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Idealismo identitário

Mapa “decolonial”: é possível um “Brasil” antes do Brasil?

O que os identitários chamam de "decolonialismo" é uma ideologia que disfarça, detrás de uma suposta defesa dos índios, um ataque contra os países atrasados

A ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro pelo PT, Márcia Tiburi, repostou um tuíte com um “Mapa do Brasil com Topônimos em Tupi Antigo” publicado na conta de um professor e jornalista Pedro Aguiar.

Tiburi comentou o seguinte sobre o mapa: “ver esse mapa me encheu daquela alegria mágica que só o conhecimento produz”.

Mas qual seria esse conhecimento que dá “alegria mágica” a Marcia Tiburi? Há um mito do identitarismo de que o Brasil não existe, de que o Brasil seria uma terra dos índios. A ideia de uma nação brasileira, portanto, seria uma “construção colonial”, ignorando a existência das várias etnias indígenas existentes aqui antes da chegada dos portugueses. Nas palavras do jornalista que fez o tuíte é “mapa decolonial do Brasil”.

O mapa apresentado é bastante interessante, pois revela bem a incoerência da ideologia identitária. Ao dizer que o mapa é “decolonial”, ou seja, grosso modo um mapa que vai contra o que foi estabelecido a partir da chegada dos portugueses, o próprio ponto de partida acaba por desmentir a ideia.

Isso porque se tomou como ponto de partida a própria ideia territorial do Brasil atual, ou seja, o Brasil construído após a chegada de Cabral e posteriormente a intervenção do bandeirantismo, que fez com que as fronteiras do País se alargassem enormemente. Para nós, não há nenhum problema nisso, afinal, entendemos que a própria ideia de Brasil está fundada nesse território.

Mas do ponto de visto do identitarismo ou do “decolonialismo” como querem os autores do mapa, a ideia é absolutamente contraditória e mais, ela comprova a impossibilidade de constituir um “Brasil” que não seja o que foi conquistado a partir da chegada dos portugueses.

O “decolonialismo” não é nada mais do que uma palavra que não representa nenhuma política concreta.

Se os “decolonialistas” fossem coerentes, teriam que pregar abertamente, por exemplo, a extinção do Brasil, não apenas enquanto território, mas também culturalmente e socialmente. A própria sociedade brasileira deveria ser extinta.

Colocar nomes em tupi antigo nas cidades atuais está muito longe de ser um rompimento do colonialismo. O colonialismo que eles querem combater não existe mais a não ser como resquício cultural e social que foi já há muito incorporado na sociedade brasileira. O Brasil de hoje é um produto disso, inclusive com a contribuição dos indígenas, negros e europeus. Para serem coerentes, os identitários deveriam propor a dissolução do Brasil e aí, o dilema: nada poderia ser mais colonial do que essa ideia, porque seria propor a extinção de um país oprimido e quem mais poderia se beneficiar com isso do que o colonialismo moderno?

O colonialismo moderno, ou seja, o imperialismo é quem mais gostaria de ver o fim de um País do tamanho do Brasil. Não por coincidência, a ideologia do “decolonialismo” vem importada justamente dos países imperialistas.

Não que seja essa, necessariamente, a intenção de Marcia Tiburi e de Pedro Aguiar. Mas devemos dizer claramente que a ideia de um Brasil que existia antes dos portugueses é falsa. Assim como é errada a ideia de que deveríamos negar o Brasil como conhecemos em nome deste ente abstrato que existiria antes aqui.

Não há nenhum problema em homenagear a cultura e comunidades indígenas, tão importantes para a própria constituição da sociedade brasileira atual. Mas a ideia de que descolonizar o Brasil seria voltarmos ao tempo dos índios é absurda e destrutiva. Destrutiva pelos motivos que explicamos acima e absurda porque é simplesmente impraticável, impossível de acontecer.

A própria ideia de comunidades indígenas que viviam nesse território harmoniosamente e que foram dizimadas pelos portugueses como se estes fossem nazistas do século XVI é, se usarmos o termo dos identitários, uma ideia colonizada e eurocêntrica dos índios.

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