A última segunda-feira, 28 de agosto, foi marcada pelo primeiro debate entre os candidatos à presidência da República, transmitido pela emissora Band. Os telespectadores estavam ansiosos para ver, sobretudo, o embate entre Lula e Bolsonaro, já esperando ver algum tipo de emoção logo na entrada das eleições. Infelizmente, não foi isso que vimos.
Lula se comportou como um cavalheiro — foi educado até demais. Foi um “bom moço”, como diziam os antigos. Apesar de nossos pais geralmente nos cobrarem de ter uma postura bem educada, não é assim que a política funciona, ainda mais quando se é um político de esquerda, popular e perseguido pela burguesia.
A política do “bom-mocismo” seguida por Lula é errada, e pode levar a um desastre. Ela tem como objetivo mostrar que o ex-presidente é alguém inofensivo, e portanto não existe problema nenhum em colocá-lo de volta na presidência. Ele não é um mal educado truculento como Bolsonaro, que, ao contrário de Lula, não fez questão nenhuma de manter qualquer tipo de educação.
O resultado da inofensividade de Lula pode ser vista no próprio debate. Enquanto ele tentava propagandear o seu governo e desmentir por cima o que Bolsonaro falava dele, os outros candidatos se juntaram e ocuparam quase todas as suas falas para atacar o próprio Lula e o PT, inclusive com a cena em que Lula tenta fazer com que Simone Tebet, a candidata da terceira via, fale mal de Bolsonaro, e essa desvia de sua pergunta e começa a atacar os governos de Lula e do PT.
Essa política, no final das contas, só faz com que Lula se adapte cada vez mais à políticas moderadas e direitistas, além de fazer com que Lula de fato pareça inofensivo, porém a sombra de Bolsonaro — ou seja, alguém incapaz de enfrentar a burguesia e o imperialismo. O ex-presidente foi chamado de corrupto, ladrão, ex-presidiário, e simplesmente não conseguiu reagir.
Precisamos ter claro que a política que o povo necessita no momento é uma política radical, de enfrentamento, mobilizadora, que coloque a população nas ruas para defender o governo, o PT e Lula, colocando essas forças populares de volta no poder e criando um movimento de massas, que mobilize a população no caminho da luta.
Essa política radical precisa entrar em substituição ao bom-mocismo. Lula não vai se eleger sem enfrentamentos — muito pelo contrário. Quanto menos o ex-presidente se mexer, menores são suas chances de ganhar e, ainda pior, menores são as chances da organização de uma mobilização das massas, com o apoio de toda a esquerda, que vá às ruas contestar as eleições frente a um catálogo tão impopular de candidatos.
Essa é uma armadilha que a burguesia está armando para Lula, moldando a campanha do PT em algo inofensivo enquanto promove Simone Tebet como a grande solução para o Brasil, uma mulher, professora, que se opõe a Bolsonaro, enquanto Lula faz o papel de uma planta no debate e Bolsonaro esbraveja contra seu governo — é uma armadilha a qual o ex-presidente não pode cair. É preciso enfrentar a situação política com garra, mobilizar os trabalhadores em defesa do Brasil, contra a burguesia e contra o imperialismo.