O blog Universa, do UOL, publicou uma reportagem em que uma publicitária do Rio de Janeiro denuncia: “por causa do Exército, deixei de votar.”
Ela se refere ao bloqueio realizado na Ponte Rio-Niterói pelo Exército e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no domingo (30), quando se deu o segundo turno das eleições. Ela saiu de Campos dos Goytacazes às 8h e deveria ter chegado em casa às 12h. Mas sofreu com o engarrafamento em São Gonçalo e depois com outro na Avenida Brasil.
“Eu só cheguei em Santa Cruz [onde deveria votar] às 17h10. Estou indignada, porque um voto faz toda diferença”, disse. E ainda afirmou que a operação “foi a tentativa de um golpe”.
O caso da publicitária Anna Beatriz Sapienza Fontes não é isolado. Indígenas do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, também denunciaram que não puderam votar, por falta de transporte. Segundo o cacique Siranho Kaiabi, da aldeia Ilha Grande, só os moradores das aldeias mais próximas à cidade de Querência conseguiram votar.
“Somos cidadãos também, e temos todo o direito de votar para escolher nossos representantes”, afirmou à Folhapress. O culpado, segundo eles, seria o prefeito da cidade, Fernando Gorgen (DEM), que é aliado de Bolsonaro, que os teria impedido de votar por considerar que a maior parte daqueles indígenas votaria em Lula.
O portal da Justiça Eleitoral ignorou as denúncias dos indígenas e, como sempre, disse que elas são “fake news”. A fonte que comprovaria a mentira seria… a própria Justiça Eleitoral, que é parte do caso e logicamente defenderá os seus interesses.
O mesmo vale para Alexandre de Moraes, presidente do TSE. Ele disse que as operações da PRF, de bloqueio de rodovias principalmente no Nordeste a mando do seu chefe bolsonarista, Silvinei Vasques, “em nenhum caso impediram a votação”.
E apresentou como fontes precisamente a PRF e o TSE! Quão imparcial é o ministro!
Mas as declarações das pessoas que foram impedidas de votar, tanto no Rio de Janeiro como no Mato Grosso, refutam o discurso de Moraes. Quem tem mais crédito, uma pessoa que é vítima direta e envolvida no caso, ou um responsável pelo órgão que naturalmente seria deslegitimado se houvesse casos de impedimento de votação?
Ao que tudo indica, as denúncias são verídicas. Moraes ignorou completamente as denúncias sem nem mesmo tê-las apurado e disse que eram “fake news”, ou seja, que as operações golpistas da PRF “em nenhum caso impediram a votação”.
Moraes inventou uma “fake news”. Ironia do destino, não? O caçador de mentiras, o baluarte da verdade, inventou uma mentira feia! Deveria ser preso! Afinal, “fake news” não é crime? Moraes criminoso!
Alguma coisa vai acontecer com ele? Absolutamente, não. Porque é justamente ele, o todo-poderoso togado e lustrado, quem decide o que é verdade e o que é mentira. E não aceita ser contestado, tal como o personagem principal do livro “O Rei Careca”.
Mas o principal problema não é que Moraes inventou uma “fake news”. Ele fez tudo isso para proteger o golpe eleitoral que foi dado pela PRF contra Lula e a favor de Bolsonaro. Ele, que se projetou nos últimos anos, como o combatente do fascismo, o inimigo número um de Bolsonaro, o bastião da democracia, atuou clara e intencionalmente para favorecer Jair Bolsonaro.
Protegeu Bolsonaro e atacou o eleitor comum, aparentemente o eleitor de Lula. Evidencia-se de que lado está Moraes, no fim da história.