A Justiça do Trabalho decidiu ontem, 07, penhorar a marca do Náutico – isto é, pôr à venda o nome, o escudo e tudo mais que identifica hoje a equipe – para pagar uma dívida que o clube tem com um ex-atleta seu, o volante Jhonny.
A medida, além de completamente antidemocrática, não tem qualquer precedente jurídico. Mas, muito mais que isso, ela é um ataque a todo o futebol brasileiro e à cultura brasileira. Essa penhora – se ela realmente acontecer – representará a destruição total do Náutico, que é uma verdadeira paixão para milhares de pernambucanos.
Um clube tradicional, com bastante história em competições regionais e nacionais, simplesmente deixaria de existir por uma mera canetada da Justiça. O poder que o judiciário burguês tem de intervir na vida da população é um poder totalmente ditatorial, é tanto poder que ele é feito justamente para que se abuse dele.
O judiciário, que é formado por pessoas que não foram eleitas por ninguém, não deveria ter o direito de mandar e desmandar no país, nem sequer o direito de intervir no futebol. Afinal, como o judiciário sequer é eleito, ele é mais essencialmente atrelado aos interesses da burguesia – então, quando ele intervém no futebol, ele intervém para garantir os interesses da burguesia contra o esporte mais popular do mundo.
Uma manobra para possibilitar a SAF?
Uma das hipóteses que surgiu para explicar esta decisão completamente absurda é a de que ela teria o objetivo de tornar o Náutico um clube-empresa. Afinal, ao leiloar a marca do clube – seu escudo, sua identidade alvirrubra e seu nome –, a empresa que os comprasse teria o direito de usá-los.
Então, a empresa poderia criar um novo clube – um “novo Náutico”. Tratar-se-ia de uma manobra completamente antidemocrática e reacionária, uma manobra de destruição de um patrimônio cultural brasileiro para servir aos interesses de meia dúzia de empresários.
E, sempre que a Justiça intervém nos clubes, ela intervém com o objetivo de favorecer a SAF. Por exemplo, no Vasco, em que a Justiça interveio nas eleições do clube para garantir que o novo presidente fosse o presidente pró-SAF, ligado ao PSDB. Além disso, a Justiça também intervém, rotineiramente, para impedir torcidas organizadas das mais diversas equipes de entrar no estádio, aplicando uma punição mais absurda que a outra, apenas para afastar o povo do seu esporte.
O imperialismo ataca o nosso futebol
A burguesia tem medo de toda mobilização do povo – inclusive daquelas que ela pode controlar e muito mais daquelas que ela não pode controlar. Como é impossível para o imperialismo controlar totalmente as torcidas de futebol, que mobilizam grande parte do Brasil, o imperialismo ataca o futebol de conjunto e as torcidas organizadas em particular.
Além disso, o fato de a principal potência no esporte mais popular do mundo ser o Brasil, não os EUA, nem nenhum outro país imperialista, é algo que levanta a moral dos brasileiros e dos povos dos países atrasados.
Tanto pelo aspecto cultural, mas muito mais pelo aspecto concreto – ou seja, pelo papel de mobilização do povo que o futebol exerce – o imperialismo ataca o esporte no Brasil. A penhora do Náutico é apenas mais um exemplo disso, mais uma manifestação desta tendência de ataque à cultura nacional.