Em crise desde o Brexit, o Reino Unido segue em marcha ao próprio colapso e da rápida desintegração do país e do Commonwelth, resultado formal do império britânico. Após fracasso econômico retumbante na última década, de ter encampado uma luta fracassada contra a Rússia e de ter promovido uma política de guerra, levando a cabo a campanha contra Afeganistão, Iraque e Iêmen, os sintomas da metástase já se fazem presentes. Mal morreu a rainha Elizabeth II, seu filho, Charles III, sem popularidade, e embebido em escândalos, já mobiliza as colônias a buscarem independência.
Essa não é uma onda que vem de agora, na realidade há um movimento de libertação de relativa intensidade. Em 2021, Barbados, ilha caribenha, declarou-se república, afastando Elizabeth II como chefe de Estado em inusitada transição, realizada sob a presença do então Príncipe Charles, agora Charles III. Barbados já era independente desde 1966, e a declaração foi simbólica, porém agora já representa um movimento maior organizado por outros países.
Na Escócia, o movimento pela independência é muito forte, antes mesmo da morte da rainha. A primeira-ministra, Nicola Sturgeon, anunciou novo referendo para 2023. Em 2022, mais precisamente desde junho, o governo da Escócia vem preparando um plebiscito, liderado pelo próprio partido de Sturgeon, o Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês). O projeto sugere que a data do plebiscito seja 19 de outubro de 2023. O objetivo da legenda é que o país se torne um Estado independente, membro da União Europeia. A Escócia está sendo impulsionada a este movimento, a fazê-lo também com auxílio do imperialismo norte-americano, uma situação de grande contradição entre o desejo da população e do imperialismo.
Sturgeon é primeira-ministra desde 2014, e é uma das líderes do movimento de independência da Escócia. Em 2014, Sturgeon saiu derrotada de um referendo com acusações de fraude, vencido pela Coroa Britânica por pequena margem, 55% contra a independência contra 45% a favor, não demonstrado nem na opinião pública, nem pelos movimentos de rua, nem na insatisfação da população.
No Brexit também havia forte divisão, sendo a maioria contra o movimento, na Escócia, mas no final, a vitória foi da Coroa Britânica, onde a Rainha Elizabeth II não foi mera assinante de um tratado, mas uma voz atuante no movimento, chegando a discursar em 2019 sobre a necessidade do Reino Unido se separar de uma vez da União Europeia.
Sem dúvida que esse movimento colocou o povo da Grã-Bretanha, Irlanda do Norte, e o Commonwealth, no colo dos Estados Unidos, mas não se pode negar, que a legitimidade do reino está desgastada há mais tempo. Se por um lado, a Rainha Elizabeth II conseguiu unidade em função do carisma e experiência de 70 anos à frente do imperialismo britânico, por outro lado, Charles não impõe respeito suficiente, fazendo com que outra parte da imprensa imperialista faça uma campanha contra Charles, aproveitando-se de fatos concretos, mas ao mesmo tempo impulsionando a balcanização.
Crise do imperialismo
A rainha conseguiu manter relativa unidade aos países do bloco Commonwealth, muitos sentiam-se súditos de luxo, porém nada que impedisse protestos e movimentos de independência, já que a crise do imperialismo, especialmente do condomínio britânico, é bastante profunda. Com um rei impopular, evidentemente que as forças contraditórias se colocariam em choque. De um lado, o imperialismo norte-americano, impulsiona a imprensa internacional, de outro, a imprensa britânica, que tem se comportado em favor da queda do rei, não da queda do regime, e, não menos importante, as colônias que que defendem o republicanismo.
É o caso de Nova Zelândia e Austrália, onde o movimento republicano é grande, dividido em forças anti-imperialistas, mas fortalecido pelos primeiros-ministros, que são pró-imperialistas. Jacinda Ardern, do Partido Trabalhista, já declarou após a posse do Rei Charles III, que pretende cortar laços institucionais com a monarquia, embora cinicamente diga que não haja urgência para discutir isso no momento. Em entrevista, a pró-imperialista Ardern respondeu às perguntas sobre independência e afirmou “acredito que é provável que isso (independência) ocorra enquanto eu estiver viva, mas não vejo isso como uma medida de curto prazo ou algo que esteja na agenda tão cedo”. (O Globo)
O mesmo roteiro foi seguido por Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália. Segundo Albanese, “não é o momento” para discutir a independência, embora seja um republicanista disse que não tem interesse de fazer referendo durante o mandato com chefe de governo da Austrália, que desviou o assunto dizendo que “agora é hora de prestarmos homenagem à vida da rainha Elizabeth, uma vida bem vivida. Uma vida de dedicação e lealdade, inclusive ao povo australiano”. Enquanto isso, o líder do pró-imperialista, Verdes da Austrália, Adam Bandt, já se manifestou em favor da discussão imediatamente após a morte da rainha via Twitter.
De acordo com uma empresa, a Essential, 44% dos australianos são favoráveis à proclamação da República, número menor que o último referendo australiano, em 1999, quando o número de australianos pró-República era maior. O referendo australiano teve participação de 95,10% da população, com 45,13% dos eleitores respondem “sim” à República, e os demais 54,87% respondem negativamente, ou seja, 6.410.787 pessoas.
Antígua e Barbuda, Jamaica, protestos já ocorrem há anos e a pressão é maior para a independência. Nesses países atrasados, os súditos, que não são de luxo (primeira linha do Commonwealth), se organizam em torno das manifestações de lideranças republicanas. Gastou Browne afirmou à imprensa que “Isso não representa nenhuma forma de desrespeito aos monarcas. Isso não é um ato de hostilidade, ou qualquer diferença entre Antígua e Barbuda e a monarquia. É um passo final para completar o círculo de independência para nos tornarmos uma nação verdadeiramente soberana”.
Essas demandas desnuda a crise do imperialismo britânico, expõe a crise econômica com inflação recorde nos últimos 45 anos, com aumento do desemprego. Os fatores se devem à própria condução do Reino Unido, que após a guerra no Iraque, quando mataram mais de 1 milhão de iraquianos, causando ônus à economia financeira, ajudando na debacle de 2008. Após a empreitada de guerra contra a Rússia, a situação do Reino Unido se agravou, pois as sanções se reverteram em mais crise. A Rússia suspendeu o fornecimento de gás e petróleo, elevando a inflação e resfriando os britânicos. Nenhum país quer viver tutelado por um regime que está em tamanha crise.