O cascalho cortava os meus pés descalços. A brisa do mar começava a se transformar em fortes rajadas de vento.
Nunca consegui identificar que ilha era aquela. Nem onde se encontrava. Não me lembro de nada antes nem depois daquele acontecimento.
─ Me abraça ─ pediu Alice.
Beijei a sua testa e ela fechou os olhos.
De repente, afastou-se e correu quatro metros em direção às ondas.
─ Splash!
Começou a chutar a água sobre mim, rindo.
Costumava ser assim, sempre muito divertida. Mas enigmática. Mudava de humor abruptamente e se fechava em seu ser.
“Eeu sEei, tudo pode acontecEer / Eeu sEei, nosso amor não vai mo-rrer / Vou pedir… aos céus… vôcê aqui comigoo / Vou jogaaar… no maaar / Flores pra teencoontrar…” ─ tocava um grupo de amigos deitados na areia.
O tempo fechou e começou a chover bem forte. Continuamos a caminhar na beira da água.
A minha visão já estava dificultada, com uma neblina lá na frente e as gotas caindo sobre as lentes dos óculos escuros.
Alice segurava a minha mão.
Nossos corpos começaram a ficar encharcados.
─ Ei, viado!
Olhei em direção a esse chamado, no céu, e vi Jesus Cristo olhando para mim. Ele era careca, tinha um nariz de palhaço e começou a rir da minha cara. Seu corpo se apresentou inteiro e vi que estava segurando o seu pênis sagrado, masturbando-se e ejaculando. Com a outra mão, apontou o indicador para mim, gargalhando. Nunca pensei que algum dia veria Jesus.
─ Espera só eu morrer pra gente se trombar aí em cima, seu mãozinha furada de uma figa! ─ gritei, olhando para ele e gesticulando.
Alice sorriu.
Mas a chuva apertou ainda mais. Eu não enxergava nada.
Sua mão começou a escorregar da minha. Seus dedos, entrelaçados aos meus, soltavam-se.
Andando juntos, no mesmo passo, segurei a ponta de seu dedo mindinho.
Ele finalmente escorregou e perdi o contato com ela.
Continuei a caminhar, sem olhar para o lado ou para trás.
Percebi que Alice esvanecia-se.
Continuei a caminhar.