de Fernando Haddad. Vimos os resultados das experiências anteriores.
O caminho para combater os golpistas da imprensa não é os trazendo para o campo popular em torno de outro inimigo, pois eles representam justamente aquilo que deve ser combatido. O mandato de Lula deve ser popular, sentando para negociar com os trabalhadores por meio dos sindicatos e recuperando os direitos retirados pelos que arquitetaram o golpe de estado em conluio com os escritórios de Washington.