No dia 24 de janeiro de 2022, o jovem congolês Moïse Kabagambe, que trabalhava num quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, foi brutalmente assassinado por 5 homens, que portavam pedaços de madeira e um taco de beisebol.
Segundo a Família, o caso todo foi motivado por racismo: Moïse e os demais Kabagambe vieram para o Brasil em 2014, fugindo de guerras e da fome. Moïse trabalhava por diárias em um quiosque na Barra da Tijuca. O responsável pelo quiosque estava devendo dois dias de pagamento e, ao ser cobrado por Moïse, foi encomendado seu espancamento até a morte. A gravação feita pela câmera de segurança do quiosque revela que as agressões duraram cerca de 15 minutos.
Ainda de acordo com familiares, o aviso da morte de Moïse foi dado quase 12 horas depois, com (a também revoltante) descoberta de que o corpo da vítima, no IML, estava sem órgãos – sem que tenha sido autorizada doação. Ou seja, em menos de 72h, Moïse havia sido dado como indigente.
Aumentando a revolta e alvoroço ao redor do racismo, dias depois, Durval Teófilo, homem negro, repositor de supermercado, pai de uma menina de 6 anos, foi assassinado a tiros por um vizinho (sargento da marinha), que o confundiu com um assaltante, em São Gonçalo.
Diante destes crimes injustificáveis, surgiram protestos antirracistas pelo país. Em Curitiba, acompanhados pelo vereador Renato Freitas (PT/PR), manifestantes realizaram um ato que culminou com a entrada em igreja (logo após a realização da missa). Freitas discursou sobre a história do racismo no Brasil, acusando a igreja de cumplicidade. Discussões entre fiéis e manifestantes foram ocorrendo, e aqueles fiéis mais conservadores classificaram o ato como “profanação religiosa”.
A princípio, os manifestantes foram repreendidos pela Arquidiocese de Curitiba, que enviou um comunicado dizendo que os líderes do protesto estavam estimulando comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
Após este comunicado, rapidamente o vereador Renato Freitas foi acusado de quebra de decoro (algo que pode evoluir para impeachment), apresentado por apoiadores (membros da coalização de direita governista) de Rafael Greca (Democratas), prefeito de Curitiba. E assim, um processo oficial contra Freitas foi instaurado.
Neste ínterim, a Arquidiocese decidiu posicionar-se a favor do vereador, enviando à Câmara Municipal uma carta, em que a legitimidade do movimento contra o racismo foi reconhecida. A igreja se posicionou ao lado de Freitas, dizendo que a luta contra o racismo está em concordata com as ideias do Evangelho.
Em encontro com o arcebispo José Antônio Peruzzo, Freitas pediu desculpas a todos os fiéis que tenham se sentido ofendidos com o ato naquele dia, explicando ser a Igreja do Rosário um tradicional local de encontro de negros em Curitiba: trata-se de um local de organização de cerimônias (tanto católicas como não católicas), vinculadas à história africana no Brasil.
Após estes acontecimentos, tendo selado a paz entre manifestantes e a arquidiocese, Freitas afirmou não haver motivo para o julgamento de impeachment.
Todavia, apesar da paz entre os envolvidos, em outra instância – no Conselho de Ética da Câmara de Curitiba, onde se desenrola o processo que apura conduta de Freitas, um dos relatores pediu a cassação de seu mandato. Como consequência, foi votada na última terça-feira (10 de maio) a cassação do mandato do vereador, sob a acusação de invasão da Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, perturbação da prática de culto religioso, e realização de ato político no interior da igreja.
Para que a cassação seja confirmada, é preciso o voto de 20 vereadores. A defesa tem até o dia 17 de maio para apresentar recurso na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Se cassado, Freitas torna-se inelegível por 10 anos.
O PCO abriu este espaço para denunciar a perseguição política que está ocorrendo com o vereador petista. Renato Freitas tem 37 anos, foi eleito vereador de Curitiba, pelo PT, com mais de 5 mil votos nas eleições de 2020, sendo o 16º candidato mais votado de Curitiba. Ainda que não se concorde com o seu modo de fazer política, é um total absurdo que um político tenha seu mandato cassado em nome da realização de um ato dentro de uma igreja, na qual a própria afirmou apoiá-lo!! Palavras encontradas no comunicado da Arquidiocese: “É possível perceber no ativismo do vereador o desejo de justiça para aqueles que historicamente sofreram discriminação em nosso país. É uma causa nobre e merece respeito”. (Fonte: https://www.renatofreitasjr.com.br/)
A perseguição a Freitas é um ataque político não somente ao vereador, mas a toda a esquerda, uma vez que pretende extirpar seu direito de ocupar um cargo público e de ser eleito a qualquer outra função, por um determinado período de tempo, sob uma acusação bizarra e arbitrária: a profanação da igreja e a perturbação de sua ordem! E tudo isso apenas por ter sido realizado um ato com uma das mais antigas bandeiras da esquerda erguida – a luta contra o racismo.
Se levado a cabo este tipo de processo – uma cassação, as mensagens que ficam para a esquerda são, no mínimo duas:
- Não se manifestem!
- Em caso de manifestação, deve-se seguir a “cartilha” da direita, para que todos se comportem da maneira aceitável, ao gosto dos direitistas da prefeitura de Curitiba ou da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Isto é, se este processo arbitrário tiver êxito, mais poder será dado aos direitistas no comando destas instâncias.
Destacamos também que, essa arbitrariedade também configura ataques ao PT e ao Lula, uma vez que dá margem a interpretações de que o futuro candidato possa desgostar ou desrespeitar a igreja católica e seus fiéis.