O ministro do STF Luis Roberto Barroso, decidiu prorrogar por mais 60 dias, isto é, por mais dois meses, a apuração para decidir se Jair Bolsonaro cometeu ou não irregularidades na condução da gestão sobre a pandemia. O julgamento é um desdobramento da CPI da Covid, que, apesar das ilusões da esquerda pequeno-burguesa, não se tratava de mais que mero palanque eleitoral para a terceira via – com a própria Simone Tebet participando.
Coincidentemente ou não, o julgamento será em outubro, mesmo mês das eleições gerais de 2022. Quem vislumbra nisso uma espécie de vantagem eleitoral para Lula não poderia estar mais preso no mundo das ilusões burguesas: a Corte de arbitrariedades que é o STF trabalhará para impedir a eleição de Lula, assim como fez em 2018, seja impulsionando a candidatura de Simone Tebet ou impulsionando a de Jair Bolsonaro.
Trata-se de um golpe muito simples de dar, inclusive: se a burguesia enxergar possibilidades reais na vitória da terceira via, o STF poderá emitir uma decisão contra Bolsonaro, que o prejudique na disputa eleitoral; se a burguesia desistir da candidatura da terceira via, bastaria o STF decidir que Bolsonaro é inocente e que não teve nada a ver com o verdadeiro genocídio de 670 mil pessoas, que a candidatura de Bolsonaro seria impulsionada.
Esse julgamento coloca novamente nas mãos do STF o direito de decidir quem ganhará ou não as eleições. A esquerda não tem porquê acreditar que o STF tomará decisões em defesa de Lula; ao contrário, toda a farsa da CPI da Covid foi feita para promover eleitoralmente crápulas políticos da terceira via.
Não se pode esquecer o destaque que a Rede Globo deu a esta CPI: todos os dias, os políticos da terceira via e da frente ampla ganhavam espaço no Jornal Nacional para se promoverem eleitoralmente. Os políticos do “nem Lula, nem Bolsonaro” ganharam uma grande visibilidade na época; tratava-se unicamente de uma campanha golpista, que agora possivelmente terá sua continuação no período eleitoral.
Esse julgamento, direcionado contra Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro, na realidade, é um julgamento feito pelos golpistas para manipular a eleição e prejudicar a candidatura de Lula. O que parece uma ameaça a Bolsonaro, na realidade, é uma carta na manga para o STF usar como quiser, praticamente uma carta coringa para escolher quem será o presidente da República.
Tudo isso deixa claro o poder ditatorial que tal órgão eleito por ninguém possui. No entanto, a esquerda pequeno-burguesa se mostra incapaz de apresentar uma política própria e independente, coloca-se totalmente a reboque da política do STF.
O que o STF apresenta como sendo um combate ao bolsonarismo – que todo mundo deveria ser capaz de identificar como uma farsa completa – ganha imediatamente a simpatia da esquerda pequeno-burguesa, em especial, ganha a simpatia dos políticos carreiristas, que veem em todo esse processo de sabotagem à candidatura de Lula a possibilidade de adquirir um ou outro cargo.
Além de tudo isso, não podemos desconsiderar que a burguesia sempre trabalha com uma série de hipóteses e cenários possíveis para poder manobrar. Não está excluída de modo algum a possibilidade de eles passarem uma rasteira na candidatura de Lula enquanto as eleições se aproximem.
Não só a situação política é muito desfavorável para a eleição de Lula, como também existe a possibilidade de ele sequer ir para o segundo turno. Quem pode garantir que não surja uma denúncia bombástica contra Lula? Quem pode garantir que o desenrolar da CPI da Covid não possa ser usado para alavancar a candidatura de Simone Tebet e, depois, com uma eventual absolvição de Bolsonaro, elevar sua votação e garantir um segundo turno Bolsonaro x Tebet?
Enquanto a esquerda se prende nas ilusões de que Lula ganhará no primeiro turno e ignora todas as manobras da burguesia para impedir sua vitória – podendo até mesmo impedir que Lula vá para o segundo turno. Todavia, o PT não está levando a sério esta possibilidade, mas sim acreditando piamente que as alianças com a direita golpista serão capazes de barrar o golpe e fazer com que Lula volte à presidência, assim como acreditaram, em 2018, que ao ceder para os golpistas e rifar a candidatura de Lula ao lançar Fernando Haddad estariam fazendo uma grande jogada política.
A crença nos golpistas levou o PT a lançar um político sem qualquer apelo popular, abandonar a mobilização em torno da eleição do Lula e, por fim, a perder a eleição para Bolsonaro em 2018. A crença nos mesmos golpistas em 2022 abre um gigantesco flanco de ataque contra a candidatura de Lula e pode ser responsável ou por um novo governo Bolsonaro, ou pela eleição de Simone Tebet.
É preciso iniciar uma ampla campanha contra a frente ampla e contra a política de subordinar a ação política da esquerda às vontades de seus maiores inimigos. Não depositemos nenhuma confiança no STF, na CPI da Covid, em Alckmin ou em qualquer um dos carrascos do povo que jogaram o país na situação de miséria desde 2016. Ao contrário disso: Lula presidente, por um governo dos trabalhadores!