O processo eleitoral todo foi marcado pela preocupação da burguesia com a polarização política profunda no País, que se confirmou com o resultado muito apertado do segundo turno.
A polarização praticamente acabou com o chamado “centro” político, que nada mais é do que os partidos da direita tradicional, como o PSDB. O segundo turno foi disputado entre dois candidatos rejeitados pelos setores mais importantes da burguesia e do imperialismo. Eles chegaram ao segundo turno apesar disso. A polarização, que se aprofundou a partir do golpe de Estado, é a principal causa dessa crise do regime político.
Foi a própria direita tradicional que instigou hordas da extrema-direita para dar o golpe no governo Dilma. Agiam com violência contra qualquer coisa vermelha que passasse na frente deles. Até que a esquerda começou a reagir à altura.
A reação da esquerda se transformou em mobilização, a violência da direita se transformou no bolsonarismo. Essa é a origem recente da polarização no Brasil.
Se a esquerda não tivesse reagido, o golpe teria se desenvolvido em consequências muito mais desastrosas. Mesmo assim, Lula foi preso por mais de 500 dias, o impediram de se candidatar em 2018, Bolsonaro foi eleito. Foi graças à reação da esquerda, uma reação enérgica, uma mobilização, que Lula agora pôde ser eleito.
Agora, que a esquerda volta ao governo, a burguesia pede a paz e amor que ela não teve em 2016.
A esquerda pequeno-burguesa, enfeitiçada pela propaganda da burguesia, repete o mantra do paz e amor: “o amor venceu o ódio”. Nada poderia ser mais falso. Não é ódio, é a burguesia golpista; e não foi o amor, foi a classe trabalhadora que venceu a burguesia. Sem o ódio do povo pela burguesia, Lula não teria vencido a eleição, Lula provavelmente sequer estaria solto.
Essa campanha apareceu em setores ligados à imprensa burguesa, em setores burgueses, e logo se disseminou em setores da esquerda pequeno-burguesa, como os ligados ao PSOL e ao PCdoB. Isso demonstra que eles não entenderam absolutamente nada da essência política das eleições de 2022 no Brasil. Não entenderam que a polarização dessas eleições representou a polarização política na sociedade entre a classe capitalista e a classe trabalhadora, e seu resultado constituiu uma importante vitória da classe trabalhadora sobre os capitalistas. É uma visão idealista e extremamente infantil acreditar que o amor venceu o ódio, ou que a civilização venceu a barbárie, ou ainda que a democracia venceu o fascismo.
O esquema de despolitizar o debate, de transformar a luta política e a luta de classes em algo moral é uma política da burguesia, que não pode dizer abertamente quais as suas verdadeiras intenções. E as suas intenções não são de amor nem paz, mas é esfolar o povo até a última gota de sangue.
O que aconteceu nessas eleições é que o povo sentiu ódio da burguesia e conseguiu eleger Lula contra toda a máquina econômica da burguesia, dos governos municipais, estaduais e federal, dos empresários que ameaçaram seus funcionários.




