Roraima, ainda em 2019, era o segundo estado brasileiro em número de escolas cívico-militares, com 18 escolas. Em primeiro lugar, estava Goiás, contando, na época, com 60 escolas seguindo o modelo de gestão que é uma das promessas de campanha de Bolsonaro. Após a sua posse, as escolas militarizadas se espalham e se fortalecem, e Roraima é um exemplo exímio disso.
O primeiro experimento com escolas militarizadas é de 2014, em Valparaíso/GO. A Escola Estadual Fernando Pessoa se transformou no Colégio da Polícia Militar de Goiás Fernando Pessoa. A diferença não está só no nome, mas em toda a estrutura da instituição educacional pública. A gestão federal também apoiou financeiramente o DF para que 40 escolas fossem militarizadas.
Atualmente, Roraima conta com 33 escolas com este tipo de gestão e administração educacional, 20 em Boa Vista e 13 no interior, além de uma escola e um colégio com educação totalmente militar. Esse tipo de projeto vem sendo implementado em Roraima desde 2016, ainda na administração anterior, de Suely Campos, do PP, mesmo partido do atual governador, Antônio Denarium, que já foi filiado ao PSL.
Reportagem da Agência Senado sobre as escolas militarizadas, publicada em 14/06/2019, descreve da seguinte forma o funcionamento das escolas que o governo federal pretende espalhar pelo Brasil:
“Nas escolas militarizadas (ou cívico-militares), o prédio, os professores e o currículo escolar continuam sendo do governo estadual ou da prefeitura, mas o diretor, a segurança e as regras internas de disciplina passam a ser da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros.”
Vejamos: o diretor, a segurança e as regras internas de disciplina passam a ser da Polícia ou dos Bombeiros. Em outras palavras, toda a dinâmica da unidade escolar fica fora de alcance para os gestores e educadores.
Segundo Josefa Matos, presidente do Sindicato dos trabalhadores em Educação de Roraima, SINTER, além de ficarem excluídos da gestão da unidade, os profissionais da educação de Roraima perdem também em seu contracheque:
“O Sinter tem uma posição, a gente não é a favor. O gestor está perdendo o seu espaço. Enquanto que um gestor de escola de grande porte ganha uma média de R $2 mil, um militar ganha de R $5 a 7 mil”, afirmou Josefa Matos.
O fato é que as escolas militares recebem como educadores e gestores elementos que pertencem aos quadros da reserva militar, tendo seus vencimentos pagos e que, ao trabalharem nas escolas, além de direcionar o comportamento e o pensamento dos alunos, também passam a acumular os salários da escola.
Os gestores regularmente contratados são humilhados com o mísero salário de 2 mil reais, para escolas grandes. Educadores, sindicatos de educadores, pais e alunos, colocam-se contra a medida que empobrece o ensino e a formação de cidadãos, transformando-os em instrumento de disciplina, patriotismo e civismo, oferecendo os conteúdos da Base Nacional Curricular atrelados a conteúdos baseados em obediência, hierarquia, padronização de respostas e comportamentos, como é comum em instituições militares de ensino ou treinamento.
Fora do contexto militar e se tornando um modelo de educação pública para todos os cidadãos, a militarização das escolas é um instrumento de controle e de desenho da sociedade em formação, ou seja, dos estudantes quando se formarem. Nesse sentido, é uma forma de acabar com o movimento estudantil, a ponta de lança de todas as mobilizações mais revolucionárias em toda a história do País.