A vitória eleitoral do ex-presidente Lula, no dia 30 de outubro, foi resultado da ampla mobilização popular que se verificou em todo o país. Neste sentido, de imediato, é necessário assinalar que não se trata de um governo dependente da burguesia, mas um governo de esquerda, de tipo nacionalista, pois surgiu independentemente das classes dominantes, apesar das insistentes ilusões de membros da direção do PT e das próprias pressões da burguesia.
Desta forma, é necessário acentuar essa particularidade, pois é diferente da eleição de 2002, por exemplo, quando desde o início Lula fez um acordo com a burguesia para que ela o aceitasse. Naquela ocasião, os capitalistas e o conjunto da burguesia não fizeram maiores esforços para impedir sua eleição, na medida em que ela (a burguesia) necessitava de Lula para conter a mobilização de massas que estava em gestação contra os devastadores anos de FHC no governo, quando o povo trabalhador estava prestes a se rebelar contra a fome, a miséria e a ameaça de continuidade do PSDB, só aumentaria a insatisfação.
Já em 2006, Lula aproveitou-se do fato de já ter contido, em seu primeiro mandato, o movimento dos trabalhadores (e, portanto, usufruía de uma certa autoridade com a burguesia); além disso, já havia realizado acordos suficientes com vários setores e feito o PT crescer na máquina do Estado. Daí o porquê de a burguesia o ter “aceito” novamente, entendendo que ainda não era a hora de entrar em choque com o governo e, portanto, se isso ocorresse poderia haver um desgaste por parte da burguesia.
Os dois governos, assim, fizeram uma política “suave”, de “muita água com açúcar” e não foram verdadeiros governos da classe operária.
Nesse momento agora, em 2022, a história é outra e muito diferente. Desde o estabelecimento do julgamento farsesco do mensalão, a burguesia, dirigida pelo imperialismo teve como objetivo principal acabar com o Partido dos Trabalhadores (PT) e, mais importante, neutralizar Lula, o principal representante dos trabalhadores no Brasil.
Sua eleição vem após longos anos de duros ataques aos direitos do povo brasileiro, com o impeachment da presidenta Dilma, o governo Temer, a prisão de Lula e a eleição do fantoche direitista da burguesia e do imperialismo, Jair Bolsonaro. Portanto, a vitória eleitoral de Lula representa a maior conquista dos trabalhadores dos últimos anos, vitória atingida com muita luta e, acima de tudo, com base na mobilização popular.
Nesse sentido, a guinada que a campanha de Lula deu à esquerda, logo após o primeiro turno, foi essencial para garantir a sua eleição. Antes, era uma campanha que negava a mobilização popular, se limitando à internet e aos acordos “por cima”, ou seja, pela aliança com figuras reacionárias como Alckmin (PSB).
Com o resultado da primeira votação, que mostrou claramente que a corrida eleitoral estava longe de ser ganha, Lula convocou o povo trabalhador para tomar as ruas e garantir a sua eleição. É isso que deve ficar claro: a vitória de Lula só foi possível por meio da mobilização dos trabalhadores, por meio dos imensos atos que coloriram o País todo de vermelho. Uma verdadeira luta contra os golpistas.
Foi uma campanha que, diferentemente do que ocorreu em 2002, quando houve um acordo para arrefecer os ânimos dos trabalhadores, a campanha apoiou-se principalmente na classe operária para levar adiante a luta contra a burguesia e por Lula Presidente. Lula, no fim das contas, mostrou sua garra de 1989 e, armado com a mobilização popular, colocou os golpistas para correr.
Estamos diante da vitória não só de Lula, mas de todo o povo brasileiro, de todos os trabalhadores e suas organizações, como a CUT e o MST que, por quase uma década, sofreram com o golpe de Estado.
Os trabalhadores brasileiros, mobilizados, continuarão na luta por seus direitos. A diferença é que, agora, com Lula no poder, há uma tendência ainda maior para isso. E mais! Lula já deu sinais claros de que acompanhará a classe operária em suas reivindicações, demonstrando que é, de fato, o candidato do povo e que, por isso, travará uma luta feroz contra o imperialismo.
Desta forma, não há qualquer possibilidade do novo governo Lula avançar em direção ao atendimento das reivindicações populares se não for na luta e no enfrentamento à burguesia, ao grande capital e o imperialismo, pois diferente dos governos passados, a própria burguesia não está disposta a “aliviar” para Lula; ao contrário, estará pronta para atacar e impedir que Lula faça um governo voltado para a classe operária, as massas populares e os explorados de uma forma geral.