Cuba

Julgamentos em Cuba e a guerra não convencional

Como a imprensa burguesa age na propaganda contra Cuba

Por Marcia Choueri, correspondente internacional em Cuba

Cuba é, com toda certeza, um dos maiores alvos de mentiras, distorções e fake news, como se diz modernamente, divulgadas pela mídia burguesa e reproduzidas por meios “independentes”, inclusive alguns desavisados de uma esquerda ingênua ou, talvez, domesticada. E isso não é de agora. Muito antes de existirem a internet e as redes sociais, essa arma já era usada contra a Revolução Cubana. A Rádio e TV Martí, que pertencem à máfia de Miami, por exemplo, surgiram na década de 60.

Eles escondem qualquer informação favorável e, sempre que têm oportunidade, soltam “notícias” totalmente distorcidas sobre a Ilha. Foi o que fizeram estes dias, em relação ao julgamento de participantes do autodenominado Movimento de San Isidro, por ações praticadas em 2019 e 2021.

Lembremos o que aconteceu: entre 15 de agosto e 5 de setembro de 2019, um dos líderes do grupo, Luis Manuel Otero Alcántara, que se declara artista plástico, divulgou fotos e vídeos de si mesmo utilizando a bandeira cubana como toalha, inclusive sentado em um vaso sanitário. Segundo a lei vigente em Cuba, isso constitui crime de ultraje aos símbolos da pátria.

Além disso, os membros do grupo cometeram várias ações, que também divulgaram por redes sociais, injuriando e difamando autoridades e instituições da Ilha e sujando bustos de José Martí com sangue de porco. Atacar autoridades, instituições e a imagem de heróis e mártires de Cuba também é penalizado pela lei.

Depois, em 4 de abril de 2021, eles armaram uma cilada para produzir um vídeo, que foi imediatamente divulgado pelas redes sociais e por canais “independentes” de Miami, tentando criar uma situação de violência policial, o que, aliás, não conseguiram. Estes são os fatos:

Naquele momento, aqui em Cuba, era obrigatório o uso de máscaras em locais públicos. Uma das participantes do grupo, Juslid Justiz Lazo, passou pela rua com o rosto desprotegido, bem ao lado de uma viatura. Quando o policial, sem nem descer do carro, alertou-a para que pusesse a máscara, outro membro do grupo, Maikel Castillo, foi em direção a ele e começou a gritar, pra formar confusão. Até tentou entrar na viatura, mas não conseguiu.

O policial saiu do carro e lhe pediu os documentos, que ele se recusou a entregar, dizendo que não tinha, e gritando mais ainda, pra aumentar o show. O policial tentou contê-lo e levá-lo pra viatura, e foi quando os outros entraram em cena. Rasgaram a farda dos dois policiais – porque aí também já estava o parceiro, afinal, eles andam em duplas é pra isso mesmo -, bateram nos agentes, tentaram roubar a arma, enfim, um espetáculo para as mídias. Tudo isso está registrado nos próprios vídeos que eles gravaram.

Nesta ação, eles praticaram os crimes de atentado, desacato, resistência e desordem, como estão descritos no Código Penal em vigor em Cuba e praticamente em qualquer país.

Em consequência, entre os dias 30 e 31 de maio deste ano, foram julgados pelo Tribunal Municipal Popular de Centro Habana, em Cuba, os acusados Luis Manuel Otero Alcántara, Maikel Castillo Pérez, Félix Roque Delgado, e as acusadas Juslid Justiz Lazo e Reina Sierra Duvergel, pelos crimes de atentado, desacato, resistência ante a autoridade, desordem pública, difamação das instituições e organizações e dos heróis e mártires, e ultraje aos símbolos da pátria. O primeiro e o terceiro foram condenados a cinco anos de privação de liberdade; o segundo, a nove anos; as duas últimas, a 3 anos, que poderão cumprir em liberdade, desde que não pratiquem outros atos ilegais nesse período. Todas essas sentenças então sujeitas a recurso.

O que eu descrevi são fatos comprovados com imagens publicadas pelos próprios acusados. Eles foram julgados por um tribunal legítimo, sem pressa – veja as datas dos fatos – e receberam as penas previstas no Código Penal em vigor. Tudo dentro dos ritos e prazos previstos. Como é óbvio, eles estavam conscientes do peso de seus atos e das consequências, porque a lei é pública.

Os grandes e poderosos meios de comunicação internacionais, entretanto, usaram esse julgamento para dizer que Cuba desrespeita os direitos humanos. Como sempre, eles invertem a lógica do direito, para fazer valer a interpretação que lhes interessa.

Neste caso, em que os fatos estão amplamente comprovados por imagens divulgadas pelos próprios autores, em que se cumpriram todos os passos para garantir amplo direito à defesa, em que se aplicaram estritamente os termos da lei; eles acusam de violação.

Vamos fazer uma comparação simples: nos julgamentos contra o Lula, em que não havia nenhuma prova, em que se violaram todos os princípios básicos do direito, a ação criminosa da mídia convenceu uma grande maioria de que ele era culpado. Ou outra: quando um membro do STF toma uma decisão totalmente arbitrária contra uma organização política como o PCO, suspendendo seus canais de comunicação e mídias, tentando amordaçá-lo e infringindo os seus direitos e os de todos os cidadãos que também têm direito a ter acesso a essa informação; até uma certa “esquerda” – como eu disse, ingênua ou domesticada – se confunde e apoia a ilegalidade.

Mas essas “notícias” sobre o julgamento, que também saíram no Brasil, têm um outro aspecto que provoca até asco em quem tem alguma ética: a hipocrisia dos meios de comunicação. Em bom brasileiro, os caras primeiro provocaram os policiais, depois resistiram à ordem de entrar na viatura, bateram nos agentes, rasgaram a farda, tentaram roubar uma arma… Imagine um jovem negro brasileiro fazendo isso! Ele nunca sairia vivo dessa experiência. Ou um jovem colombiano, ou chileno. O vídeo mostra que o policial cubano nem tirou o cassetete do cinto, não fez nenhum gesto violento. E a imprensa, que quer virar esse assunto pelo avesso, acusando Cuba, é a mesma imprensa que se calou e enriqueceu durante a ditadura, quando os jovens que lutavam pelos direitos do povo brasileiro eram sequestrados pelas forças de segurança na calada da noite, assassinados ou “desaparecidos”. É a mesma imprensa que se cala ante os homicídios diários praticados pelas PMs do Brasil.

Por outro lado, desde quando é importante, para a mídia internacional, um julgamento por delitos comuns em um tribunal municipal em Havana? Julgamento, aliás, que ainda está sujeito a recursos. A intenção é evidente. Trata-se de mais um lance no tabuleiro da guerra não convencional contra Cuba. Serve para justificar as ações contra a Ilha em organismos internacionais, com o pretexto de que aqui não se respeitam os direitos humanos. Serve, em última análise, para justificar o bloqueio norte-americano, esse crime que já dura mais de 60 anos e impõe escassez e inúmeras dificuldades cotidianas a quem vive na Ilha.

Neste caso, de novo, a grande imprensa burguesa simplesmente está servindo aos interesses do imperialismo. Como sempre!

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