Nos últimos anos, uma das principais estratégias da burguesia para impor a sua política ao redor do mundo tem se dado pela doutrina do “mal menor”. Segundo essa filosofia, o povo deve escolher, quando diante de uma decisão, sobretudo, eleitoral, o candidato, ou a figura, que represente o menor perigo para os seus próprios interesses. Uma estratégia que é voltada principalmente para a esquerda pequeno-burguesa que, na ausência de princípios políticos claros, recebe de braços abertos os ditames imperialistas.
Todavia, esse “mal menor” nunca é, de fato, uma figura mais amena no que diz respeito à ameaça que representa para o povo. Em outras palavras, é sempre o representante mais fiel da política neoliberal, aquele mais atrelado aos interesses do imperialismo.
É o que foi feito, por exemplo, nas eleições de 2020 nos Estados Unidos, quando Biden foi eleito. À época, criou-se o espantalho de Donald Trump para que a esquerda apoiasse Biden no pleito. Ou seja, Trump foi pintado como um fascista que, naquele momento, representava um perigo iminente para a população americana. Para impedir que seu “regime de terror” tivesse continuidade, era preciso, portanto, votar em Biden e garantir a vitória da “democracia” contra a extrema-direita.
Agora mais do que nunca, fica claro que tal campanha não passou de uma farsa, uma manobra que serviu para justificar o golpe que a burguesia imperialista orquestrou contra Trump naquelas eleições. Afinal, comparado ao que Biden tem feito durante o seu governo, principalmente no que diz respeito à sua política externa, Trump é um cachorrinho inofensivo.
No Brasil, também em 2020, essa política se materializou por meio da chamada frente ampla, que consistia na união da esquerda com o chamado “centrão” (DEM, PSDB, MDB etc.) para derrotar a ameaça “fascista” de Bolsonaro, o espantalho brasileiro. Assim como nos Estados Unidos, a esquerda pequeno-burguesa também apoiou essa iniciativa dos banqueiros, sendo um de seus principais defensores o próprio Guilherme Boulos.
Com a chegada das eleições de 2022 no Brasil, a burguesia tem intensificado a sua campanha em torno do “perigo” que Bolsonaro representa para o estado democrático de direito nacional. Dessa vez, a alternativa se dá por meio de Simone Tebet, candidata escolhida da chamada terceira via que representaria uma alternativa a Bolsonaro por ser, supostamente, uma figura democrática. Seria, então, Bolsonaro pior do que Tebet? Decerto que não.
A candidata do capital financeiro
Bolsonaro e Tebet são dois políticos da direita, mas possuem uma diferença fundamental. Enquanto Bolsonaro representa a burguesia de baixo escalão, principalmente os empresários e latifundiários menores, Tebet é porta-voz da política do imperialismo no Brasil. Ou seja, é partidária do neoliberalismo, a doutrina econômica mais sanguinária de toda a história da humanidade.
É exatamente a mesma política de Fernando Henrique Cardoso que, durante seu governo, provocou uma devastação inigualável na história do Brasil. Aqui, não é preciso acreditar na palavra daqueles que denunciam o neoliberalismo, os números falam por si próprios: nos momentos finais do governo FHC, cerca de 300 crianças morriam por dia de fome no País. E mais, os dados são de uma reportagem do Jornal Nacional. Logo, decerto que a cifra é ainda maior do que o noticiado.
Ademais, não é preciso ir longe para confirmar esta constatação. Basta analisarmos alguns nomes que foram escolhidos para compor um eventual governo Tebet.
Em primeiro lugar, temos Elena Landau, economista responsável pelo programa nacional de desestatização do governo FHC. Depois, Vanessa Canado, ex-assessora especial para a reforma tributária no Ministério da Economia de Paulo Guedes, o homem de confiança do imperialismo no governo Bolsonaro. Em seguida, José Roberto Mendonça de Barros, o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no Governo FHC. Além disso, Wanda Engels, uma figura importante na criação da política de transferência de renda de FHC e José Guilherme Almeida Reis, que possui passagem no Banco Mundial.
Fica claro, portanto, que Tebet não só é simpática à política neoliberal, como promete fazer o Brasil retornar à era FHC, quando 1 criança morria de fome a cada 5 minutos. Afinal, sua equipe é composta, quase que em sua totalidade, por figuras ou ligadas ao neoliberalismo, ou ex-membros do próprio governo FHC.
Suas propostas: um expediente neoliberal clássico
Com um time composto por verdadeiros profissionais da economia neoliberal, por óbvio que sua política financeira não seria distante disso. Finalmente, Tebet defende uma política imperialista ferrenha, focando na questão da privatização e, de maneira geral, na redução do Estado em benefício do capital estrangeiro.
Não é à toa que seu programa de governo destaca um de seus quatro eixos exclusivamente para a privatização. Intitulada “Governo parceiro da iniciativa privada”, a seção dá o tom de sua política ao afirmar que “Nosso governo será o governo das concessões, das parcerias público-privadas, das privatizações e da desestatização”.
Ademais, no mesmo ponto, o programa destaca o objetivo de aumentar a relação da economia brasileira com órgãos imperialistas, como é o caso da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e das Nações Unidas.
Anterior a isso, Tebet também destaca, reproduzindo a mais pungente política do imperialismo em relação ao território, a questão da Amazônia. Defendendo uma política de desmatamento zero, Tebet inclui, ao final do texto, a proposta de “Criar polos de desenvolvimento de startups em parceria com empresas privadas e universidades”, um claro pretexto para introduzir o capital estrangeiro no território brasileiro e iniciar a entrega da Amazônia ao imperialismo.
Sem contar no caráter profundamente identitário – a ideologia esquerdista oficial do imperialismo – de seu último eixo, no qual consta, por exemplo, a paridade de gênero em seus Ministérios e o combate contra “a discriminação, a intolerância, o preconceito e o desrespeito”.
Seu próprio partido a incrimina
Tebet é candidata pelo MDB que, após ganhar a disputa para concorrer pela terceira via, recebeu apoio do PSDB, partido, inclusive, do qual FHC faz parte. Apesar da propaganda de que tais legendas seriam democráticas – em oposição à “barbárie” de Bolsonaro -, não podemos esquecer que foi justamente esse grupo quem entregou o Brasil para os grandes bancos internacionais.
Sem contar na participação desses partidos no golpe de Estado que derrubou Dilma do poder e prendeu Lula. Fundamentalmente, foram agentes centrais no que diz respeito à organização de todo o processo golpista em conjunto com o imperialismo americano.
Tebet cospe no prato que comeu
Durante toda a sua campanha, Tebet tenta se colocar como uma alternativa à polarização representada, principalmente, por Lula e Bolsonaro. Todavia, esconde que, durante praticamente toda a sua carreira política, principalmente no Senado, votou ao lado do governo na maioria das ocasiões.
Segundo o Radar do Congresso, seu partido, o MDB, votou em 88% das vezes ao lado do governo Bolsonaro no Congresso Nacional. Não é à toa que, tanto no Congresso, quanto no Senado, os parlamentares emedebistas foram apelidados de “base do governo”. A própria Tebet se alinhou com o governo em 86% dos casos. Onde está a oposição de que tanto fala?
Dentre as propostas apoiadas por Tebet, estão a Reforma da Previdência, a “autonomia” do Banco Central, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico e a Lei da Liberdade Econômica. Todos projetos profundamente neoliberais que, após o golpe, foram responsáveis por sucatear a vida do trabalhador brasileiro. Sem contar na própria Reforma Trabalhista.
No final, fica mais do que claro que Tebet não é apenas direitista. Representa tudo que há de pior na política e, nesse sentido, um massacre iminente contra a classe operária brasileira. Representante venal do neoliberalismo, um eventual governo Tebet promete deixar o povo brasileiro com saudades de Bolsonaro.