Já no final de 2021, a burguesia já começava a organizar o golpe contra o carnaval popular no país. Na ocasião, com a falsa e falaciosa fala do risco da contaminação pela variação ômicron do coronavírus. O Brasil contava então com 67,5% de sua população vacinada. Isto é, dois a cada três brasileiros estavam imunizados. E o número de mortos pelo coronavírus, que já havia chegado a mais de 4,2 mil em um único dia, estava na casa das dezenas, a nível nacional.
Apesar de muito reduzidos, os números da contaminação ainda eram macabros — afinal, a crise sanitária continuava e continua tirando vidas. Assim, pareceria razoável dizer que, enquanto o coronavírus estivesse matando, não seria prudente realizar o carnaval. Mas não era esse o problema para realização do Carnaval, do ponto de vista da burguesia. Até porque em janeiro, as máscaras já eram utilizadas, como mera formalidade, em muitos locais como supermercados, repartições públicas, como nas escolas públicas, onde as aulas voltaram ao “normal”, desde o fim do ano anterior, também nos bancos, que são locais de grandes aglomerações, até mesmo os trabalhadores dos grupos de risco foram obrigados a voltar para o trabalho presencial. O transporte público, que foi, durante a pandemia, um dos principais meios de contágio, continua ainda mais lotado. As praias estão liberadas, os centros de compra estão liberados, as igrejas estão liberadas, as crianças e adolescentes nas escolas públicas e privadas já não usavam máscaras e, mais recentemente, até os estádios de futebol foram completamente liberados. Então por que só o Carnaval foi proibido?
Como este Diário já há tempos denunciou, o cancelamento do Carnaval serviu para controlar a ebulição popular contra o governo Jair Bolsonaro e a direita no país.
O carnaval de rua, em especial em cidades como Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Olinda e Recife, demanda um gasto astronômico por parte do Poder Público. Há muito, os capitalistas vêm pressionando para reduzir os investimentos no carnaval. Antes da pandemia, inclusive, várias cidades já haviam cancelado o carnaval alegando problemas nos cofres públicos. Foi o caso, já em 2019 na cidade de Santo André, com o cancelamento pelo prefeito psdebista, Paulo Serra, do carnaval de rua, com as escolas de samba, cacelamento que já dura 3 anos.
Poucas coisas são tão populares, apelam tanto às massas, quanto o carnaval. É o momento em que o povo sofrido, que comeu o pão que o diabo amassou com a direita golpista durante o ano, esquece um pouco a vida dura e cai na folia. É, portanto, uma manifestação popular, um momento importante na cultura do povo brasileiro. O que a direita queria fazer — além de mentir, ao dizer que era a pandemia, ou que não tinha dinheiro — era passar por cima de um direito elementar: o da livre manifestação. Queria encontrar um pretexto para impedir que o povo se manifestasse das mais variadas maneiras, como é tradicional ao povo carnavalesco do Brasil que debocha, ridiculariza e extravasa contra os seus exploradores. O carnaval, ao contrário do que possa se pensar, é uma festa altamente politizada — tanto é assim que o carnaval de 2019 foi o maior ensaio para o grito de “Fora Bolsonaro”, quando as massas começaram a gritar “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”.
Depois de conseguirem dar o golpe no povo país afora com o cancelamento do Carnaval, agora chega o mês de abril, e os governos de grandes estados e cidades como São Paulo e Rio de Janeiro continuam em sua política de acabar com o Carnaval de rua e ampliar as festas da burguesia e da classe média nos grandes salões da elite.
O chamado “carnabril” terá centenas de opções pagas e pouquíssimas gratuitas. São Paulo e Rio estão com mais de uma centena de festas, festivais e shows temáticos da folia, liderados por blocos populares e produtoras.
Procurando de certa forma romper as amarras da direita, há uma movimentação de parte dos blocos para que ocorram desfiles nas ruas. A situação foi discutida na sexta-feira, 8, em uma reunião de blocos paulistanos com a Prefeitura de São Paulo e em uma plenária de integrantes de uma organização de agremiações do Rio. Os direitistas governos municipais têm respondido, com grande cara de pau, que não haveria tempo hábil para a preparação de um evento deste porte, ainda mais sem patrocínio.
As poucas opções gratuitas ocorrerão em festivais que ocorreram no entorno do Parque do Ibirapuera e no Vale do Anhangabaú, com o Acadêmicos do Baixo Augusta, a cantora Elba Ramalho e outras atrações. Já os pagos têm valores a partir R$ 20, mas que podem passar de R$ 1,1 mil, como no camarote de um festival inspirado no carnaval de Salvador, que contará com Daniela Mercury, Chiclete com Banana, Timbalada e outros no estádio do Corinthians.
Em São Paulo, organizadores do carnaval, confirmando o caráter burguês do evento, não se intimidaram em dizer que o Carnaval em abril será: “Praticamente um show privado. Igual um Lollapalooza, um show como outro qualquer. Por nós sermos bloco de carnaval, acaba caindo nessa coisa do carnaval.”