Na América Latina, a política imperialista ganha um toque mais emocional, de fé e de esperança em palavras, gestos e identidades aparentemente “corretas” e sem preconceitos, “inclusivas”. O identitarismo conquistou corações e mentes que se consideram “de esquerda”, “jovens”, ”engajadas socialmente” e que pregam o amor em abstrato. Gabriel Boric, no Chile, é o retrato mais bem acabado dessa proposta de dominação ”soft”.
Isso, entanto, é revertido com sua subida ao poder. Boric ordena uma violência policial mais forte para reprimir estudantes em manifestações de rua. Isso aconteceu sob Pinochet, sob Piñera e, nosso jovem Boric segue os mesmos passos. Em 31/08/2022, a polícia chilena usou de todo o arsenal repressivo disponível para calar, ferir e intimidar jovens estudantes, seus eleitores e apoiadores durante a campanha eleitoral, que prometia paz, amor, terra, educação, etc. Entretanto, oferece cassetete, gás lacrimogênio, e muita porrada naqueles que contrariam o presidente bonzinho, tchutchuca do imperialismo. Se logo no início do mandato, Boric colocou o exército para reprimir indígenas e decretou Estado de exceção para se precaver contra os atos de revolta dos “irmãos” descendentes dos povos originários, por que não usar do mesmo recurso para reprimir estudantes? As imagens divulgadas em redes sociais mostram a delicadeza e a inclusão dos estudantes no governo “de esquerda” chileno.
Em vez de receber os estudantes para discutir os problemas, como faria um governo democrático e realmente de esquerda, Boric reprime os jovens, assim como qualquer presidente de direita, fascista ou ditador que a América Latina conhece bem, fariam. No Brasil, o candidato a vice-presidente na chapa de Lula, Geraldo Alckmin, é um expert no assunto repressão policial a estudantes. Por décadas, ele e seu partido (PSDB) reprimiram estudantes, professores, trabalhadores, sem teto, sem terra, enfim, gente que se une para manifestar suas reivindicações e suas opiniões sobre os rumos das políticas entreguistas do estado de São Paulo, maior do Brasil. Porém, Boric fez toda a sua campanha eleitoral chamando os estudantes, assim como todas as minorias chilenas, para uma união de forças que tenderia à esquerda. Os eleitores se mantiveram em sua tendência à esquerda. O presidente Boric, não. Ao assumir o cargo, suas palavras foram para um lado e suas ações para outro. Seja na repressão, nas políticas públicas ou na condução da economia e dos rumos que a Constituinte chilena toma.
Um governo democrático e de esquerda não se exerce apenas com discursos, propagandas, celebridades apoiando em shows e nas imprensas burguesas, acadêmicas ou alternativas, além das redes sociais. Discursos e imagens não são representações das reais propostas que os candidatos apresentam. Suas imagens e discursos são alegorias de um mundo melhor, onírico até, onde índios tem terras, recursos naturais e econômicos e respeito por parte das autoridades. Onde estudantes, mulheres e trabalhadores em geral tenham sua voz ouvida e seus direitos respeitados. É fácil assinar cartas e manifestos pelos “direitos humanos na Coréia do Norte”, se aliando a política imperialista de ataques ao país, e estando no ocidente, aliando-se à burguesia. Mas e os direitos humanos em países como Chile, Brasil, Colômbia, Equador? Quem promete incluir e no fim das contas exclui, com força militar, bombas de gás e jatos d’água, é de esquerda? É democrático e inclusivo? Pelo visto, é o contrário que presenciamos. Como dizia um antigo ditado, que cai bem neste caso chileno de 2022: “Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento.”




